Terceira denúncia seria 'querer pular fogueira com gasolina amarrada no cinto', diz Marun

Ministro-chefe da Secretaria de Governo diz não se arrepender das decisões tomadas na gestão e afirmou estar desiludido com a política

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Por Julia Lindner e Anne Warth
Atualização:

BRASÍLIA - O ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Marun, considera que a apresentação de uma terceira denúncia contra o presidente Michel Temer ainda este ano seria "querer pular fogueira com gasolina amarrada no cinto". Mesmo com rejeição de 79% da população à gestão Michel Temer, de acordo com a pesquisa CNI/Ibope, Marun não se arrepende das decisões tomadas pelo governo e diz que não faria nada diferente, pelo contrário.

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"Não tenho a mínima dúvida de que ele (Temer) seria a melhor pessoa para continuar presidindo o país. Ele seria o meu candidato e eu votaria nele porque ele soma uma série de qualidades que são difíceis de de encontrar numa pessoa. Meirelles tem todas as qualidades na área econômica, mas tem dificuldades na área política", afirmou Marun sobre o ex-ministro, pré-candidato à Presidência pelo MDB.

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Licenciado do mandato de deputado federal, Marun optou por continuar no governo até o final do ano e, com isso, não poderá disputar reeleição. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, conta que está desiludido com a política. O cargo de ministro também o impede de visitar um antigo aliado, o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MBD-RJ), preso desde outubro de 2016, com quem diz não manter mais contato. "Se eu fosse deputado, eu iria."

A seguir, trechos da entrevista:

Estadão/Broadcast - O mercado já dá sinais de que nada mais deve acontecer nos próximos seis meses de governo. O senhor concorda?

Carlos Marun - E nós ainda temos eleição, para você ver, e uma eleição cujo líder nas pesquisas está condenado em segunda instância e preso. Então nós não temos o direito de agir de forma diferente da que estamos agindo, buscar, lutar para que coisas positivas ainda aconteçam.

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Esperamos aprovar cessão onerosa e a privatização das distribuidores da Eletrobras. Até porque foi um trabalho hercúleo chegar até aqui com as conquistas que tivemos. Vi a questão da aprovação baixíssima do presidente Michel Temer e aí, pergunto, o que esse governo fez de errado?

Carlos Marun, ministro da Secretaria de Governo de Michel Temer. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Estadão/Broadcast - O que o senhor acha?

Marun - Não consigo ver algo que eu faria diferente do que nós fizemos. Será que foi um erro estabelecer um teto para os gastos públicos ou deveríamos continuar com a farra do 'gasta e depois aumenta impostos'? Será que foi erro fazer reforma trabalhista ou Brasil deveria continuar sendo a meca da indústria das ações trabalhistas? Será que foi erro atuar no sentido de que a inflação caísse para 2,5%? Não consigo ver onde governo errou. Na greve dos caminhoneiros? Onde errou?

Estadão/Broadcast - Não demorou muito para solucionar a greve?

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Marun - Diante da magnitude da crise nós fomos até muito bem. Sabemos que tabelamento de frete era uma medida excepcional, que regula o mercado num momento em que o crescimento não seguiu nossa receita, mas momentos excepcionais exigem medidas excepcionais.

Era um movimento aprovado por 90% das pessoas.  O governo apresentou uma receita à Nação, essa receita não foi seguida, essa receita vinha sendo seguida até a reforma da Previdência, mas ali (com a não aprovação da reforma) foi um break, ali foi um momento onde se estabeleceu uma inflexão. 

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Estadão/Broadcast - O senhor não acha que os quase 90% que desaprovam o presidente também apoiaram a greve dos caminhoneiros?

Marun - Talvez tenha havido uma confusão e muitas pessoas não viram as consequências.

Estadão/Broadcast - A baixa popularidade do presidente não ocorreu por causa das denúncias contra ele?

Marun - Essas denúncias não derrubaram o presidente, como pretendiam, mas realmente nos trazem prejuízos imensos, inclusive com a dificuldade da população em reconhecer os enormes avanços acontecidos durante o governo. Essa chuva de flechas envenenadas trouxeram prejuízos para nós e para o País. Cada vez está mais claro, com reconhecimento inclusive do Judiciário, de que se tratava de uma armação. 

Está aqui o (Marcelo) Miller sendo investigado por ter cobrado indevidamente para ter êxito na delação (da JBS), esse êxito foi concedido, e não foi pelo Miller. Acho que essa investigação tem que se aprofundar, mas, enquanto isso, temos prejuízos constantes. Como vazamentos, um inquérito dos portos que não tem pé nem cabeça, um desperdício de dinheiro público, uma perseguição disfarçada de inquérito, e que nos prejudica. 

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Estadão/Broadcast - O inquérito dos portos não tem fundamento na visão do senhor?

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Marun - Esse inquérito dos portos, que existe para investigar uma situação eventualmente ocorrida durante o mandato, já está em 1990 e não consegue. Isso é um total absurdo, porque a Constituição é clara, o presidente não poderia nem sequer ser investigado por isso. Quando se desrespeita a Constituição, se cria uma situação que hoje prejudica o governo. Ah, 'estão causando constrangimento ao presidente', 'estão causando dificuldades ao governo'? Estão. Mas estão prejudicando também o Brasil. 

Estadão/Broadcast - Acha que tem chance de ser apresentada uma terceira denúncia contra o presidente Temer este ano?

Marun - Não vai ter terceira denúncia, não existe como, não consigo trabalhar com essa hipótese. Não é possível que num momento como esse em que existe absoluto tensionamento, que se venha com algo absolutamente contrário à Constituição. Poderes não tem direito de serem inconsequentes. Se tiver alguma coisa para investigar o presidente depois do mandato, que investiguem, mas dentro do devido processo legal. Não consigo acreditar que vai se querer pular fogueira com gasolina amarrada no cinto.

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Estadão/Broadcast - Mas, caso aconteça, seria prejudicial para um eventual candidato do MDB à Presidência?

Marun - O MDB, ao que tudo indica vai ter candidato, porque ninguém está falando numa real união de centro. E vamos com nosso candidato. Nós chamamos o Meirelles, "chame o Meirelles", e ele veio. E nesse deserto de votos que é hoje a situação dos candidatos do bom senso, porque eu divido os candidatos entre os que têm bom senso e os que são do atraso e lideram as pesquisas, no lado do bom senso temos por enquanto um deserto de voto. Daqui a pouco, um pequeno oásis já coloca alguém no segundo turno.

Estadão/Broadcast - Meirelles não se saiu muito bem na pesquisa CNI/Ibope e conseguiu apenas 1% dos votos no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva?

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Marun - No Brasil é interessante essa questão de pesquisa. Eu pergunto 'o que nós fizemos de errado?' e ninguém diz, mas são contra o presidente. 'O que você acha da Lava Jato? Sou a favor da Lava Jato', e quem é o primeiro das pesquisas? Um condenado em segunda instância. É uma situação que a gente tem dificuldade...

Estadão/Broadcast - O presidente Temer se ressente disso tudo?

Marun - É óbvio que existem situações que devem preocupá-lo de forma mais forte, mas ele tem espírito excepcional, ele mantém lucidez nas suas decisões, é ele quem decide na maior parte das decisões. Na crise dos caminhoneiros ele ficou aqui dentro conosco. Não tenho a mínima dúvida de que ele seria a melhor pessoa para continuar presidindo o País.

Ele seria o meu candidato e eu votaria nele porque ele soma uma série de qualidades que é difícil de encontrar numa pessoa. Meirelles tem todas as qualidades na área econômica, mas tem dificuldades na área política.

Estadão/Broadcast - O senhor não deixou o cargo de ministro e, com isso, não vai poder disputar as eleições. Quais são seus planos para o próximo?

Marun - Vou tirar férias de no mínimo 30 dias. Sou engenheiro civil, sou advogado, nunca fiquei um dia sem trabalhar, sem ter o que fazer. A política está muito difícil. Primeiro, querem te obrigar a ser ofendido sem reagir. Hoje, para ser político tem que abrir mão do brio. Isso não tem a ver com a minha pessoa.

Se alguém me agride, tem que saber que pode ser agredido. Queremos políticos diet? Parece que é isso que as pessoas querem e não é meu caso. Eu tenho que reavaliar. Não sei se é justo a gente submeter a nossa família aos constrangimentos e a gente tem que ficar quieto. Esses dias um homem me chamou de ladrão, eu falei que ladrão era a progenitora dele, agora a progenitora está me processando, veja bem.

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Estadão/Broadcast - Tem mantido contato com o ex-deputado Eduardo Cunha?

Marun - Não mais. Nunca mais. Poderia até visitá-lo no final do ano passado, no Natal, como faria se fosse deputado, mas, a partir do momento em que virei ministro, eu seria vítima dos meus adversários pelo governo. Se eu fosse deputado eu iria. 

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