Supremo não está preocupado com a liberdade de gente de bem, diz general alvo de inquérito

Paulo Chagas, que teve laptop apreendido pela PF, afirma que faz críticas ao desempenho dos ministros e não à Corte

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Por Marcelo Godoy
Atualização:

Candidato a governador do Distrito Federal em 2018 e ex-presidente do grupo Terrorismo Nunca Mais, fundado pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o general de brigada Paulo Chagas foi alvo de uma busca e apreensão determinada pelo Supremo Tribunal Federal. “Eu disse a eles que a Corte não estava preocupada com a liberdade de gente de bem.”

General de brigadaPaulo Chagas foi alvo de uma busca e apreensão determinada pelo Supremo Tribunal Federal Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Chagas é um ativo usuário de redes sociais como Twitter e Facebook, onde posta mensagens polêmicas, como a que pregava uma “limpeza no STF”. Quando o então comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, tuitou às vésperas do julgamento do habeas corpus de Luiz Inácio Lula da Silva em abril de 2018 contra a impunidade, Chagas respondeu ao amigo: “Tenho a espada ao lado, a sela equipada, o cavalo trabalhado e aguardo suas ordens!!”

Neste ano, ele chegou a ser suspenso do Twitter e foi obrigado a cancelar dois posts – um contra o deputado federal Zeca Dirceu (PT) e outro contra o humorista Gregório Duvivier em que ele os ofendia. Ao saber da busca em sua casa, foi ao Twitter dizer em tom irônico: “Caros amigos, acabo de ser honrado com a visita da Polícia Federal em minha residência, com mandato de busca e apreensão expedido por ninguém menos do que ministro Alexandre de Moraes. Quanta honra! Lamentei estar fora de Brasília e não poder recebê-los pessoalmente.” Leia os principais trechos da entrevista:

General, na segunda, a ação foi contra o site Antagonista e a revista Crusoé, nesta terça-feira, contra o senhor. Como o senhor vê essas ações do Supremo?

Isso não me preocupa. Isso não é problema meu; tem de preocupar quem se sente atingido. Eu tenho consciência do que estou fazendo, que é uma crítica ao desempenho dos ministros da Suprema Corte. Não faço críticas à Corte. Eu considero que a Corte é um instrumento da democracia. Sem ela, não temos democracia. São três Poderes e o terceiro é a Corte. Mas assim como nós tínhamos um presidente Lula da Silva, que agora está preso, um cara que estava exercendo esse poder de forma indevida, da mesma forma eu estou olhando hoje para o Supremo, com 11 juízes, cujo resultado do trabalho não me traz segurança jurídica como cidadão. O que eu vejo uma hora é uma coisa... e uma coisa que fica evidente é a preocupação com a impunidade. Falam em preocupação com a liberdade, mas eu pergunto, como uma mensagem ao ministro Toffoli: pode conceder liberdade para quem? Para corrupto, para bandido, para ladrão, para estuprador? Para quem é a liberdade? Para o cidadão de bem é que não é. Eu não tenho problema com a Justiça, com a Justiça preocupada com a liberdade. Liberdade de quem? De quem está devendo para a Justiça? É o que me parece. Eu como cidadão penso assim.

O senhor não se preocupa então?

Preocupo-me não por mim; ao mesmo tempo fico feliz de ver o que eu estou falando, escrevendo está preocupando a eles. Ou seja, ou eu estou completamente enganado ou estou certo. Tomara que eu esteja enganado. Eu acredito que não estou.

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O senhor poderia me descrever como foi a ação em sua casa?

Só levaram um laptop, aliás, só tenho um mesmo. Levaram todos os laptops que eu tenho. Entre chegarem e saírem, demorou 40 minutos. Eu não estava em casa. A minha filha que estava em casa, ela mora em São Paulo e por acaso estava em casa. Ela que os recebeu e me ligou: “Pai, a Polícia Federal está aqui em casa com mandado”. Falei com o delegado e disse: “O senhor fique à vontade, veja o que o senhor pode ver em minha casa”. Um troço ridículo. Por que ver o quê na minha casa? O que está pegando contra mim, segundo eles, é o que eu publiquei. Não o que não publiquei. Qual o problema do que eu não publiquei, do que eu não tornei público? Meu pensamento está nas redes sociais, está no Twitter, no Facebook, no meu blog. Vão lá e vejam. Eu tornei público. O que não tornei público é um problema pessoal.

O senhor acha que a proximidade do senhor com o presidente Jair Bolsonaro pode ter influenciado a decisão de realizar as buscas?

Olha, se foi, é um tiro no pé, pois desde que terminou a eleição não tive nenhum contato com o presidente, não faço parte do governo, não tenho e por uma questão minha e de formação não vou procurar o presidente. Ele tem mais o que fazer do que ficar atendendo amigos para bater papo. O presidente da República fica 24 horas por 24 horas, 365 dias por ano à disposição da sociedade trabalhando, não tem hora para bater papo.

Mas o general Rocha Paiva, que é seu amigo, faz parte de uma comissão no governo..

Sim, está fazendo parte sim.

Ou seja de certa forma existe uma proximidade entre pessoas próximas do senhor e pessoas do governo. Certo. Não é porque se ocupa um cargo no Executivo que se apaga o passado. O senhor acha que as ações miram a rede de apoio ao governo?

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Se eu disser que o objetivo era atingir o presidente e meus amigos, eu estaria depreciando a minha obra. Acho que isso tudo tem a ver comigo mesmo. Não vejo como uma maneira de atingi-los, pois nunca pretendi ter esse tipo de influência no governo. Inclusive desfiliei-me do PRP, hoje Patriotas, e não me filiei a partido nenhum. Meu partido é o Brasil como todo e qualquer soldado.

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