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Sistema para denunciar disparo em massa no WhatsApp deve ter impacto pequeno; leia análise

Apenas uma minoria engajada vai se dar ao trabalho de procurar no site do TSE o formulário para encaminhar a denúncia

Por Daniel Bramatti
Atualização:

É positivo o anúncio de que o WhatsApp vai reeditar uma parceria com o Tribunal Superior Eleitoral para permitir que usuários denunciem supostos disparos em massa de mensagens. Se isso existisse em 2018, talvez ficassem mais evidentes já na época os mecanismos usados para destruir reputações, espalhar desinformação e tentar influenciar o resultado da disputa presidencial de então. 

A medida, porém, deve ter mais efeito simbólico do que prático em 2022. Para um usuário médio do WhatsApp, não é uma tarefa simples identificar uma mensagem que possa ter sido enviada de forma automatizada, principalmente se ela for repassada por alguém que está em sua lista de contatos. Além disso, apenas uma minoria engajada vai se dar ao trabalho de procurar no site do TSE o formulário para encaminhar a denúncia. E estamos falando da minoria da minoria—o mais provável é que uma parcela ínfima dos eleitores fique sabendo dessa opção.

WhatsApp vai permitir que usuários encaminhem denúncia sobre disparos em massana plataforma. Foto: REUTERS/Dado Ruvic/File Photo

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Isso não é necessariamente um problema, já que o próprio WhatsApp afirma ter mencanismos poderosos de detecção de comportamento automatizado e de exclusão de contas. Disparos em massa ocorrem quando alguém burla os termos de serviço da plataforma para, com o uso de softwares de terceiros, encaminhar mensagens para um número significativo de usuários. Quando isso acontece em um contexto eleitoral, trata-se de propaganda clandestina.

O WhatsApp já admitiu que, na campanha presidencial de 2018, “empresas mandaram mensagens em grandes quantidades e violaram nossos termos de serviço para chegar a públicos maiores”. A empresa, porém, afirma ter aperfeiçoado seus sistemas de inteligência artificial para evitar que o problema se repita.

A descrição desses sistemas foi feita em um paper publicado em 2019. Mesmo sem ter acesso ao conteúdo das mensagens, que são criptografadas e só podem ser lidas por emissor e receptor, o WhatsApp consegue detectar sinais de automatização de envio de conteúdo. Quando isso acontece, a conta é excluída. Há três anos, isso permitia a eliminação de cerca de 2 milhões de contas suspeitas por mês.

A parceria entre TSE e WhatsApp para permitir que usuários denunciem mensagenssuspeitas foi testada na eleição municipal de 2020. Na época, o resultado foi pífio. Apenas 1.042 números de celulares denunciados foram banidos do WhatsApp—sendo que dois em cada três já haviam sido detectados pela vigilância da plataforma, ou seja, as contas seriam excluídas mesmo sem o engajamento dos eleitores. 

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