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PSDB suspende prévias após aplicativo de votação falhar

Problema motivou troca de acusações entre campanhas dos governadores João Doria e Eduardo Leite; nova data ainda não está definida

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Foto do author Eduardo Gayer
Por Eduardo Gayer , e Marcelo de Moraes
Atualização:

BRASÍLIA – O PSDB  decidiu suspender, por prazo indefinido, a conclusão das inéditas prévias para a escolha de quem será o candidato do partido à Presidência em 2022. O aplicativo de celular desenvolvido para que os filiados votassem apresentou falhas, o que impossibilitou a escolha de um dos nomes na disputa neste domingo, 21. Segundo o Estadão/Broadcast apurou, apenas 8% dos mais de 44 mil tucanos que se cadastraram conseguiram votar. O problema motivou acusações de fraude entre aliados dos principais adversários, os governadores Eduardo Leite (RS) e João Doria (SP). 

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"O processo de votação em aplicativo encontra-se pausado em razão de questões de infraestrutura técnica, que não comportou a demanda dos votantes das prévias. Os votos registrados neste domingo estão preservados e o PSDB está definindo, junto com os candidatos, em que momento o processo será retomado", informou o partido, por meio de nota, no fim da tarde deste domingo.

A votação remota das prévias tucanas foi marcada neste domingo por instabilidade no aplicativo desde o início da votação, às 8h. Tucanos de peso como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Aloysio Nunes, por exemplo, não conseguiram votar. Os votos presenciais, depositados hoje em urnas eletrônicas no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, por sua vez, foram computados, mas o resultado só será revelado ao final do processo de votação, diz o PSDB. 

“Os votos registrados neste domingo estão preservados e o PSDB está definindo, junto com os candidatos, em que momento o processo será retomado”, afirma a legenda, em nota. “O PSDB definirá nova data para reabertura do processo de votação para que todos os filiados que não puderam votar neste domingo possam, com tranquilidade e segurança, registrar o seu voto e concluir a escolha do nosso candidato às eleições presidenciais de 2022”. 

De acordo com o comunicado oficial do PSDB, o processo de votação em aplicativo está pausado por questões técnicas, porque a plataforma não teria comportado a demanda. “A integridade e a segurança do sistema estão totalmente preservadas”, esclarece a sigla. “Todos os votos registrados desde a abertura da votação neste domingo estão válidos e serão computados”.

A decisão de suspender a votação sem o resultado foi tomada após reunião na sede da legenda, em Brasília, com a presença do presidente tucano, Bruno Araújo, e os três candidatos. Além de Leite e Doria, o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, outro nome na disputa da indicação do partido, participou do encontro. 

Falha no aplicativo de votação acentuou divisão no PSDB; Eduardo Leite (à dir.) endossou pedido de investigação pela Polícia Federal sobre suposto crime cibernético. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Nos bastidores, apoiadores de Doria acusam a campanha de Leite de querer adiar as prévias para ganhar no tapetão. Aliados do governador de São Paulo chegaram a dizer até mesmo que adeptos da candidatura de Leite tentam “melar” o processo, com o adiamento das prévias, porque vislumbraram a derrota iminente. A troca de acusações também invadiu as redes sociais. Nos grupos de mensagens do partido, tucanos pedem a renúncia de Bruno Araújo (PSDB), presidente da legenda, por causa do fiasco na votação de hoje.

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Antes da reunião, pelo Twitter, Doria defendeu a “lisura” das prévias. “Nossa posição é clara. Queremos prévias, lisura e que todos os filiados cadastrados tenham direito garantido ao voto!”, postou.

Doria e Virgílio se uniram em contraposição ao grupo de Leite sobre a necessidade de adiar as prévias. Em nota conjunta, defendem a retomada da votação no próximo domingo, dia 28. "É urgente retomar o processo de escolha do candidato em respeito aos filiados tucanos e o seu direito de votar", diz o texto.

Questionado pelo Estadão, Leite disse ser contrário ao adiamento. "Não defendo adiamento. Quero que resolva o quanto antes", disse ele.

Eduardo Leite afirmou que 'convenção é soberana', lançando dúvida sobre pré-candidatura de João Doria. Foto: Dida Sampaio/Estadão

O aplicativo de votação remota apresentou lentidão desde o início do dia, quando a votação foi aberta, às 8h. Preocupados, os dois principais candidatos das prévias, Leite e Doria, chegaram a pedir a seus apoiadores que não desistissem de participar da eleição interna. Antes de suspender as prévias, o partido decidiu estender das 17 horas para as 18 horas o horário limite para a votação remota dos filiados nas prévias do partido, na esperança de que o problema pudesse ser sanado, o que não ocorreu.

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Uso de aplicativo provocou divergências nas campanhas

O uso da plataforma de votação remota, que custou cerca de R$ 1,3 milhão ao partido, causou divergências entre as campanhas de Leite e Doria na última semana. Dos 600 mil filiados ao PSDB no País todo, porém, apenas 44,6 mil se cadastraram para escolher o candidato tucano em 2022. Mesmo assim, poucos conseguiram votar neste domingo.

Em reunião na terça-feira, 16, tucanos expuseram dúvidas em relação ao app. O deputado federal Jutahy Júnior (BA), que é aliado de Leite, pediu o adiamento da votação diante de coordenadores da campanha de Doria, que reagiram. Segundo afirmou Jutahy, as prévias não poderiam ocorrer diante de falhas no aplicativo, que foi desenvolvido especialmente para o processo pela Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurg).

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Desde que a plataforma foi lançada surgiram reclamações relacionadas a seu funcionamento. O Estadão mostrou no início do mês que, segundo o presidente do PSDB paulistano, Fernando Alfredo, muitos filiados não estavam conseguindo baixar o aplicativo por terem celulares antigos, sem memória ou mesmo por não terem pacotes dados suficientes. Existem ainda casos de pessoas que não têm familiaridade com esse tipo de tecnologia ou que tentaram fazer o cadastramento, mas não conseguiram por motivos técnicos.

Na avaliação de Leite, o candidato escolhido pelo partido para disputar o Palácio do Planalto em 2022 precisa ter a “legitimidade de votação maciça”. Doria, por sua vez, afirmou que a questão precisa ser esclarecida pela direção nacional do PSDB. “Você dificultar acesso a alguém que quer fazer valer seu voto não é processo adequado. Espero que isso seja corrigido. Cada voto conta”, declarou o paulista.

Auditório onde ocorrem prévias do PSDB, em Brasília. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Resultado vai influenciar definições do centro político em 2022

O resultado das prévias do partido, nas quais disputam efetivamente os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), deverá influenciar no processo de concentração ou expansão de outras pré-candidaturas colocadas no chamado centro político.

Após dois meses de campanha oficial, os concorrentes tucanos – incluindo Arthur Virgílio (AM), ex-senador e ex-prefeito de Manaus – ainda são vistos com ceticismo pelos partidos e lideranças que buscam alternativas eleitorais à polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder das pesquisas de intenção de voto, e o atual presidente Jair Bolsonaro.

Tanto Doria quanto Leite afirmam que estão abertos a uma aliança que não tenha necessariamente o candidato tucano como cabeça de chapa, mas o primeiro passo concreto nesse sentido vai ocorrer nos dias seguintes à divulgação do resultado. O vencedor das prévias deve fazer gestos no sentido de união das forças de centro.

Problema foi relatado desde a manhã

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O diretório do PSDB em São Paulo informou por volta das 12h que havia instabilidade no aplicativo desde as 8h. Segundo o comunicado, até aquele horário eram 4h30 em que filiados não conseguiam votar. "Somente em São Paulo são cerca de 26 mil (62% do total) credenciados que, neste momento, não conseguem acesso ao voto", afirmaram em nota o presidente do PSDB paulista, Marco Vinholi, e o presidente do partido na Capital, Fernando Alfredo.

Em nota à imprensa, o presidente do diretório mineiro do PSDB,  Paulo Abi-Ackel, informou que o partido recebe relatos de problemas no aplicativo desde as 8h deste domingo. “O que se confirmou é bem mais do que uma instabilidade, mas uma dimensão inviabilizadora do legítimo direito ao voto”, escreveu. 

“Não consigo sair da fase de autentificação. Aparece que não estou conectado à internet, sendo que estou”, relata o filiado Ícaro Vieira, de 25 anos. “Eu tenho que colocar meu título, tirar uma selfie e validar. Essa validação demora muitos minutos. Depois, o aplicativo me redireciona para a tela em que tenho de colocar o título de eleitor novamente. E assim eu fico várias horas.”

Usuários são redirecionados repetidas vezes à tela de login, na qual devem preencher o título de eleitor; depois, na fase de reconhecimento facial, aplicativo exibe mensagem informando que o aparelho não está conectado à internet, mesmo que ele esteja. Na foto,Edson Luis Lau Filho, representante do diretorio do PSDB de Curitiba. Foto: DIda Sampaio/Estadão

Para garantir o maior número de adesões, o diretório do PSDB da capital, que está fechado com Doria, montou um mutirão com 20 voluntários para orientar as pessoas sobre como utilizar o aplicativo ao longo do final de semana. Cerca de 70 pessoas participaram do trabalho. A campanha de Leite fez o mesmo, oferecendo uma estrutura de apoio para quem tinha dificuldades em acessar o sistema.

O PSDB reforça que o aplicativo é seguro. De acordo com a executiva nacional, houve um processo de aperfeiçoamento realizado nos últimos 20 dias, quando foram identificados 43 ataques a perfis tucanos cadastrados no período.

A Faurgs também se manifestou dizendo que “está investigando todas as possíveis causas da instabilidade verificada no aplicativo das prévias do PSDB”.  “Desde que os primeiros relatos foram informados, os esforços dos técnicos da instituição estão em descobrir a causa da lentidão do sistema. Assim que houver total comprovação, o detalhamento desse ocorrido será levado a público. Ao contrário do que foi especulado, os problemas não têm qualquer relação com a compra de licenças para suportar o reconhecimento facial dos filiados. Tanto é que o mesmo número de certificados permitiu o cadastramento bem-sucedido dos mais de 44 mil eleitores”, disse a Faurgs em nota.

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