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Pastor ‘desafia’ fiéis a assinarem apoio a partido de Bolsonaro, em meio a culto

Reverendo Emerson Patriota, da Igreja Presbiteriana Central de Londrina, usou o púlpito para pedir apoio a membros da congregação

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Foto do author Daniel  Weterman
Por Daniel Weterman
Atualização:

BRASÍLIA - Entre louvores e orações, fiéis da Igreja Presbiteriana Central de Londrina, no Paraná, foram "desafiados" no último domingo, 26, a assinarem uma ficha de apoio à criação do Aliança pelo Brasil, partido idealizado pelo presidente Jair Bolsonaro. 

O reverendo Emerson Patriota foi quem pediu, do púlpito, para os membros da congregação colocarem seus nomes na lista que será entregue à Justiça Eleitoral. Representantes de um cartório da cidade estavam no local para reconhecer as assinaturas.

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Para tirar o Aliança do papel, Bolsonaro precisa de aproximadamente 492 mil assinaturas. O movimento na Presbiteriana de Londrina foi articulado pelo deputado Filipe Barros (PSL-PR), aliado do presidente e membro da igreja, com a direção da instituição. O parlamentar disse ao Estadão/Broadcast que "centenas" de assinaturas foram recolhidas no local. Do lado de fora, o grupo colocou um ônibus estampado com a marca do Aliança e as fotos de Jair Bolsonaro e Filipe Barros. 

Enquanto dava os avisos sobre as atividades da igreja no culto, o pastor anunciou a presença dos funcionários do cartório. "Nós estamos desafiando você, todos, a passarem lá, conhecerem o estatuto, os valores", disse o reverendo. "Na verdade, eu estava conversando com algumas pessoas e disseram que é mais difícil entrar nesse partido do que em algumas igrejas por aí. Tem que ter mais vida idônea do que algumas igrejas exigem. Isso é muito bom porque tem valores familiares." 

Como o Estado publicou em dezembro, aliados do presidente Jair Bolsonaro apostam em igrejas evangélicas, entidades de classe de policiais militares, Exército e bombeiros para viabilizar o Aliança pelo Brasil. A ideia é aproveitar a aglomeração de pessoas nestes locais para atingir o número de assinaturas exigidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

O reverendo Emerson Patriota, da Igreja Presbiteriana de Londrina, no PR, durante culto Foto: Reprodução/Youtube

O Aliança precisa ser homologado até 4 de abril para concorrer nas eleições municipais de 2020. Articuladores admitem que o partido pode não estar formalizado a tempo do pleito de outubro. O culto foi transmitido pelas redes sociais. No YouTube, internautas começaram a fazer comentários criticando a igreja. Nesta terça-feira, 28, o vídeo já não estava mais disponível. Procurada, a instituição ainda não se manifestou. 

Especialistas dizem que coletar assinaturas em igrejas para criar um partido político não é ilegal. A restrição só ocorre em período de campanha eleitoral, quando candidatos não podem pedir votos em locais classificadas como “bens públicos”. 

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“Se não houver constrangimento para que as pessoas assinem, não há ilegalidade. Neste caso, está dentro do espaço da confissão e não há problema”, afirmou o ex-procurador regional eleitoral de São Paulo Luiz Carlos dos Santos Gonçalves.

Um integrante da cúpula da Procuradoria-Geral da República (PGR) ouvido reservadamente comentou que não simpatiza “com esse uso da liberdade", mas enfatizou que não há proibição legal.

“No Brasil, é plenamente possível que os movimentos religiosos, como grupo de interesse, se organizem e apoiem a criação de partidos políticos que reverberem sua pauta de interesses e valores”, afirmou a professora Maria Cláudia Bucchianeri, especialista em Direito Eleitoral do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP).

'Dever'

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Ao Estadão/Broadcast, o deputado Filipe Barros disse que o movimento foi articulado com a direção da igreja e que outras instituições religiosas estão se mobilizando para reunir as assinaturas. Ele afirmou que o "busão do Aliança", como foi batizado, está percorrendo cidades do Paraná para mobilizar aliados e é bancado por apoiadores de Bolsonaro.

Entre os princípios elencados no estatuto do Aliança, estão os "valores culturais e religiosos dos brasileiros". "Dentro da doutrina da minha igreja, a gente considera que é um dever do cristão participar da vida pública, da vida política de um país", disse Filipe Barros. 

O parlamentar pontuou que não há impedimentos legais para a mobilização de apoio em igrejas. "A nossa Constituição prevê a livre associação. A igreja é uma instituição privada, não tem dinheiro público envolvido", afirmou. "É natural que as pessoas participem da criação de um partido político. Aliás, eu não vejo estardalhaço quando o Lula fala que o PT tem que se aproximar das igrejas evangélicas", comentou.

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Outras igrejas

Além da Presbiteriana em Londrina, lideranças de outras igrejas evangélicas no País se mobilizam para ajudar Bolsonaro a oficializar o Aliança pelo Brasil. No último sábado, 25, aliados do presidente recolheram assinaturas na Assembleia Legislativa do Amazonas. O presidente da Assembleia de Deus no Estado, Jônatas Câmara, pediu que apoiadores fossem ao local para integrar a lista.

O pastor, que recebeu Bolsonaro em novembro para um culto em Manaus, é irmão do deputado Silas Câmara (Republicanos-AM), líder da bancada evangélica na Câmara. É também irmão do pastor Samuel Câmara, presidente da Assembleia de Deus no Pará e um dos maiores líderes da denominação evangélica no País.

O deputado Silas Câmara disse que o apoio ao Aliança pelo Brasil não é institucional, mas é feito pela movimentação de pastores e outros líderes simpáticos à nova sigla. "Dentro de igreja, esquece. Eles (os pastores) estão atentos a esses movimentos de direita organizados e participam indo lá", afirmou o deputado ao Broadcast Político. / COLABOROU RAFAEL MORAES MOURA

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