Signatário do manifesto Eleição se Respeita, ao lado de dezenas de empresários e investidores, o presidente da Suzano, Walter Schalka, disse em entrevista ao Estadão que "o meio empresarial se omitiu por muito tempo" por receio e medo de retaliação do Estado brasileiro, cuja presença na economia representa cerca de 40%.
Schalka se refere às declarações do presidente Jair Bolsonaro que questionam a lisura do processo eleitoral no Brasil e colocam a impressão do voto como condição para a realização do pleito em 2022. Bandeira do bolsonarismo, a adoção do voto impresso foi derrubada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara por 23 votos contrários e 11 favoráveis.
Segundo Schalka, o direito ao voto do brasileiro precisa ser respeitado e o sistema eleitoral brasileiro é um modelo para o mundo. Confira a entrevista:
Por que o sr. resolveu assinar o manifesto?
A democracia é um dos pilares fundamentais da sociedade brasileira. E a eleição é a base da nossa democracia – logo, ela precisa ser garantida. O direito ao voto é igualitário a toda a população e cabe à população fazer sua escolha, seja ela boa ou ruim. Me parece que a questão da eleição virou uma forma de tergiversação dos problemas reais da nossa sociedade, que são o meio ambiente, a educação e as reformas estruturais, como a tributária e a política.
Não acredita que seja preciso mexer no sistema eleitoral?
O sistema eleitoral brasileiro não é um problema – pelo contrário, é um modelo para o exterior. Não há nenhuma denúncia de fraude nas urnas eletrônicas, em nenhum momento houve questionamento de resultados. Não vejo razão para estarmos perdendo tempo com isso.
E o voto impresso, não considera então fundamental?
A urna eletrônica permite que saibamos os resultados em uma questão de horas. Será que o voto impresso é uma questão fundamental? Não. E, especialmente em determinados locais do País, o voto impresso pode ser usado por políticos para exigir do eleitor um comprovante de voto, uma forma de controle da vontade das pessoas.
E por que o empresariado, muitas vezes, demora a se posicionar sobre questões fundamentais, especialmente as que envolvem o governo?
O meio empresarial se omitiu durante muito tempo. E isso é reflexo da forte presença do Estado da economia, que está ao redor de 40%. Então existe um receio de se falar, um medo de retaliação. Mas eu tomei a decisão de falar. Porque, quando nos calamos, ficamos mais expostos à situação de deterioração (do País).