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'Número 2' da Saúde quer manter equipe mesmo sem Mandetta

João Gabbardo, que é cotado para assumir de forma temporária, tem dialogado com a ala militar do governo

Por Mateus Vargas e Jussara Soares
Atualização:

BRASÍLIA - Cotado para assumir o cargo de ministro da Saúde de forma temporária, o atual secretário-executivo da pasta, João Gabbardo, busca, nos bastidores, segurar a equipe montada por Luiz Henrique Mandetta (DEM), cuja saída é dada como certa. O secretário tem dialogado com a ala militar do governo, preocupada com possível apagão na pasta por uma saída em massa de técnicos da Saúde em plena pandemia de coronavírus.

JoãoGabbardo dos Reis, secretário executivo do Ministério da Saúde, acredita em liberação pela Anvisa Foto: Erasmo Salomao/MS

Gabbardo chegou a afirmar nesta quarta-feira, 15, que aceitaria um convite do presidente Jair Bolsonaro para seguir no ministério, inclusive no comando da pasta.

“Se o presidente da República indicar uma nova equipe ao Ministério da Saúde, eu não vou abandonar o barco. Vou ficar no Ministério da Saúde durante todo o tempo que for necessário

João Gabbardo, secretário executivo do Ministério da Saúde

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Mesmo Mandetta, que repete que todos entraram e devem sair juntos do ministério, reconheceu ontem que não é “dono do futuro de absolutamente ninguém”. "Se vier outra pessoa, se precisar, é para ajudar, para permanecer”, disse o ministro.

Gabbardo passou a ser cotado como uma "opção caseira" para manter o ministério operando, e retirar Mandetta, que tem se desentendido com Bolsonaro. Apesar de citado por parte da ala militar e do Congresso como nome forte, porém, não houve sinalização do presidente de que o secretário está no rol de possíveis ministros. O presidente começa a receber nesta quinta-feira, 16, nomes que podem ocupar a vaga de Mandetta. O primeiro da lista é o oncologista Nelson Teich, que atuou na campanha eleitoral de Bolsonaro, convidado por Paulo Guedes (atual ministro da Economia), e tem apoio da classe médica.

O secretário tem sinalizado a interlocutores que pode manter no Ministério da Saúde ao menos a equipe ligada à atenção básica, um dos pilares da atuação da pasta, comandada pelo secretário Erno Harzheim. Gabbardo ainda aposta que teria força para segurar no cargo o secretário nacional de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira. Ele chegou a pedir demissão na quarta-feira, 15, mas teve o pleito negado por Mandetta e Gabbardo, que atuaram como bombeiros com o argumento de que não se pode “largar o barco” agora.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (centro), ao lado dosecretário nacional de vigilância da pasta, Wanderson de Oliveira (à esq.) e dosecretário executivo do ministério da Saúde, João Gabbardo (à dir.) Foto: Dida Sampaio/Estadão

A leitura de quem defende Gabbardo é que a troca seria menos traumática para o momento do que apostar em nomes como o do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que é radicalmente contra a estratégia de isolamento social para combater a doença.

Para convencer Bolsonaro de que Gabbardo é um nome viável, interlocutores do secretário dizem que ele poderia argumentar que é possível chegar a um meio termo sobre o isolamento social. Em entrevistas coletivas, ele e o secretário Wanderson Oliveira já têm dito que não houve apoio do ministério a medidas mais extremas tomadas por governadores e prefeitos, como quarentena em cidades pequenas e sem casos ou prisão de quem descumpre o isolamento. A leitura dentro da Saúde é que estas falas não chegam até Bolsonaro, pois o diálogo com o ministério, hoje, é nulo.

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Carreira no Rio Grande do Sul

Gabbardo foi secretário de Saúde de Terra na década de 1990, quando o agora deputado era prefeito de Santa Rosa (RS). Ele também atuou como substituto do atual deputado federal na Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul, pasta que passou a comandar no governo de José Ivo Sartori (MDB).

Pesa contra Gabbardo, segundo fontes do Planalto, a proximidade com Mandetta e o estigma de “esquerdista”, posto pela militância de Bolsonaro. O secretário, no entanto, foi um apoiador de Bolsonaro nas eleições de 2018.

O desafio neste momento, segundo um integrante do Palácio do Planalto, é que a troca no ministério seja feita com segurança, para evitar desgaste para o presidente. Bolsonaro, por sua vez, quer um ministro que se alinhe ao seu discurso contra o isolamento social para evitar um colapso na economia, o que contraria as orientações de autoridades sanitárias mundiais. Também é considerado fundamental que o novo ministro não se oponha ao uso ampliado da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19.

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