Moreira Franco diz que questionamentos a Bolsonaro e a filho dele são ‘inconvenientes’

Ministro de Minas e Energia afirma que não se pode 'repetir' com o presidente eleito 'o que fizeram com Temer'

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Por Vera Rosa e Tania Monteiro
Atualização:

BRASÍLIA - Sob o argumento de que o País não resiste a mais um impeachment, o ministro de Minas e Energia, Wellington Moreira Franco, chamou de “inconvenientes” os questionamentos dirigidos ao presidente eleito, Jair Bolsonaro, e ao filho dele, o futuro senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), sobre movimentações financeiras de R$ 1,2 milhão na conta de um ex-assessor parlamentar.

“Sem prova, sem observação mais apurada, já estão impondo ao presidente eleito que tenha de responder a perguntas absolutamente inconvenientes”, disse Moreira Franco. “O que não se pode é repetir com Bolsonaro o que fizeram com Temer”, completou ele, em uma referência ao desgaste sofrido pelo presidente Michel Temer desde maio do ano passado, após delações do empresário Joesley Batista, da J&F.

O ministro deMinas e Energia,Wellington Moreira Franco Foto: Werther Santana/Estadão

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Sociólogo por formação e um dos principais formuladores do MDB, o ministro ressalvou que não estava pregando o engavetamento de possíveis investigações. “Mas não pode haver vazamentos que funcionem como um tiro certeiro em alguma parte do corpo do presidente”, insistiu. “Não dá para ser assim porque isso não é apuração. É coisa política. Quando, antes da própria posse, você coloca a família e marca audiências para interrogatórios com ministros que têm relevância, o governo já entra fragilizado.”

Moreira Franco pregou mudanças no modelo político, mas não detalhou como deveriam ser essas alterações, dizendo ter dúvidas sobre a conveniência do semipresidencialismo proposto por Temer. Afirmou, ainda, que é preciso estudar as experiências de outros países para encontrar um mecanismo pelo qual as insatisfações com o comandante de governo não destruam o chefe de Estado. “Se não resolvermos isso, vamos ter impeachments sucessivos”, previu.

Prestes a deixar a Esplanada, o titular de Minas e Energia sofreu novo revés no início deste mês, quando a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, recorreu de uma decisão do ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Para Dodge, tanto ele quanto Temer e o titular da Casa Civil, Eliseu Padilha, cometeram crime de corrupção e receberam propina da Odebrecht.

Questionado pelo Estado se tem receio do que pode ocorrer quando entregar o cargo, Moreira Franco respondeu que não. “Nós vamos sair de uma pressão política e todas essas ilações serão resolvidas no Judiciário. O que ocorre agora está ocorrendo com o futuro presidente da República e com os futuros ministros”, observou. “Eu nunca participei da parte financeira da campanha.”

Mesmo assim, o ministro disse que o MDB precisa fazer uma autocrítica vigorosa em 2019. Além de perder a Presidência da República na eleição de outubro, o partido viu suas bancadas no Congresso encolherem e contabilizou derrotas nos Estados.

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Conselheiro de Temer e responsável pelo documento Uma Ponte para o Futuro – lançado em 2015, quando o MDB se chamava PMDB e ainda integrava a gestão de Dilma Rousseff (PT) –, Moreira Franco destacou que o presidencialismo de coalizão faliu. O MDB teve apenas um nome – o do deputado gaúcho Osmar Terra – escalado para o primeiro escalão do governo Bolsonaro. Terra vai comandar o Ministério da Cidadania.

“Quando Bolsonaro encontrou a solução de bancadas temáticas, na realidade ele estava se afastando do método de aglutinação do presidencialismo de coalizão. Eu vejo isso como uma coisa inteligente. Ainda não é um caminho, mas é um atalho”, resumiu o ministro de Minas e Energia, que já foi chefe da Secretaria-Geral da Presidência e é um dos colaboradores mais próximos de Temer.

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