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Live de Bolsonaro leva a pedido de demissão de especialista do Facebook, diz revista

Segundo reportagem da 'The New Yorker', o especialista em cibersegurança do Facebook David Thiel teria ficado inconformado com a decisão da plataforma de manter o vídeo no ar mesmo enquanto ele apresentava suposta violação das regras

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Por Redação
Atualização:

Uma fala do presidente Jair Bolsonaro durante uma de suas tradicionais lives levou ao pedido de demissão de um especialista da sede do Facebook em Menlo Park, no Vale do Silício. É o que diz uma reportagem publicada pela revista The New Yorker esta semana, segundo a qual o funcionário teria ficado inconformado com a decisão da plataforma de manter o vídeo no ar mesmo a peça apresentando suposta violação das regras da plataforma por “discurso desumanizador”. 

Jair Bolsonaro, presidente da República Foto: Gabriela Biló/ Estadão

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Segundo a reportagem, assinada por Andrew Marantz, foi uma fala de Bolsonaro sobre indígenas que entrou no centro de discussões no alto escalão do Facebook. A declaração foi feita durante uma transmissão ao vivo de janeiro, quando o presidente afirmou que "cada vez mais, o índio é um ser humano igual a nós”. 

Ao tomar conhecimento sobre o caso, o especialista em cibersegurança do Facebook David Thiel procurou pela live – que, para sua surpresa, ainda estava no ar. O especialista apresentou questionamentos por meio da rede social interna do Facebook, o Workplace, defendendo a retirada do conteúdo.  Seus questionamentos, de acordo com a The New Yorker, foram encaminhados internamente no Facebook, e os responsáveis por analisar o caso concluíram que o vídeo não desrespeitou as diretrizes da rede. “O presidente Bolsonaro é conhecido por seus discursos controversos e politicamente incorretos”, teria dito um especialista baseado em Brasília, que sustentou que “ele (Bolsonaro), na verdade, está se referindo aos povos indígenas se tornando mais integrados à sociedade (em oposição a isolados em suas próprias tribos).” Thiel, então, apelou da decisão e se reuniu com membros do time de política de conteúdo da rede. Em uma apresentação com 15 slides, a tentativa do especialista foi de explicar por que afirmar que alguém está “se tornando humano” equivale a um discurso desumanizador. Segundo a The New Yorker, um dos slides recorria até a definições de dicionário para sustentar que o ato de "virar" algo necessariamente denota que, no status anterior, o sujeito em questão não era aquilo. 

 Thiel também chegou a argumentar que a retórica de Bolsonaro já havia incitado à violência antes. Mas, segundo a revista, foi só após seu pedido de demissão que o Facebook anunciou que havia revertido a decisão sobre a manutenção do vídeo de Bolsonaro, o que o especialista considerou “tarde demais.” O Estadão procurou David Thiel por meio do Centro de Política Cibernética de Stanford, no qual ele trabalha hoje. A instituição, porém, informou que "o senhor Thiel não está dando entrevistas sobre este assunto no momento."

'Temos mais a fazer'

Em nota, o Facebook admitiu que ainda tem “mais a fazer”, mas afirmou estar “progredindo” na aplicação de suas regras. A empresa reforçou que proíbe discurso de ódio e aplica “regras de conteúdo globalmente, independentemente da posição ou afiliação política de quem publicou (na plataforma)”. “Auditamos nossos processos com frequência para garantir precisão e imparcialidade”, completou a rede social. 

A declaração de Bolsonaro sobre índios não é a única que foi alvo de ações da plataforma. No final de março, a rede derrubou vídeos do presidente Jair Bolsonaro em que o mandatário defendia o uso da cloroquina para combater o coronavírus. Ao recomendar o uso do medicamento, que não tem eficácia comprovada no tratamento da covid-19, Bolsonaro violou termos de uso da rede social. Em diversas transmissões ao vivo posteriores, porém, o presidente voltou a propagandear o medicamento. 

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Já em julho deste ano, ficou conhecido o episódio em que uma rede de perfis falsos ligados ao gabinete do presidente, a seus filhos e aliados foi derrubada pelo Facebook por comportamentos considerados nocivos ao debate público, como o que a rede chama de Comportamento Inautêntico Coordenado. O material investigado pela plataforma identificou pelo menos cinco funcionários e ex-auxiliares que disseminavam ataques a adversários políticos de Bolsonaro. Na ocasião, os citados negaram irregularidades e classificaram a medida como arbitrária.

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