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Grupo bolsonarista que convoca para atos já foi chamado no Planalto de ‘nosso pessoal’

Integrantes do Movimento Brasil Verde e Amarelo são alvo do Supremo por ameaças à democracia

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BRASÍLIA – Eles saem às ruas desde 2019, primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro, para apoiar temas de interesse do presidente e, a exemplo do chefe do Executivo, atacam as instituições. Em uma demonstração de amplo acesso ao Palácio do Planalto, integrantes do Movimento Brasil Verde e Amarelo, um dos grupos que organizam os atos bolsonaristas de 7 de Setembro, já apareceram em vídeos e fotos com ministros e foram chamados pelo titular do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, de “nosso pessoal”.

Uma ala do movimento está agora sob a mira do Supremo Tribunal Federal (STF) por “incitação à prática de atos violentos e ameaçadores contra a democracia”. O presidente da Aprosoja Brasil (Associação Brasileira dos Produtores de Soja), Antônio Galvan, por exemplo, foi alvo de um mandado de busca e apreensão expedido pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. Acusado de financiar atos contra a Corte para o 7 de Setembro, dia da Independência, Galvan acabou proibido de se aproximar da Praça dos Três Poderes, sendo obrigado a manter distância de um quilômetro do conjunto arquitetônico planejado por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa.

O presidente da Aprosoja Brasil, Antônio Galvan, o ministro do GSI, general Augusto Heleno, e o secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Nabhan Garcia,reunidos para defenderas manifestações que aconteceriam no dia 15 de maio Foto: Reprodução

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Não é a primeira vez que Galvan está envolvido em convocações para atos contra o Supremo e pró-Bolsonaro. Em março, o presidente da Aprosoja Brasil apareceu ao lado de Augusto Heleno e do secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Nabhan Garcia, para falar sobre manifestações que aconteceriam no dia 15 de maio.

Heleno pediu que os atos não fossem presenciais por causa da pandemia do novo coronavírus, mas gostou de ver eleitores nas ruas. O ministro do GSI demonstrou proximidade com os integrantes do movimento, chamados por ele de “nosso pessoal”.

“Eu sugeri ao doutor Galvan que faça um manifesto, coisa escrita, que não mobilize gente, mobilize ideias, para colocar essas ideias para julgamento do nosso pessoal”, afirmou Heleno. Em seguida, justificou o uso do termo: "Estou falando em 'nosso pessoal' porque eu acho o agronegócio muito importante. Nós sabemos o que seria a manifestação do agronegócio do nível que foi pensado aqui”.

Sob o título de “Marcha da Família Cristã pela Liberdade”, a última manifestação do Movimento Brasil Verde Amarelo foi justamente no dia 15 de maio. Em Brasília, produtores rurais defenderam pautas do governo, carregando faixas com o slogan “O Agro e o Povo pela democracia”. À época, um dos principais motes da mobilização era “o fim das políticas de lockdown” usadas para conter a disseminação da covid-19, além do voto impresso e do coro por “um Supremo Tribunal decente”.

Bolsonaro foi à Esplanada receber os manifestantes, acompanhado de ministros, entre eles o da Defesa, general Walter Braga Netto. Como mostrou o Estadão, Braga Netto foi o ministro que, em julho, enviou um duro recado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), por meio de um interlocutor político. O aviso foi bem claro: o general afirmou que não haveria eleições em 2022 se não houvesse voto impresso no País. A mesma frase foi dita por Bolsonaro várias vezes.

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Para o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), não é o governo que tem “agitado” a harmonia entre os Poderes, mas, sim, o Judiciário. “Coragem para brigar com o Judiciário poucas pessoas têm. É preciso entender, até pelas próprias reações que estão acontecendo, que há um processo intimidatório”, disse o deputado. Alvo da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, Barros integra a tropa de choque bolsonarista e avaliou que os atos de 7 de setembro terão grande adesão. “Estou muito confiante de que haverá uma manifestação muito grande no 7 de setembro, mas pacífica, demonstrando justamente esse apoio ao presidente Bolsonaro”, argumentou.

Mudança. Embora o Movimento Brasil Verde e Amarelo seja ligado ao setor agropecuário, os temas defendidos pelo grupo foram mudando de acordo com a ocasião. Na época do primeiro ato, em maio de 2019, a principal pauta eram as reformas da Previdência – aprovada em outubro daquele ano – , dos tributos, até hoje em banho-maria, e o pacote anticorrupção, que não avançou no Congresso. "Reformar para não parar. Juntos somos mais fortes", dizia o slogan das manifestações.

Desde o ano passado, no entanto, o grupo deixou de ter como lema a defesa das reformas para dar mais volume aos ataques que Bolsonaro faz às instituições, sobretudo ao Supremo. Os principais articuladores do movimento, composto por associações de produtores rurais, são a Aprosoja e a Associação Nacional de Defesa dos Agricultores, Pecuaristas e Produtores da Terra (Andaterra). As organizações representam sindicatos de produtores rurais de vários Estados e estão vinculadas à Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA). O comando da CNA, no entanto, não tem envolvimento nos atos.

No dia último dia 10, Antônio Galvan, da Aprosoja Brasil, esteve no gabinete da secretária especial de Articulação Social, Gabriele Olivi, no Palácio do Planalto. A pasta é vinculada à Secretaria de Governo, comandada por Flávia Arruda. A agenda oficial informa que a pauta do encontro foi o Movimento Brasil Verde Amarelo. Galvan estava acompanhado da mulher, Paula Boaventura, e do ex-diretor executivo da Aprosoja Fabrício Rosa.

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Jeferson Rocha, diretor jurídico da Andaterra que também faz parte do Movimento Brasil Verde Amarelo, tem feito postagens de apoio a Galvan nas redes sociais. "Somos todos Galvan", postou ele no último dia 23, em seu perfil no Instagram. Rocha pediu o impeachment do ministro Alexandre de Moraes.

Cinco dias depois, em 28 de agosto, o diretor jurídico da Andaterra fez uma transmissão ao vivo no Facebook para reclamar da decisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que rejeitou o pedido de impeachment de Moraes,apresentado por Bolsonaro. Ele sugeriu que Pacheco também fosse alvo de impeachment.

“O que nós certamente vamos ver na próxima semana é o protocolo de novos pedidos de impeachment e pedidos esses que vão, além de apontar os crimes de responsabilidade dos ministros do Supremo, apontar também a suspeição e o impedimento do presidente Rodrigo Pacheco”, afirmou Rocha.

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Antes disso, em 26 de junho, ele também gravou e postouum vídeo ao lado do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, agradecendo pela abertura de agências voltadas para o setor rural.

Em contraste com a iniciativa dos produtores rurais, representantes do agronegócio divulgaram um manifesto, na última segunda-feira, 30, no qual defendem o estado democrático de direito, garantidor da “liberdade empreendedora”. O documento das entidades do agronegócio não cita Bolsonaro, mas opta por uma mensagem incisiva ao descrever asociedade como “permanentemente tensionada em crises intermináveis ou em risco de retrocessos e rupturas institucionais”. O manifesto foi divulgado após a decisão da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) de adiar texto semelhante para pedir a harmonia entre os Poderes.

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O diretor jurídico da Andaterra criticou o manifesto dos empresários do agronegócio e expôs a divisão com os produtores rurais. “O agro da Avenida Paulista, da Faria Lima e dos oligopólios formados às custas do dinheiro do contribuinte, via BNDES, na era da corrupção do PT, vêm se manifestar a favor da democracia, como se nós estivéssemos nos manifestando contra”, afirmou ele ao site Agro em Dia. "Pelo contrário. Quem se manifesta com uma nota dessas é a favor da cleptocracia, que por muito tempo se adonou do País, dos três Poderes da República, e agora agoniza, com a mudança que fizemos no Poder Executivo”, completou.

Em outra indicação de que não há apoio unânime às manifestações de 7 de setembro, o deputado Sergio Souza (MDB-PR), coordenador da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), disse ao Estadão que a bancada ruralista não participa dos movimentos.

“A FPA tem uma pauta específica, que é cuidar dos projetos do Parlamento para garantir segurança jurídica. Desde que a FPA surgiu, você nunca a viu com uma bandeira na Esplanada dos Ministérios. Nem contra, nem a favor. Nunca”, insistiu Souza.

O Movimento Brasil Verde e Amarelo também marcou presença em atos bolsonaristas de 2020, como o que ocorreu no dia 15 de março e tinha como alvo não só o Supremo, mas também o Congresso. Bolsonaro, àquela altura, ainda não havia feitoaliança com o Centrão. Nas manifestações deste ano, porém, com o presidente casado de papel passado com o bloco comandado por Arthur Lira (Progressistas-AL), o Congresso deixou de estar na mira. Procurado, o Palácio do Planalto não se manifestou. Em nota, a Aprosoja informou que dará apoio institucional ao ato da semana que vem, “sem aporte financeiro e sem participar da organização do evento”. “Além disso, a ida de produtores à Brasília será espontânea. A organização logística será responsabilidade de cada associado, sem interferência ou custeio da Aprosoja”, diz a nota. Os outros integrantes do Movimento Brasil Verde e Amarelo citados no texto não retornaram os contatos da reportagem. 

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