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Em reunião televisionada de Bolsonaro e ministros, palavrões dão lugar a apresentações de Powerpoint

Os ministros considerados mais polêmicos, como o da Educação, Abraham Weintraub, ficaram longe dos discursos

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Por Julia Lindner
Atualização:

BRASÍLIA - Se a discussão sobre o novo coronavírus ficou à margem da polêmica reunião ministerial do dia 22 de abril, a pandemia foi o principal tema do encontro desta terça-feira, 9, no Palácio da Alvorada, que, desta vez, contou com transmissão ao vivo. Diante dos holofotes, os mais de 40 palavrões ditos pelo presidente Jair Bolsonaro e seus auxiliares na reunião tornada pública pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, foram substituídos por intervenções polidas e uma apresentação de PowerPoint sobre as ações de combate à covid-19.

Bolsonaro questionou ali orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e defendeu, mais uma vez, o fim do isolamento social. O ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello lamentou, por sua vez, as milhares de mortes no País e tentou justificar a mudança na contagem de casos e óbitos, mas virou meme nas redes sociais ao mencionar o inverno no Nordeste.

Bolsonaro defendeu flexibilização da quarentena Foto: Gabriela Biló/Estadão

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“Para efeito da pandemia, nós podemos separar o Brasil em Norte e Nordeste, que é a região que está mais ligada ao inverno do Hemisfério Norte (...) e ao Centro-Sul, Sudeste e Centro-Oeste, que é o restante do País, que está ligado mais ao inverno do Hemisfério Sul”, disse Pazuello.

Não tardaram fotos de pessoas com casacos pesados invadindo as mídias digitais. “Com o dólar alto, esse ano não vou poder ir para Aspen! Estou pensando em esquiar no Brasil mesmo, ainda estou em dúvida entre Teresina e Fortaleza. Aceito sugestões”, ironizou no Twitter um usuário que se identificou como Coronel Siqueira.

Embora tenha feito referência ao inverno de forma genérica, o que provocou confusão nas redes sociais, Pazuello mencionou as diferenças entre as regiões do País que marcam o período de maior sazonalidade da gripe. Na região Norte, que inicia em dezembro o período conhecido como "inverno amazônico", por exemplo, a transmissão de vírus respiratórios é maior entre março e maio, meses marcados por períodos chuvosos. Neste caso, especialistas costumam falar em período chuvoso e não chuvoso, e não em inverno e verão.

Ao contrário do que ocorreu no encontro de abril, marcado por xingamentos, pitos de Bolsonaro e até bate-boca entre ministros, apenas alguns auxiliares foram selecionados ontem para falar. Ao vivo, eles aproveitaram para fazer um balanço de suas pastas, arquivando posições de confronto.

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, que na reunião de abril havia defendido a prisão de ministros do Supremo, chamando magistrados de “vagabundos”, ficou longe do microfone.

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Bolsonaro usou dados da OMS de forma distorcida, ao dizer que os pacientes assintomáticos possuem chance de transmissão “próximo de zero”. O presidente bateu nessa tecla para defender a retomada das atividades econômicas. O Brasil possui mais de 700 mil casos da covid-19 e mais de 37 mil mortes decorrentes da doença.

"Isso não é um dado comprovado, nós sabemos, mas é um dado bastante importante porque todas as observações da OMS conduzem para isso. É algo que tem que ser debatido, porque tem reflexo imediato no futuro do nosso Brasil", disse ele. A OMS, no entanto, alertou que há perigo de pessoas pré-sintomáticas transmitirem o vírus.

Sem ser contestado em nenhum momento, Bolsonaro relembrou que quebrou o isolamento social ao visitar recentemente comerciantes no Distrito Federal e, mesmo admitindo que a saída representava risco, disse que outros líderes deveriam fazer o mesmo. "Eu fui ver como esses informais estavam sobrevivendo, é de cortar o coração. Eu tinha que estar na ponta da linha até colocando em risco a minha saúde tendo em conta a minha idade, estando no grupo de risco", afirmou.

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