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Conheça os movimentos da sociedade civil criados nos últimos dias para defender a democracia

Falas recentes do presidente Jair Bolsonaro e aliados, pregando uma 'ruptura' institucional, fazem surgir manifestos, abaixo-assinados e grupos organizados por representantes da direita e esquerda; um deles, o 'Estamos Juntos', já tem mais de 215 mil apoiadores

Foto do author Adriana Ferraz
Foto do author Renato Vasconcelos
Por Adriana Ferraz e Renato Vasconcelos
Atualização:

As falas recentes do presidente Jair Bolsonaro e de aliados a favor de uma eventual ruptura institucional fizeram surgir novos movimentos democráticos na sociedade civil, que passaram a reunir adversários na política e também no futebol. Neste domingo, 31, a Avenida Paulista foi palco de um protesto do grupo Somos Democracia, com participação de torcedores de vários times paulistas. Ao mesmo tempo, a internet conheceu dois novos movimentos que já tiverem a adesão de mais de milhares de pessoas em menos de dois dias.

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Apesar de compostos por diferentes segmentos da população, esses grupos defendem a mesma bandeira: respeito à Constituição, harmonia entre os Poderes e obediência às decisões judiciais. O Estamos Juntos obteve a assinatura de mais de 215mil pessoas até o início da tarde da segunda, 1º de junho, dois dias após seu lançamento. Uma semana depois, soma 279 mil. Já a hashtag "Somos 70 por cento", em alusão às pessoas que consideram o governo de Bolsonaro como ruim, péssimo ou regular, segundo a última pesquisa Datafolha, tomou conta das redes no primeiro fim de semana de junhi, sendo compartilhada até pela apresentadora Xuxa Meneguel.

Outras iniciativas, que não chegaram a se transformar em um movimento, ao menos até agora, também reúnem apoiadores nas redes sociais. O Basta!, por exemplo, composto por juristas, afirma ter mais de 25 mil apoiadores. A união de profissionais específicos, aliás, é outra característica dessa onda de participação da sociedade civil contra atos antidemocráticos. Presidentes de todos os Tribunais de Justiça do País já se manifestaram em carta aberta, assim como diplomatas e procuradores.

Conheça os principais deles:

Manifestação na Paulista neste domingo, 31. Foto: Taba Benedicto/Estadão

Estamos Juntos

No sábado, 30, foi lançado o movimento Estamos Juntos. O grupo se apresenta como "uma reunião decidadãs, cidadãos, empresas, organizações e instituições brasileiras que fazem parte da maioria que defende a vida, a liberdade e a democracia. Esquerda, centro e direita unidos para defender a lei, a ordem, a política, a ética, as famílias, o voto, a ciência, a verdade, o respeito e a valorização da diversidade, a liberdade de imprensa, a importância da arte, a preservação do meio ambiente e a responsabilidade na economia". O grupo reúne figuras públicas de diversos campos políticos como Miguel Reale Júnior, Luciano Huck, Fernando Henrique Cardoso, Caetano Veloso e Fernanda Montenegro. Por meio da página https://movimentoestamosjuntos.org/#MANIFESTO, é possível assinar o manifesto, já apoiado por mais de 215 mil pessoas até o início da tarde desta segunda.

Somos Democracia

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O movimento Somos Democracia nasceu de forma autônoma dentro da torcida do Corinthians. De acordo com um dos líderes, Danilo Pássaro, a ideia inicial era agregar defensores da democracia que veem em Bolsonaro uma escalada autoritária no País. A manifestação, ainda segundo Pássaro, teve como objetivo fortalecer esse movimento de contraposição ao presidente. Além da atuação política em defesa da democracia, Pássaro diz que o grupo também se reúne para fazer ações sociais durante a pandemia, como a entrega de cestas básicas e marmitas para a população mais vulnerável durante a pandemia do novo coronavírus.

"O que se está dado no Brasil é uma guerra de narrativas. Já que Bolsonaro não garante nenhuma política séria de proteção social e nem de retomada da economia, faz as pessoas furarem a quarentena por meio do sufocamento financeiro, para depois colocar todo o problema econômico que vai suceder a pandemia na conta dos governadores, o que pode tender para a saída autoritária que ele sempre vislumbrou. Ele sempre foi claro que tinha uma sanha por uma ditadura que ele encabeçaria", disse.

Pacto pela Democracia

Composto por entidades e grupos de diferentes espectros políticos e tradições – como RenovaBR, Raps, SOS Mata Atlântica, a ONG Sou da Paz, a Rede Nossa São Paulo, o Instituto Vladimir Herzog, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e o Instituto Ethos –, o Pacto pela Democracia divulgou um  manifesto no dia 2 subscrito por 130 organizações. O documento“Juntos pela democracia e pela vida” diz ser “preciso reconhecer de forma inequívoca que a ameaça fundamental à ordem democrática e ao bem-estar do País reside hoje na própria Presidência da República”.

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Segundo o sociólogo Ricardo Borges Martins, coordenador do movimento, o Pacto pela Democracia não definiu se vai defender o impeachment de Bolsonaro, mas pretende atuar em três frentes. “Somar vozes na sociedade, responder institucionalmente às falas e atitudes do presidente e suas bravatas, como dizer que tem provas de que a eleição de 2018 foi fraudada, e levar à série a nova dinâmica de produção de informação nas mídias sociais”, disse Martins.

Basta!

Juristas e advogados lançaram no domingo, 31, um manifesto intitulado Basta!, com posicionamento contra os ataque de Bolsonaro às instituições democráticas e acusando o presidente de cometer crimes de responsabilidade. Assinam o manifesto juristas como Celso Antônio Bandeira de Mello, Dalmo Dallari e José Afonso da Silva, além do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, e o diretor da faculdade de Direito da USP, Floriano de Azevedo Marques. 

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"O presidente da República faz de sua rotina um recorrente ataque aos Poderes da República, afronta-os sistematicamente. Agride de todas as formas os Poderes constitucionais das unidades da Federação, empenhados todos em salvar vidas. Descumpre leis e decisões judiciais diuturnamente porque, afinal, se intitula a própria Constituição", diz o artigo. 

Pierpaolo Bottini, um dos signatários, explica que a ideia surgiu de um grupo de pessoas incomodadas com as constantes ameaças de ruptura com a ordem democrática. "Vivemos uma sensação permanente de risco ao Estado de Direito. O que se quer e a preservação da democracia. O importante é registrar que a comunidade jurídica jamais apoiará qualquer ruptura com a ordem democrática", disse. Segundo ele, outras ações estão em desenvolvimento. Até ontem, 25 mil pessoas haviam apoiado a ação por meio de um abaixo-assinado.

#Somos 70 PorCento

Idealizado pelo economista Eduardo Moreira, o movimento faz referência ao resultado de uma pesquisa divulgada pela DataFolha na semana passada e que aponta que 70% dos brasileiros consideram o governo Bolsonaro ruim, péssimo ou regular. No fim de semana, a hashtag #Somos70PorCento chegou a ocupar o terceiro lugar entre os assuntos mais comentados do Twitter.

Direitos Já!

O movimento Direitos Já! é mais antigo. Foi lançado em setembro de 2019 como uma frente de resistência ao governo Bolsonaro. O movimento se identifica como um fórum pela Democracia e reúne nomes da esquerda à direita no espectro político. Neste momento, o grupo programou um encontro virtual para o próximo sábado, 6, do qual participarão nomes como Rodrigo Maia (DEM-RJ), Camilo Santana (PT-CE), Nelson Jobim (ex-presidente do STF) e Flávio Dino (PCdoB-MA). O grupo é articulado pelo sociólogo Fernando Guimarães.

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