Após demitir Mandetta, Bolsonaro ataca Maia: ‘Parece que intenção é me tirar do governo’

Para presidente, deputado que comanda Câmara trama contra sua gestão e quer ‘enfiar a faca’

PUBLICIDADE

Por Jussara Soares e Camila Turtelli
4 min de leitura

BRASÍLIA – Após demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), o presidente Jair Bolsonaro confrontou nesta quinta-feira, 16, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Disse, em entrevista à rede de TV CNN, que sua atuação é “péssima” e insinuou que o parlamentar trama contra o seu governo. Em resposta, Maia afirmou que não vai atacar Bolsonaro.

“O sentimento que eu tenho é que ele não quer amenizar os problemas. Ele quer atacar o governo federal, enfiar a faca. Parece que a intenção é me tirar do governo. Quero crer que esteja equivocado”, disse Bolsonaro. 

O presidente Jair Bolsonaro Foto: Sergio Lima/AFP

Horas antes da entrevista do presidente à CNN, Maia havia assinado uma nota conjunta com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) em defesa de Mandetta, também filiado ao seu partido. “O trabalho responsável e dedicado do ministro foi irreparável. A sua saída, para o País como um todo, nesse grave momento, certamente não é positiva e será sentida por todos nós”, escreveram os dois parlamentares.

No dia anterior, a Mesa Diretora da Câmara deu prazo de 30 dias para que Bolsonaro apresente à Casa o resultado dos seus exames para covid-19. Bolsonaro fez os exames para detectar o novo coronavírus em 12 e 17 de março, após voltar de missão oficial nos Estados Unidos. Nas duas ocasiões, o presidente informou, via redes sociais, que os testes deram negativo para a doença, mas não exibiu cópia do resultado.

Apesar dos ataques feitos, Bolsonaro disse, durante a entrevista, que não está rompendo com o Congresso e que está disposto a dialogar com os parlamentares. “O Brasil não merece o que o senhor Rodrigo Maia está fazendo. Péssima atuação. Não estou rompendo com o Parlamento, não. Muito pelo contrário.”

Bolsonaro acusou o presidente da Câmara de conduzir o País ao caos com medidas econômicas “escandalosas”, como a ajuda emergencial aos estados e municípios. Ele ainda criticou a votação virtual na Câmara, adotada após a pandemia do coronavírus. “Parece que a intenção é outra, que ele está conduzindo o País para o caos. Estas medidas são escandalosas. Esta forma de votação pela internet impede um debate melhor.”

Continua após a publicidade

Maia ainda foi acusado de querer assumir a Presidência. “Lamento muito a posição do Rodrigo Maia, que resolveu assumir o papel do executivo. Ele tem que me respeitar como chefe do Executivo”, disse. 

Bolsonaro ‘joga pedras e o Parlamento vai jogar flores’, afirma Maia

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Maia reagiu às críticas, também em entrevista à CNN: “O presidente ataca com um velho truque da política, com a demissão ele quer mudar o tema”, afirmou Maia, que disse não ter intenção de prejudicar o governo. “O presidente não vai ter ataques (de minha parte). Ele joga pedras e o Parlamento vai jogar flores”, completou.

Maia afirmou que havia conversado mais cedo com os ministros da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e da Casa Civil, Braga Netto, e que tem votado as propostas com o apoio da equipe do governo. “Nunca deixei de dialogar com o quadro técnico (do governo)”, disse Maia. “Mas o governo transforma as decisões a favor do governo em confronto político”, completou. 

Maia lembrou que o governo também comemorou a vitória da garantia de renda mínima a trabalhadores informais. O presidente da Câmara afirmou, ainda, que pediu aos integrantes do Executivo que ofereçam propostas à crise do novo coronavírus. “Precisamos de uma pauta. Tomar cafezinho não resolve neste momento”.

Na avaliação do presidente da Câmara, ainda há a necessidade de discutir a destinação de recursos a Estados e municípios.

Continua após a publicidade

Mais cedo, as cúpulas da Câmara e do Senado relataram temor de que a demissão prejudique o combate ao novo coronavírus no País. Além disso, parlamentares cobraram do novo ministro, Nelson Teich, a adoção de uma agenda científica.

“A maioria das brasileiras e dos brasileiros espera que o presidente Jair Bolsonaro não tenha demitido Mandetta com o intuito de insistir numa postura que prejudica a necessidade do distanciamento social e estimula um falso conflito entre saúde e economia”, diz a nota conjunta dos presidentes da Câmara e do Senado.

No Congresso, há temor de que a troca na equipe causem confusão no combate à pandemia. “Eu só lamento que, no momento de grave crise no Brasil e no mundo, essa substituição eventualmente cause um pouco de distúrbio no conjunto de atos que estão sendo tomados”, afirmou o vice-presidente do Senado, Antonio Anastasia (PSD-MG), desejando em seguida sucesso ao substituto. Na oposição, parlamentares fizeram críticas a Bolsonaro. / COLABORARAM DANIEL WETERMAN e VINÍCIUS VALFRÉ

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.