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Aliados de Bolsonaro nos EUA trabalham para que entrega de homenagem mude para Dallas

Após boicote de prefeito de NY, interlocutores do presidente nos EUA reavaliam cancelamento de viagem e pedem alteração de local 

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Por Beatriz Bulla
Atualização:

WASHINGTON - Aliados do presidente Jair Bolsonaro trabalham para mudar o local da premiação de personalidade do ano que será entregue pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos no próximo dia 14. Na sexta-feira, o Planalto anunciou que o presidente não viajaria a Nova York para receber o prêmio, depois de o prefeito da cidade ter criticado Bolsonaro e o evento virar alvo de protestos e boicotes. Agora, interlocutores do presidente nos EUA pressionam para que o evento seja realizado em Dallas, no Texas.

O presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no Itamaraty, em Brasília. Foto: REUTERS/Adriano Machado (03/05/2019)

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Sem dar detalhes, Bolsonaro afirmou ontem à noite a jornalistas que ainda “vai aos EUA”. Ele não especificou itinerário ou data. A Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos não foi localizada após a declaração de Bolsonaro para informar se haverá mudança na cidade que sediará o evento. Na sexta-feira, após o cancelamento da participação do presidente, a Câmara informou em nota que o prêmio ocorreria conforme programado.

A pressão pela mudança no local do evento não é consenso no governo. Há aliados do presidente que ainda insistem na ida a Nova York, especialmente depois da reação do prefeito Bill de Blasio. A avaliação desta ala é de que Bolsonaro não deve se acovardar e há alto interesse empresarial no evento.

Durante o fim de semana, De Blasio comemorou o cancelamento da viagem de Bolsonaro à cidade. "Jair Bolsonaro aprendeu do jeito difícil que nova-iorquinos não fecham os olhos para a opressão. Nós expusemos sua intolerância. Ele correu. Não fiquei surpreso - valentões geralmente não aguentam um soco", escreveu ele. Na sequência, o prefeito completou: "Seu ódio não é bem-vindo aqui".

No fim de semana, o vice-presidente Hamilton Mourão atribuiu o cancelamento a disputas políticas internas nos EUA. "A realidade é que o presidente se sente incomodado pela atitude do prefeito de Nova York, que nada mais é do que uma disputa interna nos Estados Unidos", disse Mourão. "O prefeito é democrata, o presidente Donald Trump é republicano e o presidente Jair Bolsonaro julgou por bem não se meter em algo que é uma disputa de outro país", afirmou o vice.

A ala que defende a mudança de local onde o evento vai ser realizado enfrenta alguns entraves, além das questões logísticas de remarcação de um jantar de gala em um período de uma semana. O quórum da premiação, se ocorrer no Texas, deve ficar prejudicado. Isso porque uma série de eventos paralelos ao prêmio e relacionados ao Brasil estão agendados para acontecer em Nova York do dia 13 ao dia 15. O voo de Dallas a Nova York dura mais de três horas.

Além disso, o prefeito de Dallas, Mike Rwalings, também é um democrata, como De Blasio. Mas pessoas próximas ao governo brasileiro, nos EUA, avaliam que, como o Estado do Texas é conservador, é menor o risco de uma reação política. O governador do Estado é republicano, e um dos senadores texanos, Ted Cruz, também republicano, recebeu no ano passado a visita do deputado e filho do presidente, Eduardo Bolsonaro.

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A homenagem a Bolsonaro tem sido alvo de protestos e resistências nos Estados Unidos. Primeiro, o Museu de História Natural da cidade se recusou a ser sede para o evento. Depois, Bolsonaro foi alvo de críticas por Bill de Blasio.

A Câmara de Comércio teve dificuldade em conseguir um lugar para realizar o evento em Nova York, mas por fim havia reservado um espaço em um hotel da rede Marriott, próximo à Times Square. Durante a última semana, ativistas de direitos LGBTQ passaram a pressionar empresas que patrocinam o evento a boicotar a premiação. Algumas empresas, como a Delta, decidiram deixar de patrocinar o jantar devido à pressão, e ativistas preparavam uma manifestação na porta do local, antes de o Planalto anunciar o cancelamento da viagem.

A ida de Bolsonaro para os EUA incluía, inicialmente, não só a participação no evento, mas outras agendas organizadas em parte pelo mercado financeiro, além de uma ida a Miami para reunião com base eleitoral e republicanos. 

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