Vitória de Covas reforça ‘guinada’ de Doria ao centro

Governador indica que pretende migrar para espaço já ocupado pelo prefeito reeleito em São Paulo e diz que reeleição é um ‘resgate’ do PSDB no plano nacional

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Por Bruno Ribeiro
Atualização:

A vitória de Bruno Covas (PSDB) representa o cumprimento de uma das etapas no projeto presidencial para 2022 do governador João Doria (PSDB). Mas o resultado ascendeu o prefeito, voz moderada no partido, a um posto de liderança nacional, o que tornou mais aguda a necessidade de o governador modular o discurso em direção ao centro para manter-se rumo a Brasília.

João Doria (PSDB), governador de São Paulo,celebra vitória do prefeitoBruno Covas (PSDB), reeleito no domingo, 29. Foto: Amanda Perobelli/Reuters

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Doria indica migrar para um espaço que Covas já ocupa. Ao falar com jornalistas após votar, ontem, ele citou três vezes a palavra “democracia” e disse que a reeleição era “um resgate” do partido no plano nacional. Ao Estadão, na semana passada, defendeu diálogos com a “centro-esquerda”. É um discurso diferente da oposição inegociável ao PT apresentado na eleição de 2018, quando ele defendia o slogan “Bolsodoria” e tentou uma aproximação de Jair Bolsonaro.

Mas Covas, que já se apresenta no centro, obteve o resultado de ontem com uma estratégia que deixou Doria de fora da propaganda e, na campanha, manteve a cordialidade com o adversário. Ele defendeu “a responsabilidade fiscal com justiça social” e, internamente, no PSDB, prestigiou tucanos que haviam perdido força após março de 2019, quando Bruno Araújo, candidato de Doria, foi eleito presidente da legenda.

A eleição “tem sentido de uma vitória porque Doria é o governador e o Bruno Covas foi seu vice-prefeito”, disse o cientista político José Álvaro Moisés, professor da Universidade de São Paulo (USP). “Mas Covas é um perfil que aponta para a recuperação da identidade social-democrata do partido e, nesse sentido, não se pode dizer que é uma vitória acachapante do João Doria.” 

Hegemonia

O movimento ao centro é vital para viabilizar uma candidatura hegemônica contra o bolsonarismo. Nesse sentido, o governador buscou diálogos com nomes como o governador do Maranhão (Flávio Dino, do PCdoB) e da Bahia (Rui Costa, do PT). Mas a própria candidatura já não é certa. “O quadro que estava de uma cor só ficou mais colorido”, com a possibilidade de novos nomes surgirem. “O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, por exemplo, tem sido mencionado muitas vezes como alternativa. Só o fato de aparecerem alternativas indica que a coisa não está definida”, completa Moisés.

A cientista política Maria do Socorro Braga, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), ressalta que Doria terá também de renegociar os acordos com partidos aliados como DEM e MDB, que também saíram vitoriosos. “Poderia haver um racha aí se Doria não aceitar uma chapa que esteja de acordo com ele. Doria pode ser até um problema para o PSDB”, uma vez que o partido deve buscar a volta à Presidência.

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Um sinal da viabilidade ou não de uma aliança de centro, avalia a professora, deve ser dado na eleição do Congresso, em que o centrão bolsonarista disputará a presidência das casas.