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Russomanno reafirma que falta de banho pode tornar morador de rua imune à covid-19

Segundo a Prefeitura de São Paulo, 30 pessoas em situação de rua morreram de coronavírus entre abril e setembro

Por Paula Reverbel
Atualização:

O deputado federal Celso Russomanno (Republicanos), candidato à Prefeitura de São Paulo, reafirmou nesta quarta-feira (14) a hipótese que levantou segundo a qual a falta de banho teria deixado moradores de rua e pessoas da região da cracolândia imunes à covid-19.

Apresentador Celso Russomanno, candidato do Republicanos ao cargo de prefeito de São Paulo. Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 16.09.2020

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“Eu estava fazendo uma consideração de que a ciência tem que explicar por que que eles (os moradores de rua) são imunes. Talvez porque tenham mais resistência, só por isso, era isso que eu queria falar. Eles têm mais resistência que a gente. O que eu disse, e volto a repetir, é que se alardeava – e eu começo falando isso – que os moradores e rua e que a cracolândia seriam dizimados , seriam exterminados pela covid-19. E não foi o que aconteceu. E (falei) que a ciência tem que explicar muito para a gente em relação à covid, era isso que eu estava considerando”, afirmou, na saída de um almoço com empresários de moda de atacado e de varejo do Brás.

Perguntado então, se ele mantinha a afirmação de terça-feira, Russomanno retrucou: “Vou te perguntar isso, é uma mentira ou uma verdade? Nós vamos combinar nós três hoje, às 18h, vamos lá no Pátio do Colégio e vamos perguntar se é uma verdade ou uma mentira. Topa? Topa? Quero saber se os aparelhos públicos dão banheiros para que eles possam tomar banho todos os dias. Dão?”, disse, direcionando a pergunta a dois jornalistas que o acompanhavam.

Russomanno havia tocado no assunto na terça-feira, durante evento promovido pela Associação Comercial de São Paulo, ao defender o isolamento vertical – modalidade de distanciamento social questionado por especialistas e defendido por seu cabo eleitoral, o presidente da República, Jair Bolsonaro, em que apenas pessoas de grupos de risco da covid-19, como idosos, seriam isolados.

De acordo com a Prefeitura de São Paulo, 300 pessoas em situação de rua foram diagnosticadas pelos programas Consultório na Rua e Redenção. Desses, 30 morreram em decorrência da doença.

O município de São Paulo possui mais de 24 mil moradores em situação de rua, entre os que ficam em abrigos e os que não têm vaga. Deles, 2,2 mil têm mais de 60 anos de idade.

Antes do deputado falar com repórteres nesta quarta, a campanha de Russomanno divulgou uma nota assinada pelo candidato em que ele afirma respeitar os cientistas e os moradores de rua e moradores da cracolândia. 

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“Numa palestra na Associação Comercial de São Paulo, falei sobre moradores de rua e a Cracolândia. Alguns jornalistas pinçaram frases minhas fora do contexto, que deturpavam o sentido do que eu falei. Vou esclarecer de uma vez por todas: eu respeito a ciência, não sou um negacionista. E respeito também os moradores de rua e da Cracolândia, que precisam da nossa compreensão e do nosso apoio, não com ações demagógicas, mas com providências que possam, de fato, minorar os problemas deles”, disse o texto.

A hipótese do Russomanno não tem nenhum respaldo na ciência e na medicina, de acordo com médico infectologista do Hospital Emílio Ribas Jamal Suleiman.

Suleiman também questiona a noção de que não houve moradores de rua que morreram em decorrência da doença. Ele afirmou que o Hospital Emílio Ribas atendeu vários nessas circunstâncias e acrescenta ainda que muitos moradores de rua nem chegam a procurar atendimento médico porque não entendem que podem confiar nas instituições – caso de dependentes químicos, por exemplo.

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