PUBLICIDADE

Ala tucana busca maioria para contestar decisão das prévias e barrar candidatura de Doria

Grupo de caciques do partido que apoiaram Eduardo Leite cobra que Doria mostre viabilidade eleitoral e busca apoio interno na sigla para impedir registro de candidatura até o prazo final do TSE

PUBLICIDADE

Por
Atualização:

BRASÍLIA - Reunidos em uma chácara localizada na fronteira do Distrito Federal com Goiás, caciques do PSDB debateram estratégias para evitar que o governador de São Paulo, João Doria, seja o candidato do partido ao Palácio do Planalto. Segundo relatos de participantes ouvidos pelo Estadão, a ideia é ampliar o diálogo com o resto da legenda e, se Doria não demonstrar crescimento nas pesquisas, até articular uma maioria para que o nome dele seja rejeitado na convenção partidária, que acontecerá entre julho e agosto e que vai definir a posição oficial do partido na disputa presidencial.

Estiveram presentes no encontro o deputado Aécio Neves (MG), o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, o senador Tasso Jereissati (CE) e o ex-senador José Aníbal (SP). O anfitrião do jantar foi Pimenta da Veiga, ex-prefeito de Belo Horizonte e ex-presidente do partido. Todos eles apoiaram Leite nas prévias que deram vitória a Doria. Tasso também se apresentou à disputa, mas desistiu de formalizar sua candidatura e se uniu ao governador gaúcho. 

Grupo de caciques do partido cobra que Doria mostre viabilidade e quer levar discussão sobre retirada da candidatura até o prazo final de registro. Foto: ERNESTO RODRIGUES/ESTADÃO

PUBLICIDADE

A conversa foi feita em um local afastado e longe dos holofotes, em uma região que abriga sítios e condomínios residenciais fechados no Distrito Federal. É a primeira vez que o grupo se reúne desde a derrota de Leite nas prévias do PSDB. A ideia é que a ala continue articulada e tente encontrar alternativas para o partido na eleição presidencial. Apesar do consenso de que o governador de São Paulo tem pouca viabilidade, ainda não há uma questão fechada sobre a opção a seguir. 

Tasso e Aníbal têm defendido o nome da senadora Simone Tebet (MS), que é pré-candidata a presidente pelo MDB. O senador cearense, inclusive, chegou a debater o assunto com o ex-presidente Michel Temer (MDB) e com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). Nas conversas, Tasso tem dito que Simone tem espaço para crescer e que tem baixa rejeição.

Já Aécio tem dito a aliados que é necessário fazer, primeiro, uma discussão interna no PSDB, antes de debater apoio a candidaturas de outros partidos. O mineiro ainda vê Eduardo Leite como opção da legenda. Em outra frente, o governador gaúcho foi sondado pelo presidente do PSD, Gilberto Kassab, para ser candidato ao Planalto pela sigla, mas Leite ainda não tomou uma posição sobre o assunto. Além disso, quadros históricos do partido, como o próprio Tasso e o ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira, têm sido procurados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para conversas que constrangem o projeto eleitoral do paulista.

A ala anti-Doria do PSDB quer cobrar um plano que mostre que o projeto presidencial de Doria pode decolar. A ideia é levar o debate até o limite, chegando ao prazo para o partido registrar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a candidatura. Em entrevista à Rádio Eldorado, o paulista classificou o encontro como "jantar de derrotados". Aliados do governador também se mobilizaram nas redes para defender que o resultado das prévias seja respeitado. Em relação à viabilidade da candidatura, Doria afirmou que poderá se dedicar mais às eleições quando sair do cargo em abril e começar a viajar pelo País.

Outro cenário que preocupa essa parte do PSDB é a eleição para a Câmara. O partido tem se desidratado na Casa Legislativa. Antes de 2018, a sigla costumava ficar entre as três maiores bancadas, sempre com mais de 50 deputados, mas hoje tem apenas 32, na sétima posição. Após a janela partidária, que acontece em março, a tendência é que o partido emagreça ainda mais, com uma perda de seis a dez parlamentares. A disputa por dinheiro do fundo eleitoral também impacta nesse processo, como mostrou o Estadão. Não lançar candidatura própria à Presidência significa liberar mais recursos para as eleições para deputado federal.

Publicidade

Participantes do jantar de ontem negam que venham a se desfiliar. No entanto, José Aníbal comentou que entende haver risco para uma possível debandada de deputados. "O duro é o seguinte: como você propõe a um parlamentar uma candidatura que está patinando? E se ela continuar patinando, como ele vai fazer? Olhe pelo lado prático", disse. 

Em entrevista ao Estadão em dezembro, Aécio mostrou preocupação com um eventual prejuízo para a bancada tucana. "Se nós formos para o isolamento, e eu espero que esse não seja nosso caminho, isso reflete inclusive na nossa presença nas assembleias, na nossa presença congressual. Mesmo que o PSDB não vença essas eleições, nós temos de sobreviver enquanto um partido sólido no Congresso", afirmou.

Depois de vencer as prévias, Doria fez acenos para a ala do partido que apoiou Eduardo Leite. Com aval do governador paulista, a bancada do PSDB na Câmara elegeu Adolfo Viana (BA) como líder. O deputado endossou a candidatura de Leite no processo interno, mas agora tem trabalhado para auxiliar Doria. Outra tentativa de unir o partido foi escolher o presidente do PSDB, Bruno Araújo, como coordenador da campanha. Mesmo tendo chegado ao comando da legenda apadrinhado por Doria, o dirigente também mantém proximidade com Leite e Aécio.

Apesar do clima de guerra e ataques mútuos entre Doria e Aécio, há aliados em comum entre os dois. O ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (sem partido-RJ) é um deles. Futuro coordenador do programa de governo do paulista, o deputado esteve há três semanas com Aécio. Ao Estadão, Maia afirmou que não falou sobre Doria com o mineiro e disse que apenas debateu a "conjuntura nacional" com um "amigo".

PUBLICIDADE

Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira, 9, mostra que Doria está no pelotão de baixo dos presidenciáveis. Em diferentes cenários da pesquisa estimulada, Lula (PT) aparece com 45% a 47%, seguido por Jair Bolsonaro (PL), que tem 23% a 26%. Moro e Ciro registraram 7% a 9% das intenções de voto. André Janones (Avante) e João Doria (PSDB) registraram 2% a 3%. Simone Tebet (MDB), 1%. Rodrigo Pacheco (PSD) e Felipe d’Avila (Novo) não pontuaram.

Menu

Os pratos do jantar tucano foram divulgados em uma rede social por Anna Paola Frade Pimenta da Veiga, mulher do anfitrião. Os tucanos foram servidos com filé e sofioli recheado com mussarela de búfala e queijo gorgonzola, mas o prato principal foi mesmo o projeto presidencial de Doria.

Publicidade

Correções

Diferentemente do que foi publicado na primeira versão desse texto, Pimenta da Veiga é ex-prefeito de Belo Horizonte.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.