Eleições municipais de 2020: São Paulo, Rio e BH já têm 26 possíveis candidatos

Com nova regra, disputa por prefeituras será ‘pulverizada’, preveem partidos e analistas ouvidos pelo ‘Estado’

PUBLICIDADE

Por Adriana Ferraz, Fernanda Boldrin e Ítalo Lo Re
5 min de leitura

A menos de um ano das eleições de 2020, aumenta a movimentação interna nos partidos por candidatos a prefeito e de políticos por legendas com capacidade financeira para custear campanhas. A partir do ano que vem, novas regras eleitorais devem resultar em um número maior de candidaturas. Somente Rio, Belo Horizonte e São Paulo já somam ao menos 26 cotados para a disputa de prefeituras.

A sede da Prefeitura de São Paulo, no centro da capital Foto: Reprodução/Google

Ao vetar coligações proporcionais, o Congresso impede que legendas sem nomes fortes na urna peguem carona em puxadores de voto de outros partidos, em prática que ficou conhecida como "efeito Tiririca". Já a cláusula de barreira, em vigor desde o ano passado, estabelece um desempenho eleitoral mínimo para que políticos tenham acesso ao fundo partidário e ao tempo gratuito de rádio e televisão.

Ao todo, 14 partidos não conseguiram passar por essa barreira no pleito do ano passado, perdendo, assim, acesso à verba pública destinada para custear as campanhas – nove com representação na Câmara. De lá pra cá, legendas incorporaram outras, como estratégia para ‘crescer’, ou liberam seus deputados a sair.

Rafael Greca, de Curitiba, deixou o PMN e foi para o DEM. O mesmo caminho foi seguido pelo prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, que trocou o PHS pelo PSD. Em ambos os casos, as siglas anteriores não atingiram a cláusula de barreira. Já Gean Loureiro, eleito pelo MDB para comandar Florianópolis, segue sem partido após se desfiliar do MDB. E essa lista pode aumentar ano que vem, quando a janela partidária permitirá uma nova leva de trocas partidárias.

“Quem foi eleito por um pequeno partido vai tentar buscar partidos maiores para concorrer, para ter verba para campanha. A não ser que o candidato tenha recursos próprios para se bancar sozinho”, explica o PhD em ciência política e professor da UFMG Felipe Nunes.

‘Pulverização’ leverá a mais disputas em segundo turno

Continua após a publicidade

Com a esperada ‘pulverização’ dos votos em função do fim das coligações proporcionais, outras consequências prováveis no pleito de 2020 são um aumento do número de eleições definidas em segundo turno – a legislação prevê o pleito em duas fases em municípios com mais de 200 mil eleitores – e o fortalecimento de quem já tem mandato. Entre as capitais, 14 dos 26 prefeitos podem tentar a recondução ao cargo.

Desde que a reeleição foi aprovada no Brasil, em 1997, todas as capitais, com exceção de São Paulo, reconduziram ao menos dois mandatários. Nesse mesmo período, os paulistanos só deram um segundo mandato a Gilberto Kassab (PSD), que havia se eleito anteriormente como vice na chapa de José Serra (PSDB). Situação que pode se repetir ano que vem, caso o atual prefeito, Bruno Covas (PSDB), que também era vice, consiga aval da população para permanecer no cargo.

Em São Paulo, mais um impacto é esperado: partidos que tradicionalmente não concorriam à Prefeitura vão, ano que vem, ter seus próprios candidatos. É o caso do PSB, do ex-governador Márcio França – que venceu João Doria na cidade ano passado na corrida pelo governo – e o PCdoB de Orlando Silva. Os dois já se colocam como pré-candidatos.

Outra novidade será a entrada do PSL do presidente Jair Bolsonaro na disputa pela capital. Líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann já se colocou como o nome da legenda, mas, sem consenso, terá de disputar internamente a indicação. O deputado estadual Gil Diniz, o “carteiro reaça”, já pediu prévias para a escolha do representante de Bolsonaro na urna.

Siqueira: ‘Candidatos fracos resvalam nos vereadores’

Em 2020, a escolha será fruto de um planejamento muito bem calculado. Segundo o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, os candidatos a prefeito assumem papel ainda mais estratégico nos partidos. “Se um candidato a prefeito for fraco, isso pode resvalar na candidatura de vereadores com boas chances de eleição”, afirma.

Continua após a publicidade

Para o prefeito de Salvador (em segundo mandato) e presidente do DEM, ACM Neto, o novo cenário “aumenta o estímulo para que o partido lance o maior número possível de candidatos a prefeito e vereador em todo o Brasil”. A sigla, que se diz “totalmente favorável ao fim das coligações”, acredita que o maior impacto da mudança virá em 2022, com a diminuição do número de partidos. “Permaneceriam, assim, só os partidos fortes e com capilaridade”, diz.

Otimista, o presidente do Cidadania, Roberto Freire, acredita que o processo de voto passará por uma reeducação a partir das novas regras. Para ele, o eleitorado terá mais discernimento sobre os partidos. Na mesma linha, Kassab, fundador e atual presidente do PSD, diz que o fim das coligações proporcionais e as cláusulas de desempenho farão com que os partidos tenham cada vez mais projetos com linha programática clara. Segundo ele, ainda que as novas regras diminuam a quantidade de legendas no futuro, a tendência é que elas sejam muito mais fortes e consolidadas.

O PSDB, também a favor do fim do fim das coligações, planeja ter candidatos próprios no maior número de cidades que conseguir. A perspectiva da legenda, que detém a maior quantidade de prefeitos em capitais do País (8, no total), é de que haverá concentração de mandatos em um número ainda menor de partidos.

PSL de Bolsonaro aposta em posição ‘ideológica’ bem definida

Luciano Bivar, presidente do PSL, afirma que a posição ideológica bem definida de seu partido fará com que a sigla tenha menos dificuldades com a mudança. A expectativa é que o presidente Jair Bolsonaro participe da escolha dos nomes que representarão a sigla em 2020. Conseguir ampliar a capilaridade da sigla em capitais e cidades estratégicas pelo País é uma das metas da legenda, dona hoje da maior fatia do fundo eleitoral.

Na perspectiva da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, a nova configuração não afeta tanto a política de candidaturas do partido, que sempre prezou por lançar o maior número possível de concorrentes. “A mudança fortalece legendas que têm organicidade e uma linha programática clara”, ressalta.

Novo é crítico à emenda: ‘Partidos deveriam ser livres’, diz Amoêdo

Continua após a publicidade

João Amoêdo, presidente do Novo, é o único líder partidário ouvido pelo Estado crítico à emenda. “A alteração, mais uma vez, ataca o sintoma, não o problema. Os partidos deveriam ser livres para se coligarem se tiverem pautas semelhantes, embora o façam basicamente para agregar tempo de propaganda eleitoral ‘gratuita’ ou por conta de interesses eleitorais locais”. Ainda assim, segundo ele, deveria caber ao eleitor vetar esse procedimento nas urnas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.