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A disputa eleitoral nas redes sociais

Pastores e influenciadores evangélicos apelam por jejum de até 3 dias para Bolsonaro reverter votos

Jovens evangélicos pedem oração, entre os dias 30 de setembro e 2 de outubro, pelas eleições no Brasil

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Por Levy Teles
Atualização:

Às vésperas do primeiro turno, pastores, influenciadores evangélicos e políticos de direita convocam jejuns e vigílias na tentativa de convencer fiéis indecisos ou eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a votar no presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição pelo PL. Os apelos se disseminaram nas redes sociais sob o argumento de que uma eventual vitória do petista representa um perigo ao País e à fé cristã.

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Pastores põem, ainda, em xeque pesquisas eleitorais - que hoje indicam o petista à frente do atual presidente -, afirmam que uma virada de Bolsonaro está prestes a acontecer e orientam cristãos a não votar em candidatos da esquerda. Na segunda e terça-feira, conteúdos impulsionados por líderes religiosos geraram 4,3 milhões de interações (compartilhamentos, curtidas e comentários) no YouTube, Instagram e Facebook.

Pesquisas de intenção de voto mostram que Bolsonaro lidera entre o eleitorado evangélico. Foto: Miguel Schincariol/AFP

Os dados foram compilados pela organização Casa Galileia, que promove ações e campanhas sobre cristãos no Brasil. O levantamento encontrou 843 publicações ligadas a perfis evangélicos. Desse número de postagens, nove em cada dez foram feitas por contas consideradas de extrema direita.

"O tom das mensagens é bem desesperado. Os pastores ainda não tinham feito um discurso assumindo que parte do eleitorado evangélico não vai votar em Bolsonaro e vai votar em Lula", diz Andréa Laís Barros Santos, doutoranda em Ciências Sociais na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e assessora de pesquisa da Casa Galileia.

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Com a participação do vereador bolsonarista Nikolas Ferreira, candidato a deputado federal pelo PL em Minas, jovens influenciadores cristãos se uniram em um vídeo para engajar evangélicos na eleição. "A nossa arma? Jejum e oração. A nossa luta? Contra o verdadeiro mal. E o nosso tempo? É agora", dizem.

Na sequência, eles fazem, então, um chamado: "Assim como a rainha Ester que entendeu seu propósito e convocou dias de jejum e oração pelo seu povo que estava em perigo, te convocamos para juntos, além de nos posicionarmos com um voto consciente, entrarmos em tempos de oração e jejum de três dias, entre os dias 30 de setembro e 2 de outubro, pelas eleições no Brasil".

Uma das principais cabos eleitorais do presidente junto às mulheres e aos evangélicos, a primeira-dama Michelle Bolsonaro compartilhou no Instagram um vídeo para um jejum de 12 horas já nesta quinta-feira, 29. "Vamos clamar pela Justiça, livramento de fraudes. O Brasil é do Senhor Jesus", anuncia o conteúdo, que também foi impulsionado pelo pastor Silas Malafaia, da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo.

 

Partem ainda de Malafaia suspeitas em relação às pesquisas. Ele pede pela participação dos evangélicos nas urnas. "Pesquisa não vota. Quem vota é você. Vamos dar uma resposta com nosso voto a essa safadeza dessa manipulação", afirma.

Como mostrou o Estadão, bolsonaristas têm recorrido às redes sociais para espalhar uma teoria da conspiração segundo a qual uma fraude eleitoral impedirá a reeleição de Bolsonaro, que deve vencer com mais de 60% das intenções de voto. O próprio presidente afirmou, em entrevistas, que terá esse patamar de votação. Embora a mais recente pesquisa Ipec, divulgada na segunda-feira, mostre ampla vantagem de Bolsonaro entre os evangélicos - 50% ante 29% de Lula -, o petista lidera a corrida com 48% a 31%.

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O movimento nas redes sociais busca reverter essa tendência. No YouTube, por exemplo, a pastora Valdirene Moreira pede, aos gritos, que fiéis votem. O vídeo teve, até o momento, 78 mil visualizações. "O destruidor quer entrar não só na nação brasileira, ele quer destruir a Terra", diz. "O inseticida tem número: 22", afirma ela, em referência ao número do partido de Bolsonaro na urna. "Diga não ao comunismo, diga não ao socialismo e à ditadura", afirma.

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Já em um vídeo em circulação em grupos evangélicos em aplicativos de mensagens, o youtuber bolsonarista Rafael Bitencourt pede aos fiéis que evitem a esquerda. "Se você (cristão) não quer caminhar pelo viés político, analise pela perspectiva espiritual: quem defende os valores que a Bíblia nos apresenta? Deus, liberdade, cristianismo. Em hipótese alguma, eu devo flertar com o outro lado", diz. O conteúdo registrou mais de 90 mil visualizações.

Vinicius do Valle, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Observatório Evangélico, afirma que hoje há um sentimento de angústia tanto na campanha do presidente como no meio evangélico mais alinhado ao bolsonarismo. "Há um problema de moral: quando o moral da tropa está baixo, há uma tentativa de levantar esse moral", diz.

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