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A disputa eleitoral nas redes sociais

'Pintou um clima': Fala de Bolsonaro sobre meninas venezuelanas gera mais de 1,8 milhão de posts nas redes

Análise de pesquisadores mostra que reação ao vídeo do presidente se sobrepôs a pauta da pedofilia que antes era mobilizada por Damares e outros aliados contra o PT

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Por Samuel Lima
Atualização:

A fala do presidente Jair Bolsonaro na qual ele relata que, ao avistar meninas venezuelanas "bonitas" de 14 e 15 anos, "pintou um clima", gerou mais de 1,8 milhão de posts no Twitter, de acordo com levantamento Novelo Data e Essa Tal Rede Social em um espaço de apenas dois dias. O relatório, divulgado nesta quinta-feira, 20, aponta que a declaração teve mais repercussão do que a mobilização de aliados do presidente na semana anterior, quando tentaram associar, em ao menos dois casos, pedofilia à esquerda, mas tiveram menos menções na plataforma, perdendo "a guerra digital".

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A declaração de Bolsonaro viralizou nas redes sociais no sábado após ter dado entrevista, na sexta-feira, a um podcast. "Eu estava em Brasília, na comunidade de São Sebastião, de moto. Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, no sábado, numa comunidade, e vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei, 'posso entrar na sua casa?', entrei", relatou o presidente. "Tinha umas 15, 20 meninas, (num) sábado de manhã, se arrumando, todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas, 14, 15 anos se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida."

Fala de Bolsonaro sobre venezuelanas virou munição para a campanha petista. Foto: Reprodução

Após repercussão negativa, Bolsonaro, candidato à reeleição, gravou uma declaração para se desculpar da afirmação feita. Em ao menos três ocasiões diferentes, ele havia dito que meninas venezuelanas visitadas por ele em 2020 estavam se prostituindo para viver no Brasil. O tema virou munição para a campanha petista. Influenciadores passaram a chamar Bolsonaro de pedófilo e o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), determinou a retirada de posts que relacionavam a declaração dada à prática de pedofilia.

"Em motores de busca como o Google, os 14 principais termos em ascensão nas buscas sobre Bolsonaro no último domingo, 16, faziam referência ao episódio", aponta o relatório. A campanha do candidato do PL pagou anúncios com o texto "Bolsonaro não é pedófilo", ao custo de R$ 160 mil.

Antes do episódio, uma das estratégias dos bolsonaristas expôs um vídeo da ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do governo Bolsonaro e senadora eleita pelo Distrito Federal, Damares Alves (Republicanos), discursando em uma igreja evangélica. Ela afirma na gravação que teria descoberto um esquema de tráfico de crianças da Ilha dos Marajós (PA) para o exterior, com a finalidade de exploração sexual. Instada a prestar esclarecimentos pelo Ministério Público Federal, Damares não apresentou provas. A ofensiva bolsonarista ainda procurou ligar o ator José Dumont, investigado por estupro de vulnerável e armazenamento de pornografia infantil, a adversários políticos.

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De acordo com o relatório dos grupos de pesquisa, a tentativa de emplacar o debate da pedofilia na disputa eleitoral acabou frustrada e se voltando para o próprio Bolsonaro. A quantidade de menções ao episódio do "pintou um clima" superou até mesmo o termo "debate" no final de semana em que ocorreu o primeiro encontro entre os dois candidatos ao Palácio do Planalto, na TV Bandeirantes.

O assunto foi impulsionado por influenciadores que apoiam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como Felipe Neto, e permaneceu aquecido por conta do uso na propaganda eleitoral petista, do veto posterior do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e da própria reação do lado bolsonarista, que envolveu justificativas da primeira-dama Michelle Bolsonaro, agenda oficial e pedido de desculpas do presidente.

Outros temas

A semana do dia 10 a 16 de outubro ainda foi marcada por eventos religiosos e pela mobilização em torno da pauta do crime organizado, predominantemente usada por apoiadores de Bolsonaro para atacar a esquerda.

O relatório destaca o debate sobre a visita do presidente ao Santuário de Aparecida, no interior de São Paulo, e a tese de "atentado" contra o candidato ao governo paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), considerada pouco provável pelas autoridades de segurança.

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No YouTube, os pesquisadores notam que a campanha de Bolsonaro vem ganhando apoio entre canais relevantes de finanças, futebol e games, em uma tentativa de conquistar votos fora do seu público mais fiel.

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