PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Tribunal do DF manda Ibaneis retomar modelo inicial de divulgação sobre mortos da pandemia

Após registrar recorde de óbitos, Secretaria de Saúde do Distrito Federal passou a divulgar somente mortes ocorridas no dia; modelo foi defendido por Bolsonaro em junho, mas foi barrado no Supremo

Por Paulo Roberto Netto
Atualização:

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal mandou o governo Ibaneis Rocha (MDB) voltar a divulgar os dados de mortos por covid-19 seguindo a metodologia adotada desde o início da pandemia. Na semana passada, a gestão distrital passou a divulgar somente o número de óbitos ocorridos no mesmo dia.

PUBLICIDADE

A medida foi tomada dois dias depois do secretário de saúde do Distrito Federal, Francisco Araújo, ser preso pela Operação Falso Negativo, que investiga superfaturamento na compra de testes para covid-19.

A metodologia adotada pelo governo Ibaneis deixou de somar vítimas que faleceram em outras datas, mas que só tiveram a confirmação da causa da morte determinada nas últimas 24 horas. O modelo é o mesmo que o governo federal, por ordem do presidente Jair Bolsonaro, tentou emplacar em junho, mas foi barrado pelo Supremo Tribunal Federal.

Segundo a desembargadora Diva Lucy de Faria Pereira, a mudança de metodologia adotada pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal, sob pretexto de 'reduzir o desassossego' da população após o DF registrar recorde de mortos, é 'insuperável falácia', pois 'oculta a real situação da pandemia no âmbito distrital'.

Publicidade

"A informação de quantidade de óbitos e de pessoas infectadas inferior à verificada pela apuração dos dados acumulados dos casos efetivamente ocorridos, mas não contabilizados no dia por diversos motivos, induz à equivocada impressão de controle e estagnação da pandemia, quando diversas outras circunstâncias evidenciam não ser essa a realidade ainda vivenciada no Distrito Federal".

A desembargadora classificou como 'atuação inovadora' empreendida pelo governo Ibaneis para alterar a metodologia de divulgação de óbitos, cujo resultado poderia desestimular a obediência às orientações de prevenção ao novo coronavírus.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha. Foto: José Cruz/Agência Brasil

A liminar foi proferida em ação apresentada pelo deputado distrital Chico Vigilante (PT-DF) após o secretário de Saúde do governo Ibaneis, Francisco Araújo, anunciar que alteraria a metodologia de divulgação dos mortos por covid. A mudança ocorreu após o Distrito Federal registrar recorde de mortos na semana passada.

A metodologia consiste em somente divulgar os números de óbitos registrados no mesmo dia, ignorando os casos em que a pessoa faleceu, mas só teve a confirmação da causa da morte registrada naquele dia. É um método pouco fiel para avaliar o avanço da doença, pois há vítimas que levam semanas para receber o diagnóstico da causa da morte.

Por exemplo, na quarta, 19, o Ministério da Saúde somou 1.212 mortos por covid-19. Deste total, 279 morreram e foram diagnosticadas na mesma quarta-feira e o restante foram óbitos que ocorreram em dias anteriores, mas cuja confirmação foi feita na quarta. A metodologia adotada por Ibaneis destacava o número menor de mortos.

Publicidade

No domingo, 23, a Rede Sustentabilidade, o PCdoB e o PSOL apresentação petição ao Supremo Tribunal Federal para derrubar a mudança adotada por Ibaneis, que chamaram de 'contabilidade criativa' de óbitos. O pedido foi encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

A metodologia de divulgação somente de óbitos do dia foi encabeçada pelo presidente Jair Bolsonaro em junho. Além de adiar a divulgação diária dos dados - o próprio presidente celebrou os atrasos dizendo que 'acabou matéria no Jornal Nacional' - o Planalto e o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, tentaram mudar a forma de divulgação de dados para tirar o foco do número de mortes.

Foi em resposta à tentativa do governo federal de alterar a divulgação dos dados que o consórcio de veículos de imprensa, formado pelo Estadão, Folha de S. Paulo, O Globo, Extra, G1 e UOL passou a divulgar diariamente boletim próprio sobre a covid-19 em trabalho conjunto, com base nas informações colhidas junto a secretarias estaduais de Saúde.

No Supremo, a metodologia defendida por Bolsonaro foi barrada pelo ministro Alexandre de Moraes, que vislumbrou violação ao direito da transparência. O Planalto recuou e não adotou mais a divulgação somente de mortos do dia.

COM A PALAVRA, O GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL A Secretaria de Saúde do DF informa que, assim que for notificada, a decisão será cumprida. A Procuradoria-Geral do Distrito Federal ainda não foi intimada da decisão.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.