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'Sombra' exigiu R$ 5 milhões para evitar 'o mal maior', diz investigação sobre fraudes na limpeza de São Paulo

Operação 'Chorume', fase 7 da Operação Descarte, que rastreia crimes em contratos da limpeza urbana da capital paulista, indica que Alfredo de Almeida Barros, o 'Shadow', dizia que poderia atuar para barrar a comunicação de fiscalização da Receita para o Ministério Público

Por Pedro Prata
Atualização:

Apontado como engrenagem fundamental no esquema de emissão de notas fiscais frias e entrega de dinheiro para o Consórcio Soma, que era responsável pelos serviços de limpeza urbana de São Paulo, o escritório Claro Advogados tentou travar investigações. Luiz Carlos da Fonseca Claro e Gabriel Silveira da Fonseca Claro, pai e filho, relataram no âmbito de delação premiada como abordaram quem pudesse 'intervir' dentro da Receita Federal.

O esquema é alvo da Polícia Federal. Na terça, 4, foi deflagrada a Operação Chorume, 7.ª fase da Operação Descarte, por ordem da juíza Silvia Maria Rocha, da 2.ª Vara Criminal Federal de São Paulo. A PF pediu a prisão de sete investigados, mas a magistrada não autorizou.

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CHORUME - PARTE 1

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CHORUME - PARTE 2

Os delatores Claro revelaram ao Ministério Público Federal detalhes sobre vendas fictícias de mercadorias para o consórcio de limpeza urbana Soma - criado em 2011 -, segundo eles, com o objetivo de formação de caixa 2 para partidos em campanhas eleitorais e propinas a servidores públicos e a políticos.

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CHORUME - PARTE 3

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CHORUME - PARTE 4

Segundo os delatores, Antonio Kanji Hoshikawa, conhecido como 'Tião', foi quem procurou o Claro Advogados para 'obtenção de recursos em espécie' a favor das empresas do Soma - Estre, CGR, Corpus, Cavo e Recontrol.

'Tião' seria assessor direto de Wilson Quintella Filho, executivo ligado ao grupo Estre.

Trecho da delação do clã Claro, no qual relatam reunião com 'Sombra'. Foto: Reprodução

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O avanço da fiscalização da Receita sobre as empresas do Grupo Estre preocupavam 'Tião', apontado pelos investigadores como o 'assessor' do grupo Estre Ambiental, principal empresa do consórcio.

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Ele externou sua preocupação ao clã Claro que, por sua vez, pediu ajuda a Marco Antonio Puig da Silva Reis, o 'Mister M.'

'Mister M.' já foi preso na Operação Déjà Vu, deflagrada pela PF em 2008 para apurar crimes dentro dos Correios.

Naquela ocasião, a Justiça sustentou assim o decreto de prisão de 'Mister M.' "Há fortes indícios de que seja o articulador de esquemas fraudulentos em diversos órgãos públicos, mediante tráfico de influência e corrupção ativa."

Marco Puig atendeu ao pedido do clã Claro, e indicou Alfredo Almeida Barros para o serviço.

Barros, por sua vez, era funcionário do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados).

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Segundo os autos da Operação 'Chorume', ele foi indiciado pela PF em 2017 por ter supostamente 'fornecido certidão de regularidade fiscal falsificada para que a empresa Servilimpe pudesse ser contratada pelo setor público'.

Apresentado como um 'alto funcionário da Receita', Alfredo se encontrou com Gabriel e Luiz Carlos Claro em restaurantes de São Paulo.

Conversa de um dos advogados da Claro com Luiz Carlos sobre 'Shadow'. Foto: Reprodução

Segundo o depoimento dos delatores, 'para demonstrar sua influência, ele lhes apresentou notificações e intimações de empresas do Grupo Estre realizadas pela Receita Federal do Brasil, o que, em tese, apenas servidores da Receita teriam acesso, como também mencionou os nomes dos auditores fiscais que estariam a frente da fiscalização, o que demonstra que teve acesso a dados sigilosos da Receita Federal'.

Desde o início, os envolvidos no esquema deram a Alfredo Almeida Barros a alcunha de 'Shadow' para dificultar o reconhecimento de sua identidade.

Tabela de pagamentos a 'Mister M.'. Foto: Reprodução

Ainda segundo os delatores, 'Shadow' teria dito que 'tinha poucos mecanismos para intervir junto à fiscalização'. Contudo, poderia atuar quando os procedimentos de fiscalização chegassem a Brasília, 'com vistas a evitar o mal maior que seria a comunicação para o Ministério Público'.

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Ele primeiro teria exigido contrapartida de R$ 5 milhões, mas acabou baixando a pedida para R$ 3 milhões. Metade deveria ser paga antes e a outra metade após sua intervenção.

Essa proposta teve a autorização de Wilson Quintella, executivo da Estre Ambiental, segundo os investigadores.

Dessa forma, foi realizado o pagamento de R$ 1,5 milhão para 'Shadow' em espécie em várias etapas de R$ 100 mil cada, em média, entregues por Luiz Carlos Claro.

Uma quantia de cerca de R$ 180 mil teria sido paga a 'Mister M.' pela indicação de 'Shadow'.

Tabela de pagamentos a 'Mister M.' e 'Kung', identificado pelos investigadores como sendo 'Tião'. Foto: Reprodução

Apesar disso, 'Shadow' não apresentou atuação satisfatória ao esquema, motivo pelo qual os integrantes do esquema interromperam a relação com ele.

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Os investigadores apreenderam planilha intitulada 'Controle Cash - A' na sede da Claro Advogados que continha o registro dos pagamentos feitos a Shadow.

Entre janeiro e julho de 2017, o escritório pagou um total de R$ 620 mil, em 13 pagamentos nunca superiores a R$ 100 mil por ser o valor que o banco deve obrigatoriamente informar para órgãos de controle como o antigo Coaf.

Os pagamentos a 'Shadow' nunca ultrapassavam R$ 100 mil, valor que os bancos são obrigados a informar ao Coaf. Foto: Reprodução

Outras planilhas dão conta de pagamentos de R$ 5,7 milhões a 'Kung', apelido de Antonio Kanji, e R$ 150 mil a 'Mister M', ou Marco Puig.

Já na planilha 'Japan' há o registro do pagamento de R$ 500 mil entre outubro de 2015 e março de 2017 a 'Shadow', além de R$ 150 mil para 'Mister M' de novembro de 2016 a fevereiro de 2017.

COM A PALAVRA, O GRUPO SOMA

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Na terça, 4, quando a Operação Chorume foi deflagrada, o Grupo Soma divulgou a nota abaixo.

"A Cavo, líder do extinto consórcio Soma, informa que não tem conhecimento sobre a operação da Polícia Federal executada nesta terça-feira. Nenhum escritório da empresa foi alvo da ação."

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