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Procuradoria pede à PF inquérito contra Sérgio Camargo por racismo

Áudios obtidos pelo Estadão aumentaram pressão por investigação contra dirigente da Fundação Palmares que chamou movimento negro de 'escória maldita'

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Por Vera Rosa , Julia Lidner/BRASÍLIA e Rayssa Motta/SÃO PAULO
Atualização:

O Ministério Público Federal pediu, nesta sexta-feira, 5, a abertura de inquérito para apurar se o presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, cometeu crime de racismo em uma reunião com assessores.

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Áudios do encontro foram obtidos pelo Estadão e mostram que Camargo classificou o movimento negro como 'escória maldita' que abriga 'vagabundos' (ouça abaixo). Ele também chamou Zumbi de 'filho da puta que escravizava pretos', se referiu a uma mãe de santo como 'macumbeira' e prometeu demitir diretores da autarquia que não tiverem como 'meta' a demissão de 'esquerdista'.

O procurador Peterson de Paula Pereira deu 30 dias para que a Polícia Federal comece as investigações, que deverão ser finalizadas no prazo de 90 dias. Os policiais vão ouvir o próprio Camargo e os auxiliares que participaram da reunião, além de periciar os áudios.

Na quinta-feira, 4, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão encaminhou um ofício ao MPF pedindo uma investigação não somente por racismo, mas também por improbidade administrativa. Para o procurador federal dos Direitos do Cidadão, Carlos Alberto Vilhena, a conduta revelada nos áudios demonstra 'possível desvio de poder' - tanto pela manifestação contrária do movimento negro, cuja atribuição legal da Fundação Palmares é proteger, quanto pela promessa de exonerar servidores com base em critério ideológico. A representação foi distribuída para análise do procurador Wilson Rocha de Almeida Neto, titular do 2º ofício de Cidadania, Seguridade e Educação.

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Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares Foto: Gabriela Biló/Estadão

Após a revelação dos áudios, dezenas de organizações de direitos civis, lideranças religiosas e entidades do movimento negro também enviaram representações ao MPF cobrando a abertura de um inquérito. Elas pedem ainda que seja instaurado procedimento para afastar o jornalista do cargo. O movimento foi endossado por parlamentares do PSOL, PSB, PT, PDT e PCdoB.

Discípulo do escritor Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo, Camargo se apresenta no Twitter como um 'negro de direita, antivitimista, inimigo do politicamente correto, livre'. Desde sua posse, em novembro de 2019, algumas de suas declarações causaram revolta entre ativistas do movimento negro. Em 13 de maio, publicou artigos e usou as redes sociais para depreciar a memória de Zumbi dos Palmares, chegando a questionar sua existência - o que lhe rendeu uma representação por improbidade administrativa na Procuradoria da República no Distrito Federal.Em outras falas, disse ter 'asco e vergonha da negrada militante' e afirmou que são 'escravos da esquerda'.

Em um post recente, após o assassinato de Floyd - vítima da brutalidade policial norte-americana -, Camargo afirmou, por exemplo, que 'nosso inútil movimento negro tenta importar para o Brasil os atos anarquistas e criminosos do Black Lives Matter, a antifa negra dos EUA'.

 

 

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