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PGR recorre da decisão de Alexandre que não abre mão da relatoria de investigação contra Ricardo Salles

Vice-procurador-geral defende que questão seja levada ao presidente do Supremo, Luiz Fux, ou diretamente ao plenário do tribunal

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Por Eliane Cantanhêde , Rayssa Motta e Fausto Macedo
Atualização:

O vice-procurador-geral da República Humberto Jacques de Medeiros entrou com um agravo regimental no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar reverter a recusa do ministro Alexandre de Moraes em abdicar da relatoria da ação que gerou busca e apreensão contra o ministro do meio Ambiente, Ricardo Salles.

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Documento

Leia o agravo

No agravo, o procurador apresenta duas alternativas: levar a questão ao presidente do Supremo, Luiz Fux, ou diretamente ao plenário do tribunal.

"O Ministério Público Federal recorre para que a dissonância entre titular da ação penal e relator - ou relatores - seja resolvida com precoce preclusão para o curso do feito, com redução de riscos processuais", diz um trecho do documento.

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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Foto: Nelson Jr./SCO/STF

O argumento é o mesmo usado no primeiro pedido para afastar Moraes do caso: a alegada falta de elementos que atraiam a competência dele para assumir a relatoria da investigação. "Conflitos em conflitos, qual os de competência ou jurisdição, reclamam solução pronta e definitiva. Isso é o que aqui se busca", afirma o vice-procurador.

Desde que a Operação Akuanduba estourou na semana passada, tornando públicas as suspeitas da Polícia Federal sobre a possível participação de Salles no favorecimento de empresas para exportação ilegal de madeira, a PGR passou a defender que o inquérito deveria ser incorporado ao acervo da ministra Cármen Lúcia. Ela já é responsável por uma ação conexa: a denúncia do delegado Alexandre Saraiva, ex-superintendente da PF no Amazonas, de que Salles obstruiu a maior investigação ambiental em favor de quadrilhas de madeireiros.

"Não se pode desconsiderar que ambas as investigações assumem como hipótese criminal central a atuação coordenada de servidores da área ambiental, liderados pelo Ministro do Meio Ambiente, para atender a interesses escusos em detrimento de suas funções institucionais", argumenta Jacques de Medeiros.

Antes de autorizar as buscas na última quarta, 19, Moraes atendeu a um pedido da Polícia Federal e desarquivou uma notícia-crime, engavetada desde outubro, que atribui ao ministro do Meio Ambiente os crimes de prevaricação, advocacia administrativa e de responsabilidade na reunião ministerial em que ele sugeriu aproveitar a pandemia para 'passar a boiada' em medidas regulatórias. O caso foi arquivado depois que a PGR não viu indícios de crimes que justificassem a abertura de uma investigação. Segundo o ministro, o processo, mais antigo, se refere 'exatamente aos mesmos fatos' investigados pela Polícia Federal. Por isso, o inquérito da PF teria ido parar nas mãos dele.

Na outra ponta, o vice-procurador defende que o 'desarquivamento de uma representação fracassada' não pode se sobrepor ao reconhecimento da prevenção quando há uma 'investigação símile em andamento'.

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"As provas colhidas pela autoridade policial no âmbito do IPL 2021.0003967 - SR/PF/DF e aquelas obtidas após a deflagração da "Operação Akuanduba" deverão de ser utilizadas no caso em andamento sob a relatoria da Ministra Cármen Lúcia. É essa a medida razoável, tendo em vista o estágio da tramitação processual dos feitos de que ora se cuida, evitando-se o inadequado recurso a uma 'litigância estratégica policial'", crava Jacques de Medeiros.

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A empreitada para tentar tirar Moraes da investigação vem em um contexto de animosidade com a PGR. Isso porque o ministro deu aval para a abertura da Operação Akuanduba sem consultar previamente o órgão, como de praxe. No agravo enviado ao Supremo, o vice-procurador 'alfinetou' a conduta do ministro. "A ausência de abertura de vista à Procuradoria-Geral da República - previamente ao deferimento das medidas cautelares requeridas pela autoridade policial - contribuiu para o adensamento do conflito quanto à relatoria preventa", registrou. Dois dias depois da operação, Aras entrou com ação no STF para que todo juiz sempre ouça o Ministério Público antes de decidir sobre pedidos de prisão provisória, interceptação telefônica ou captação ambiental, quebra de sigilos fiscal, bancário, telefônico e de dados, busca e apreensão, entre outras.

Mais cedo, o próprio Alexandre de Moraes negou abrir da relatoria da investigação. Na decisão, ele classificou o pedido da PGR para afastá-lo do caso como 'suis generis' - expressão em latim que significa 'peculiar'. "Não há qualquer dúvida sobre a competência desse relator para prosseguir na relatoria", disse. Nos bastidores do Supremo, o ministro tem dito que o pedido não passa de uma manobra do procurador-geral para defender o governo e o próprio Salles, que é considerado um dos ministros mais próximos do presidente Jair Bolsonaro.

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