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PF vê irmão de Ricardo Coutinho sócio oculto da 'Paraíba de Prêmios' para desvio de fortuna da Saúde

Coriolano Coutinho, irmão do ex-governador da Paraíba, foi alvo nesta terça, 10, de buscas e apreensões da Operação Calvário, fase 8, e é suspeito de ligação com esquema de casa lotérica para lavar dinheiro público

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Por Luiz Vassallo e Pedro Prata
Atualização:

 Foto: PF/Divulgação

Alvo de buscas e apreensões na fase 8 da Operação Calvário, deflagrada nesta terça, 10, Coriolano Coutinho, irmão do ex-governador da Paraíba Ricardo Coutinho (PSB), é apontado como o suposto sócio oculto de uma casa lotérica usada pela Cruz Vermelha para lavar dinheiro dos esquemas de desvios na Saúde.

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CALVÁRIO 8

Mais uma vez, a delação do lobista Daniel Gomes voltou, nesta terça, 10, a ser pivô da nova etapa da Operação Calvário.

Em seu acordo com a Procuradoria-Geral da República, ele implica, além do ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), deputados, conselheiros de Contas, o ex-senador Ney Suassuna, e até mesmo supostos esquemas em outros Estados, como no Rio, onde são citados o governador Wilson Witzel, o ex-deputado Cândido Vaccarezza, e o ex-ministro Leonardo Picciani (MDB).

Desta vez a delação do empresário levou o Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) e a Polícia Federal na Paraíba a mirar o suposto envolvimento do irmão do ex-governador nos esquemas.

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Ricardo Coutinho já é denunciado por organização criminosa, em razão dos esquemas que teriam subtraído R$ 134,2 milhões dos cofres públicos da Paraíba.

De acordo com a decisão do desembargador Ricardo Vital de Almeida, relator da Calvário no Tribunal de Justiça da Paraíba, a delação 'revela a articulação engendrada por Ricardo Coutinho e seu irmão Coriolano Coutinho para se assenhorarem do lucrativo negócio de jogos de apostas que funcionou na Paraíba no segundo semestre de 2017, chamado 'Bilhetão da Sorte' e controlado, à época, pela Cruz Vermelha do Brasil'.

 Foto: PF/Divulgação

Daniel afirma que no final de 2017, a Cruz Vermelha, filial da Paraíba, recebeu um convite da empresa Bilhetão Serviço de Intermediação, para 'lançar um certificado de contribuição em nome da CVB-PB no Estado da Paraíba. "Eles confidenciaram a Daniel Gomes da Silva que já tinham negócios com aquela empresa em outros estados para viabilizar o esquema de pagamento de propinas entre eles".

A negociata teria o envolvimento do então Presidente da Cruz Vermelha Nacional Júlio Cals Alencar, do então Vice Presidente Nacional Victor Hugo Costa Cabral e do Presidente da Cruz Vermelha do Ceará Allan Damasceno.

Daniel Gomes da Silva afirmou 'ter gostado da ideia e, após conversa com Mayara de Fátima Martins, então Secretária-Geral da CVB/PB, decidiu por assinar contrato com a empresa Bilhetão - o que, de fato, ocorreu no dia 7 de novembro de 2017 (contrato anexo) - para lançar o produto 'Bilhetão da Sorte' com o objetivo de ajudar a sustentar as despesas da filial paraibana'.

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De acordo com a Promotoria e a PF, 'em virtude do sucesso de vendas e veiculação da marca, Daniel Gomes da Silva recebeu mensagens da Secretária de Administração Livânia Farias e do Procurador-Geral do Estado Gilberto Carneiro, perguntando sobre o que seria o tal 'Bilhetão' e qual seria a participação dele, Daniel Gomes da Silva, naquele negócio'.

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"A Secretária Livânia Farias teria informado a Daniel Gomes da Silva que Ricardo Coutinho gostaria de tratar do assunto em reunião urgente", narra a decisão do desembargador, sobre as investigações.

De acordo com as investigações, o ingresso de Daniel no esquema Bilhetão teria desagradado Ricardo, que queria 'resolver o inconveniente'. Coriolano, então, teria dito em reunião, que apresentou uma denúncia à Lotep para interditar o 'Bilhetão'.

Segundo o desembargador, 'a interferência de CORIOLANO COUTINHO se mostrou de grande eficácia, notadamente porque resultou no fechamento da empresa de loteria o 'Bilhetão', evidenciando, sobretudo, a ingerência que o mencionado investigado exercia na LOTEP'.

O delator apresentou inclusive um áudio de conversa com Coriolano Coutinho. "Nesse áudio, queda iniludível o domínio de fato do irmão do ex-governador sobre a gerência da LOTEP e seu interesse em substituir o produto 'Bilhetão da Sorte' por outro que melhor atendesse a seus interesses financeiros privados", anotou o magistrado.

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De acordo com o desembargador, 'nesse diálogo, Coriolano Coutinho fala que eles têm um órgão que disciplina todo o processo (LOTEP)'. "Diz, ainda, que levou muito tempo pra se construir uma coisa e agora de uma hora pra outra pode ir tudo pra trás, sinalizando ter o controle total da operação das apostas e a intenção de não querer abrir mão para uma nova empresa entrar no Estado, ainda mais com o apoio da CVB".

"Quando DANIEL GOMES DA SILVA afirma que poderia tirar a CVB desse contrato, mas nada impediria que o "BILHETÃO" funcionasse com apoio de outra instituição de caridade, CORIOLANO COUTINHO diz que tinha acabado de sair/discutir com a LOTEP sobre isso, demonstrando domínio/influência pela fiscalização do Estado/LOTEP", relata o desembargador.

O magistrado narra que 'nessa reunião, Daniel Gomes da Silva e Coriolano Coutinho decidiram que seria realizado o distrato entre a Cruz Vermelha Brasileira - Filial do Estado da Paraíba e a empresa "Bilhetão Serviços e Intermediação LTDA ME", o que realmente se concretizou, nos moldes do instrumento colacionado pelo MP'.

"Com esse distrato, o caminho ficou livre para a formalização da parceira entre a CVB/PB e a Paraíba de Prêmios, essa sim de interesse de Coriolano Coutinho, que usufruindo, em tese, da sua ingerência na LOTEP, conseguiu agilizar todo o processo", diz o desembargador.

Os investigadores acreditam que Coriolano seja o sócio oculto da 'Paraíba de Prêmios', que assumiu o termo após a saída do 'Bilhetão'.

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