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PF faz buscas contra governador do Amazonas e tenta prender secretário da saúde em investigação sobre suspeita de fraude na pandemia

Operação Sangria executa mandados de busca e apreensão na casa e no gabinete de Wilson Lima e tenta cumprir ordem de prisão decretada contra Marcellus Campelo; ofensiva foi aberta por ordem do Superior Tribunal de Justiça, que determinou ainda o sequestro de bens e valores dos investigados

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Foto do author Pepita Ortega
Por Pepita Ortega , Fausto Macedo/SÃO PAULO , Alisson Castro e Eduardo Amaral
Atualização:

O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC). Foto: Diego Peres / Secom-AM / Reprodução

A Polícia Federal fez buscas na casa e no gabinete do governador Wilson Lima (PSC) e tenta executar uma ordem de prisão contra o secretário estadual de Saúde Marcellus Campelo nesta quarta, 2, no âmbito da quarta fase da Operação Sangria, que investiga supostas fraudes e superfaturamento em contrato para instalação de hospital de campanha no Amazonas. A ofensiva mira supostos crimes de organização criminosa, fraude a licitação e desvio de recursos públicos envolvendo empresários e servidores da cúpula da gestão do sistema de saúde do Estado.

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Ao todo, agentes cumprem seis mandados de prisão temporária e vasculham 19 endereços em Manaus (AM) e em Porto Alegre (RS). As ordens foram expedidas pelo Superior Tribunal de Justiça, que ainda autorizou a quebra dos sigilos bancário e fiscal de 27 pessoas e empresas e determinou o sequestro de bens de 12 investigados, em valor que supera R$ 22,8 milhões.

Durante o cumprimento de uma das ordens de prisão, contra o empresário Nilton Costa Lins Júnior, a PF foi recebida a tiros. Ninguém ficou ferido e o mandado contra o herdeiro do hospital Nilton Lins, alugado pelo governo para funcionar como hospital de campanha, foi cumprido. O investigado é da família das gêmeas Gabrielle e Isabelle Kirk Lins que são investigadas por suspeita de furar a fila da vacinação contra a covid-19 no Amazonas.

Durante sessão da corte Especial do STJ, a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo classificou a situação dos tiros durante a operação da PF como 'bastante constrangedora', 'perigosa' e 'suis generis'. O colegiado iria analisar uma das duas denúncias apresentadas contra Wilson Lima, por irregularidades na compra de respiradores para tratar pacientes infectados pelo novo coronavírus, mas o caso foi retirado de pauta.

Sobre o incidente do tiro, o advogado da família de Nilton Lins argumentou que foi um tiro para cima como sinal de advertência e foi feito porque a família foi alvo de um assalto em outubro do ano passado. Na época, bandidos fizeram a família refém e o empresário pensou que se tratava de novo assalto a sua casa.

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Em Porto Alegre, a Operação Sangria 4 cumpriu um mandado de prisão e dois de busca e apreensão. Um empresário foi preso temporariamente e encaminhado à Superintendência da PF em Porto Alegre. As buscas foram feitas na casa e no escritório do investigado, ambas na zona Sul da cidade. Durante a diligência, os agentes da PF apreenderam um carro Mercedes, modelo C180.

A quarta fase da Operação Sangria

De acordo com as investigações, 'há indícios de que funcionários do alto escalão da Secretaria de Saúde do Amazonas realizaram contratação fraudulenta de um hospital de campanha para favorecer grupo de empresários locais, sob orientação da cúpula do Governo do Estado'.

"Verificou-se, ainda, que contratos das áreas de conservação e limpeza, lavanderia hospitalar e diagnóstico por imagem, todos os três firmados em janeiro de 2021 com o Governo do Amazonas, cujos serviços são prestados em apoio ao hospital de campanha, contêm indícios de montagem e direcionamento de procedimento licitatório, prática de sobrepreço e não prestação de serviços contratados", indicou ainda a PF em nota.

A Polícia Federal indica que os investigados poderão responder, na medida de suas responsabilidades, pelos crimes de fraude à licitação, peculato e pertencimento a organização criminosa e, se condenados, poderão cumprir pena de até 24 anos de reclusão.

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As três fases anteriores se deram em junho, outubro e novembro do ano passado e miraram supostas fraudes na compra emergencial de R$ 2,9 milhões em respiradores pelo Estado do Amazonas. A investigação culminou na apresentação de denúncia, na véspera do início dos trabalhos da CPI da Covid, contra Wilson Lima, o vice-governador, Carlos Almeida (PTB), o secretário chefe da Casa Civil do estado, Flávio Antony Filho, o ex-secretário de Saúde Rodrigo Tobias e outras 14 pessoas (servidores públicos e empresários).

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COM A PALAVRA, O GOVERNO DO AMAZONAS

"O Governo do Amazonas informa que é de total interesse do Estado que os fatos relacionados às investigações em curso sejam esclarecidos. O governador Wilson Lima reitera que, desde o início da pandemia de Covid-19, sua gestão está voltada a preservar a saúde do povo do Amazonas e a salvar vidas, tendo determinado aos gestores estaduais que empreguem todos os esforços possíveis com esse objetivo, sempre pautando as ações públicas pelos princípios da legalidade e da transparência.

Desta forma, todos os investimentos feitos pelo Estado no enfrentamento da pandemia têm obedecido os trâmites legais de contratação de bens e serviços, sendo acompanhados de perto inclusive pelos órgãos de controle e também com prestação de contas sobre os gastos rigorosamente detalhados no Portal da Transparência.

O governador Wilson Lima reafirma que se mantém à disposição das autoridades competentes para esclarecimentos sobre as ações de seu governo e reitera que está convicto de que não cometeu qualquer ilegalidade e que confia na Justiça."

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Veja registros da operação:

Quarta fase da Operação Sangria. Foto: Polícia Federal

Quarta fase da Operação Sangria. Foto: Polícia Federal
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