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Ministros do Supremo veem com desconfiança 'recuo' de Bolsonaro

Percepção predominante intramuros é de que o chefe do Executivo fez o movimento de conciliação por medo

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Por Weslley Galzo/BRASÍLIA
Atualização:

O recuo tático do presidente Jair Bolsonaro com a nota emitida na tarde desta quinta-feira, 9, foi recebido com desconfiança pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A percepção predominante intramuros é de que o chefe do Executivo fez o movimento de conciliação por medo. Por isso, a estratégia adotada pelos magistrados foi a de aguardar para ver se a bandeira branca se mantém estendida diante das novas crises que rondam o governo na esteira dos eventos de 7 de setembro.

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Na avaliação de ministros ouvidos pelo Estadão, a 'Operação 7 de Setembro' deu errado. Os organizadores das manifestações prometiam colocar 2 milhões de pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo, e ao menos 1 milhão de apoiadores na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Os números oficiais, porém, dão conta de, respectivamente, 125 mil e 80 mil manifestantes em cada ato.

Além de entregar menos do que prometeu nas ruas, um ministro do Supremo avaliou que Bolsonaro não conseguiu apoio dos policiais ao ponto de estourarem motins nos estados. Os dias seguintes às manifestações vieram acompanhados de greve de caminhoneiros, que paralisaram rodovias em 15 estados, em apoio ao governo federal. A demanda dos grevistas é por um encontro com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para pressionar o chefe do Congresso a reconsiderar sua posição e abrir o processo de impeachment enviado pelo presidente contra o ministro Alexandre de Moraes.

Presidente Jair Bolsonaro em cerimônia no Supremo Tribunal Federal. Foto: MARCOS CORRÊA/PR

Bolsonaro enviou mensagens de áudio aos caminhoneiros para pedir que se desmobilizem antes que haja desabastecimento nas cidades e o preço da greve seja pago pelo governo. No turbilhão após o feriado da independência, o ex-presidente Michel Temer (MDB) encarnou a figura de conselheiro do governo. Ele próprio avisou ao presidente que se a greve persistir por mais uma semana sua permanência no Palácio do Planalto ficará ameaçada. A avaliação é compartilhada por ministros do Supremo.

Em 2018, Temer enfrentou nove dias de paralisação dos caminhoneiros, evento que lhe custou quedas vertiginosas de popularidade e ameaças de deposição. Na tentativa de evitar que o mesmo ocorra com Bolsonaro, o ex-presidente mediou uma conversa entre ele e o seu indicado ao STF, Alexandre de Moraes, em busca de debelar ao menos uma das crises que pairam sobre o governo.

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Na Corte tramitam quatro inquéritos contra Bolsonaro e a Segunda Turma do Supremo decidirá em breve o futuro do senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ) no caso das rachadinhas. Além disso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem em mãos um relatório praticamente pronto que pode levar à cassação da chapa Bolsonaro-Mourão por supostos crimes cometidos na campanha de 2018. Outro fator é o peso que os ministros teriam em apoiar a deflagração de um processo de impeachment, que ganhou corpo nos últimos dias em negociações da oposição com o Centrão.

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