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Valeixo fica na PF

Ministro da Justiça, desde o início da crise, se esforçou para manter delegado no comando da Polícia Federal, uma indicação sua para o cargo

Por BRASÍLIA
Atualização:

Delegado Maurício Valeixo, futuro diretor-geral da Polícia Federal. FOTO DENIS FERREIRA NETTO / ESTADAO 

O diretor-geral da Polícia Federal, delegado Maurício Valeixo, volta de férias nesta quinta-feira, 19, e continua no cargo, segundo apurou o Estado com fontes a par do assunto. O ministro da Justiça, Sérgio Moro, já teria dado a Valeixo a informação de que ele não será substituído pelo menos por enquanto. Procurado, o ministro disse que não comentará o assunto.

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A saída de Valeixo era dada como certa internamente na PF após o presidente Jair Bolsonaro ter declarado, no mês passado, que poderia trocar a direção do órgão para demonstrar que é ele quem manda e não Sérgio Moro. A nomeação do diretor-geral é do presidente da República, mas tradicionalmente o ministro da Justiça faz a indicação do nome para evitar interferência política. Os presidentes costumam ser mais suscetíveis aos pedidos da base aliada de cargos do que os ministros considerados técnicos como Moro.

Um dos ingredientes que azedou a conversa entre Bolsonaro e Moro foi justamente a insistência do presidente em fazer alterações no comando da PF. Foto: Carolina Antunes/PR

Para evitar que a permanência de Valeixo no cargo seja interpretada como uma vitória de Moro sobre Bolsonaro a ordem é ninguém comentar o assunto na PF ou na Justiça. Ficou combinado que ele reassumirá o cargo hoje como se nada tivesse acontecido e está avisado que qualquer manifestação nesse sentido colocará tudo a perder.

A ameça de Bolsonaro de demitir Valeixo foi criticado por parte do seu eleitorado que viu nela uma forma de enfraquecimento do seu superministro. O Estado revelou que o grupo pró-Moro no Congresso chegou a aconselhar o ex-juiz da Lava Jato a usar sua força para impor a manutenção do diretor-geral da PF. A última pesquisa Datafolha, divulgada em setembro, mostrou que Moro é o ministro mais popular e bem avaliado do governo, com patamar de apoio maior do que o do próprio presidente.

O ministro sempre negou os rumores de que teria ameaçado deixar o cargo levantados nas inúmeras crises que os dois tiveram. No auge da crise envolvendo a PF, Moro apareceu de braço dado com o presidente no desfile de Sete de Setembro e, no último domingo, esteve com Bolsonaro no hospital onde o presidente de recuperava de uma cirurgia. No dia seguinte a visita, Bolsonaro concedeu uma entrevista à TV Record e não fez qualquer comentário sobre troca na PF. O silêncio sinalizou para a corporação o recuo.

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Rio. A ameaça de Bolsonaro de intervir na PF ocorreu diante da recusa do diretor-geral de indicar para a superintendência do Rio de Janeiro o delegado Alexandre Saraiva, atual chefe da unidade do Amazonas, no lugar do delegado Ricardo Saadi.

Na ocasião, Bolsonaro afirmou que havia determinado a saída de Saadi por 'questão de produtividade'. Na verdade, tinha tomado conhecimento de um suposto direcionamento pela PF do Rio de investigação para atingir o deputado Helio Lopes (PSL-RJ), seu aliado de primeira hora. Lopes também é muito próximo do vereador Carlos Bolsonaro, que costuma despachar do seu gabinete quando viaja para Brasília.

Moro determinou, na semana passada, que a corregedoria da PF apure a denúncia de direcionamento do inquérito. Paralelo a isso, Bolsonaro recebeu esclarecimentos de que o superintendente da PF não tem conhecimento de todos os inquéritos que tramitam na sua área de atuação, no caso do Rio são cerca de três mil, nem dos detalhes que os cercam.

Conforme o Estado revelou, a Polícia Federal suspeita que o delegado Leonardo Tavares, lotado na Delegacia de Repressão a Crimes Previdenciários (Deleprev) no Rio, foi o responsável por tentar direcionar uma investigação previdenciária para um alvo chamado 'Hélio Negão', o mesmo apelido usado pelo deputado federal, que não está relacionado no inquérito.

Porta-voz

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O porta-voz da Presidência da República, general Otávio Rêgo Barros, afirmou nesta quarta-feira, 18, que decisões sobre a troca de comando da Polícia Federal cabem ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro.

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Rêgo Barros, no entanto, disse que a PF está "sendo bem conduzida" pelo seu diretor-geral, o delegado Maurício Valeixo.

Após impasse entre Bolsonaro e Moro, o delegado Valeixo já teria sido informado pelo próprio ministro que não será substituído pelo menos por enquanto. A saída do delegado era dada como certa internamente na PF após o presidente Bolsonaro ter declarado, no mês passado, que poderia trocar a direção do órgão. Sua permanência é considerada uma vitória de Moro.

"O presidente me deixou claro o seguinte ponto: diretamente nunca fez nenhum tipo de restrição ao doutor Valeixo, reconhece o seu trabalho e reforça que decisões sobre a Polícia Federal são de responsabilidade do ministro Moro", disse Rêgo Barros.

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