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Marcelo detalha e-mails que 'complicaram' Lula nas propinas da Odebrecht

Ouvido no processo do sítio de Atibaia, empresário e delator diz que provas de que o ex-presidente sabia da conta 'Italiano' de R$ 200 milhões ao PT estão registradas nas mensagens trocadas entre ele e seus executivos

Foto do author Julia Affonso
Foto do author Fausto Macedo
Por Ricardo Brandt , Julia Affonso , Fausto Macedo e enviado especial a Curitiba
Atualização:
 

O empresário Marcelo Odebrecht detalhou à Justiça Federal, em Curitiba, em depoimento nesta quarta-feira, 7, os e-mails e mensagens que "complicaram" Luiz Inácio Lula da Silva nos supostos acertos de propinas com a Odebrecht, registrados na planilha "Italiano", de R$ 200 milhões, nas obras de reforma no sítio de Atibaia (SP).

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"O que complicou muito a vida de seu cliente (Lula) não foram os meus relatos, foram meus e-mails", afirmou Odebrecht, ao ser questionado pelo defensor de Lula, o advogado Cristiano Zanin Martins, durante interrogatório no processo do sítio - que a Lava Jato diz ser de Lula, ele nega. Nesse processo, o petista responde por corrupção e lavagem pela reforma no imóvel de mais de R$ 1 milhão feita pelas empresas Odebrecht, OAS e Schahin.

E-MAILS DE MARCELO ODEBRECHT - PARTE 1

E-MAILS DE MARCELO ODEBRECHT - PARTE 2

Marcelo e o pai, Emílio Odebrecht, e o ex-executivo do grupo Alexandrino Ramos Alencar foram ouvidos nesta quarta-feira pela juíza federal Gabriela Hardt, que temporariamente assumiu os processos da Lava Jato - com a saída do titular Sérgio Moro, para ser ministro da Justiça do governo eleito de Jair Bolsonaro (PSL).

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Um dos fatos seriam relacionados a dois momentos que Emílio Odebrecht teria falado com Lula em 2010, ano em que o sítio de Atibaia (SP) foi comprado por amigos dos filhos do ex-presidente e reformado por empreiteiras do cartel. O empresário disse que os valores foram debitados da conta de R$ 200 milhões, registrada na planilha "Italiano", gerenciada por Antonio Palocci - o ex-ministro de Lula e Dilma Rousseff que também virou delator.

"E-mail que mando para o Brani em 23 de agosto de 2010 diz assim: Por favor, diga ao chefe que do valor a que meu pai se referiu um terço são referentes ao apoio direto das bases, que não passa por ele. Daí o valor 50% maior citado por meu pai. Toda a minha relação indireta com Lula foi através de Palocci no contexto da planilha Italiano", afirmou Marcelo, no seu depoimento.

Brani era Branislav Kontic, o braço direito de Palocci. Os e-mails foram anexados pela defesa de Odebrecht no início do ano no processo, como prova do que ele afirmou em sua delação premiada, homologada em janeiro de 2017.

"De 2008 a 2010, eu e Palocci, referendados por meu pai e Lula, acabamos acertando um valor que chegou a R$ 200 milhões, mais ou menos. Dois desse valores eram contrapartidas específicas ao Refis da Crise e o assunto de uma linha de crédito para Angola, que está sendo investigado no STF", falou Odebrecht - os fatos fazem parte da delação premiada do empresário.

 

O empresário e delator diz que ainda vai anexar mais e-mails ao processo. Um deles sobre tentativas de cobranças adicionais de propina, que teria relação com a obra da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que teriam sido negadas, por valores já contemplados nos R$ 200 milhões.

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"Teve alguns pedidos de propina que inclusive foram negados com base na existência da planilha Italiano e que imagino que outras empresas acabaram tendo que pagar. Por exemplo: a questão de Belo Monte, a questão de sondas."

Odebrecht diz que os e-mails são registros de que Lula sabia da conta Italiano. "Uma das maneiras que consegui de evidência que Lula conhecia a conta corrente com Palocci (nunca conversei com Lula sobre isso) foi a anotação em que cheguei a meu pai em 2010 e disse assim: meu pai, é bom você avisar a Lula que já acertei 200 milhões com Palocci, sendo 100 milhões já pagos e 100 milhões de saldo."

 

O delator entregou também e-mails dele discutindo sobre a reforma do sítio. Em um deles, quem escreve é o engenheiro de confiança da Odebrecht Emyr Diniz, que também é delator, e depôs nesse processo na segunda-feira, junto com Armando Paschoal, ex-executivo e delator, responsável pela área que fez a obra. Eles confessaram terem sido escalados para realizar a reforma e que o dinheiro saiu do setor de propinas da Odebrecht.

Nos e-mails de Marcelo, os assuntos "obras sítio" e outros casos supostamente ligados aos acertos entre os Odebrecht e Lula estão registrados, como "terreno Instituto" e "estádio Corinthians".

O empresário é réu no processo em que Lula é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Preso desde o dia 7 de abril, condenado a 12 anos e um mês no processo do caso triplex do Guarujá (SP), o ex-presidente tem duas ações em andamento na Lava Jato. A segunda, em fase final, é a de propinas da Odebrecht na compra de uma terreno para ser sede do Instituto Lula e de um apartamento usado pela família do petista, em São Bernardo do Campo. O caso do sítio foi o terceiro processo aberto.

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O material entregue pelo empreiteiro foi entregue por seus advogados e foi levantado, após a progressão do regime fechado para o domiciliar, em 19 de dezembro de 2017, quando "teve acesso a um HD contendo o espelhamento de seu computador apreendido". Foi "quando passou a realizar buscas por mais elementos de corroboração dos fatos relatados no acordo por ele celebrado" com a força-tarefa Lava Jato.

 
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