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Investigação aponta para associação criminosa que busca lucrar com atos antidemocráticos

Manifestação da PGR mencionada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, em decisão tornada pública nesta segunda, 22, indica que diversos núcleos investigados atuariam com objetivo de obter ganhos econômicos e políticos; Procuradoria aponta que dois canais pró-governo no Youtube ganharam R$ 150 mil com transmissão dos protestos

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Foto do author Rayssa Motta
Por Rayssa Motta , Paulo Roberto Netto , Fausto Macedo/SÃO PAULO e Rafael Moraes Moura/BRASÍLIA
Atualização:

O ministro Alexandre de Moraes afirmou que investigações da Procuradoria-Geral da República (PGR) apontam a 'real possibilidade' de atuação de associação criminosa voltada para a 'desestabilização do regime democrático' com o objetivo de obter ganhos econômicos e políticos. A observação consta em decisão de quebra de sigilo decretada pelo ministro no inquérito que apura o financiamento de atos antidemocráticos.

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"Os indícios apresentados na manifestação apresentada pela Procuradoria-Geral da República confirmam a real possibilidade de existência de uma associação criminosa", escreveu Moraes, em decisão que autorizou buscas e apreensões contra apoiadores do governo na semana passada. O sigilo bancário de dez deputados e um senador, todos bolsonaristas, foi quebrado.

No final da noite desta segunda, 22, o ministro Alexandre de Moraes tornou pública a decisão 'diante de inúmeras publicações jornalísticas de trechos incompletos do inquérito'. O inquérito, contudo, continua sigiloso.

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A PGR identificou vários núcleos ligados à associação criminosa, sendo eles 'organizadores e movimentos', 'influenciadores digitais e hashtags', 'monetização' e 'conexão com parlamentares'. Na avaliação da Procuradoria, os parlamentares ajudariam na expressão e formulação de mensagens, além de contribuir com sua propagação, visibilidade e financiamento.

"Os frequentes entrelaçamentos dos membros de cada um dos núcleos descritos acima indiciam a potencial existência de uma rede integralmente estruturada de comunicação virtual voltada tanto à sectarização da política quanto à desestabilização do regime democrático para auferir ganhos econômicos diretos e políticos indiretos", apontou trecho da manifestação da PGR reproduzida por Moraes. A Procuradoria destacou a existência de 'abusos e crimes que precisam ser apurados' no caso.

O presidente Jair Bolsonaro participa de ato pró-governo montado a cavalo em Brasília, no final de maio. Foto: Dida Sampaio / Estadão

A PGR afirma que foi identificado o funcionamento 'estruturado e economicamente rentável' de uma associação que buscava 'provocar as Forças Armadas' para a execução de ações contra a ordem constitucional. Mensagens e publicações de teor antidemocrático também eram compartilhadas nas redes para ampliar o alcance e tráfego de usuários, assim obtendo a renda.

"As chamadas redes sociais não são apenas espaço de liberdade de expressão. Os usuários das redes sociais com muitos seguidores podem auferir renda das próprias plataformas a partir de seguidores que arrebanham, o universo de pessoas que alcançam com suas mensagens, a sua capacidade de influenciar seus seguidores", explica a Procuradoria.

Renda. O financiamento, de acordo com o vice-procurador-geral Humberto Jacques, teria beneficiado ao menos dois canais pró-governo no Youtube: Folha Política e Foco do Brasil. Ambos podem ter embolsado até R$ 157 milhões com transmissões dos discursos de Bolsonaro nos protestos recentes. A arrecadação também viria de parcerias, assinaturas, eventuais compras de produtos vendidos nos canais e anúncios pagos por empresas e órgãos públicos.

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"Com o objetivo de lucrar, estes canais, que alcançam um universo de milhões de pessoas, potencializam ao máximo a retórica da distinção amigo-inimigo, dando impulso, assim, a insurgências que acabam efetivamente se materializando na vida real, e alimentando novamente toda a cadeia de mensagens e obtenção de recursos financeiros", diz Jacques em uma das peças do inquérito.

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O vice-procurador cita dados de relatórios de uma empresa especializada em análises estatísticas de páginas do YouTube, segundo os quais, a Folha Política, por exemplo, pode ter faturado entre US$ 6 mil e US$ 11 mil com a live do presidente do dia 3 de maio em frente ao Palácio do Planalto.

Já o vídeo da participação de Bolsonaro no ato de 19 de abril, dia do Exército, pode ter rendido ao Foco do Brasil, segundo a PGR, entre US$ 7,55 mil e US$ 18 mil. A manifestação em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, que pedia intervenção militar e o fechamento do Congresso e do STF, foi o ponto de partida para a abertura do inquérito que apura a organização e o financiamento de manifestações contra a democracia.

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