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General Heleno, Braga Netto e Eduardo Ramos testemunharam Bolsonaro ameaçar Moro de demissão, afirma ex-ministro

Sérgio Moro relatou à Polícia Federal em seu depoimento de mais de oito horas no sábado, 2, que presidente avisou que iria tomar a medida se ele não mudasse o diretor-geral da PF, delegado Maurício Leite Valeixo

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Por Fausto Macedo e Paulo Roberto Netto
Atualização:

O chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e os ministros Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) testemunharam o presidente Jair Bolsonaro ameaçar demitir o então ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) em reunião gravada pelo Planalto. O encontro foi realizado no dia 23 de abril.

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No dia anterior, 22 de abril, dois dias antes do anúncio de saída de Moro, o presidente já havia abordado sobre a saída de Valeixo em reunião com vários ministros.

As informações foram repassadas à Polícia Federal no longo depoimento que Moro prestou na sede da superintendência da corporação no último sábado, 2, em Curitiba. O motivo da ameaça foi a resistência do ex-juiz em manter Maurício Valeixo na chefia da Polícia Federal.

Os três ministros foram citados no depoimento de Moro como eventuais testemunhas da conversa entre ele e o presidente. A reunião do conselho de ministros foi gravada pelo Planalto.

No dia seguinte, 23 de abril, Bolsonaro informou Moro de que havia tomado a decisão de demitir Valeixo, o que motivou o ex-juiz a deixar o cargo e anunciar, no dia 24, a tentativa de 'interferência política' do presidente no comando da PF.

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As acusações levaram à abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal que apura as acusações do ex-ministro.

O general Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria de Governo, recebe bilhete do general Augusto Heleno (GSI). Foto: Dida Sampaio/Estadão

Nesta segunda-feira, Bolsonaro anunciou Rolando Alexandre de Souza para a cadeira deixada por Valeixo na PF. Número dois da Abin e braço direito de Alexandre Ramagem, inicialmente indicado para o cargo, mas barrado pelo STF, Rolando assumiu a direção-geral da corporação 20 minutos depois da publicação de sua nomeação no Diário Oficial da União.

Bolsonaro também comentou o depoimento de Moro, que entregou conversas trocadas com o presidente à Polícia Federal. Uma delas é a já revelada publicamente em que o presidente encaminha um link do portal O Antagonista sobre inquérito do Supremo mirar aliados do governo com a mensagem: 'Mais um motivo para a troca'. Segundo o presidente, as acusações de Moro se tratam de uma 'fofoca'.

"Tem um print do Antagonista. Eu escrevi embaixo "Mais um motivo para troca". Estão me acusando por causa disso que eu estou interferindo na Polícia Federal. Estou dizendo que isso é fofoca. O complemento vem depois", disse.

Peritos da Polícia Federal extraíram do celular do ex-ministro mensagens trocadas com Bolsonaro, incluindo as que foram deletadas para aumentar o espaço de armazenamento do aparelho. Uma varredura completa foi realizada e localizou até áudios enviados por aplicativos de mensagem. Os peritos também copiaram mensagens trocadas entre Moro e a deputada Carla Zambelli.

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O próximo passo é a elaboração de um laudo no Instituto Nacional de Criminalística sobre as conversas e os áudios.

Moro prestou depoimento de mais de oito horas na sede da PF no inquérito que investiga suas acusações de tentativas de interferência política de Bolsonaro na chefia da corporação. O Planalto se preocupa com o andamento de inquéritos que apuram esquemas de divulgação de 'fake news' e financiamento de atos antidemocráticos realizados em abril, em Brasília.

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