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Em depoimento sobre atos antidemocráticos, dirigente do Aliança foi questionado sobre repasses de R$ 2,3 mi a empresas investigadas

Luís Felipe Belmonte, vice-presidente do partido em formação Aliança pelo Brasil, foi ouvido pela Polícia Federal no dia 20 de outubro e respondeu sobre depósitos em contas comerciais e pessoais de Sérgio Lima e do sócio dele; empresário também foi perguntado sobre mensagens de WhatsApp trocadas com a mulher, a deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF), em que cita 'caixa 2'

Foto do author Rayssa Motta
Foto do author Pepita Ortega
Foto do author Fausto Macedo
Por Rayssa Motta , Pepita Ortega , Fausto Macedo e Paulo Roberto Netto
Atualização:

As movimentações financeiras do advogado e empresário Luís Felipe Belmonte, marido da deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF) e vice-presidente do partido em formação Aliança pelo Brasil, entraram na mira da Polícia Federal no curso das investigações do inquérito que apura a organização e o financiamento de atos antidemocráticos.

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No depoimento prestado em 20 de outubro ao delegado Fábio Alvarez Shor, Belmonte foi questionado sobre onze transferências que totalizam R$ 2,3 milhões a contas pessoais e profissionais ligadas ao marqueteiro Sérgio Lima e ao sócio dele, Walter Luiz Bifuco Scigliano. De acordo com relato do empresário, os valores foram depositados a título de pagamento pela criação de um site e administração de suas redes sociais.

"O contrato envolvia mais de uma atividade como construção do site, formação de identidade visual e administração e expansão das redes sociais", explicou Belmonte. "Conforme cada estágio do contrato era cumprido, o declarante realizava os pagamentos mediante apresentação de notas fiscais e efetiva prestação dos serviços", registra o termo de declaração.

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O empresário Luís Felipe Belmonte ao lado do presidente Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução/Facebook

Veja as transferências citadas pelo delegado:

  • R$ 480 mil por meio do escritório Luís Felipe Belmonte & Advogados Associados para a empresa HH Cosmético e Perfumes (atual Inclutech Tecnologia da Informação);
  • R$ 220 mil (em 3 transferências), por meio de sua conta bancária pessoal, para a empresa HH Cosmético e Perfumes;
  • R$ 105 mil (em 3 transferências), por meio de sua conta bancária pessoal, para a empresa S8 Sampa Agência de Propaganda;
  • R$ 1.050.000,00 (em 2 transferências), por meio de sua conta bancária pessoal, para a pessoa de Sérgio Lima;
  • R$ 450 mil (em 2 transferências), por meio de sua conta bancária pessoal, para a pessoa de Walter Luiz Bifuco Scigliano.

A empresa de Sérgio Lima, a Inclutech, que foi aberta em 2011, era uma companhia de cosméticos. Posteriormente, a atividade econômica foi alterada para prestar serviços publicitários que agora incluem, segundo o cadastro junto à Receita Federal, serviços ligados à tecnologia da informação e publicidade. Além de marqueteiro do Aliança pelo Brasil, Sérgio Lima passou a atuar como auxiliar palaciano nos pronunciamentos do presidente desde março, mês em que esteve na comitiva do governo aos Estados Unidos. Ele também é investigado no mesmo inquérito dos atos antidemocráticos. A suspeita é a de que a Inclutech seja uma das peças em uma rede estruturada de comunicação virtual para promover manifestações contra a democracia. Uma das hipóteses da Procuradoria-Geral da República é a de que empresários e políticos têm agido para uma 'possível desestabilização do regime democrático para auferir ganhos econômicos diretos e políticos indiretos'.

 

O delegado também perguntou a Belmonte sobre sua participação na empresa S8 Sampa. O advogado confirmou que, no início de 2019, recebeu um convite para integrar o quadro societário da companhia, que também é controlada por Sérgio Lima. Conforme o depoimento, àquela altura a empresa precisava de recursos para se instalar no Distrito Federal e os dois fecharam um contrato de mútuo no valor de R$ 1,5 milhão para viabilizar a operação. Nos termos acordados, segundo Belmonte, ele poderia pedir a conversão do empréstimo em participação na empresa, o que nega ter feito. De acordo com o empresário, ele não chegou a exercer qualquer participação na gestão do negócio assim como não optou pela cláusula de conversão para integrar o quadro societário da S8 Sampa.

Luís Felipe Belmonte foi indagado ainda sobre uma conversa de WhatsApp com a mulher no dia 12 de agosto. As mensagens foram obtidas a partir de uma devassa nos materiais apreendidos pela Polícia Federal durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão cumpridos na Operação Lume, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, no curso do inquérito. Na conversa em questão, o empresário cita a criação de uma empresa de eventos para justificar gastos de R$ 2 milhões que estariam sendo investigados pela Polícia Civil do Distrito Federal e pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) por suspeita de 'caixa 2'.

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O empresário Luís Felipe Belmonte ao lado da mulher, a deputada federal Paula Belmonte. Foto: Reprodução/Facebook

Ao delegado, Belmonte negou ter praticado qualquer ato de lavagem de dinheiro. Segundo o depoimento, o termo 'caixa 2' foi citado em uma 'conversa coloquial' com a esposa e por 'acreditar que como a empresa de eventos não estava tendo tanta atividade, poderia ser interpretada ou forjada como uma causa de eventual caixa 2'. Isso porque, segundo o empresário, chegou ao seu conhecimento que o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), ia usar Polícia Civil para persegui-lo com investigações. Ainda em depoimento, Belmonte confirmou a compra da empresa, arrendatária de um espaço no Ginásio do Clube do Congresso, para promover eventos artísticos, culturais e esportivos em Brasília.

 

Luís Felipe Belmonte ainda negou ter participado das manifestações contra as instituições democráticas organizadas em 19 de abril para comemorar o Dia do Exército. Na ocasião, em entrevista ao Estadão, o empresário chegou a criticar o evento, tendo classificado como 'inadequado' o ato pró-intervenção militar.

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