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Ministério da Justiça oficializa troca na superintendência regional da PF no Distrito Federal

*Atualizado às 21h17

Por Breno Pires , Sandra Manfrini/BRASÍLIA e Pepita Ortega/SÃO PAULO
Atualização:

O diretor-geral da Polícia Federal Paulo Maiurino. Foto: Diretoria Regional ADPF/São Paulo

O Ministério da Justiça e Segurança Pública oficializou na noite desta sexta-feira, 8, a troca no comando da superintendência regional da Polícia Federal no Distrito Federal. Em edição extra do Diário Oficial da União, foi confirmada a dispensa da função do delegado Hugo de Barros Correia e designado para o cargo de superintendente regional da PF no Distrito Federal o delegado Victor Cesar Carvalho dos Santos.

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Conforme o Estadão noticiou mais cedo, o diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, decidiu pela substituição. A superintendência do DF é a responsável por dois dos principais inquéritos que hoje preocupam o presidente Jair Bolsonaro: o inquérito das fake news, que mira em aliados do presidente, e o que tem como alvo suposta prática de tráfico de influência envolvendo o filho "04", Jair RenanComo superintendente, Correia não tocava tais investigações, mas coordenava o núcleo que apura os casos.

O Estadão apurou que o delegado foi informado da "demissão" ontem à noite, sem maiores explicações. A decisão foi comunicada pelo chefe de gabinete do diretor-geral da PF, Marcelo de Oliveira Andrade, sem a presença de Maiurino. Segundo interlocutores, diretor-geral cortou o diálogo com Hugo desde a operação que teve como alvo o ex-ministro Ricardo Salles.

Correia mal completou cinco meses no cargo - foi alçado à chefia da unidade da PF no Distrito Federal em maio, no início da gestão de Maiurino. Para o lugar de Correia, Maiurino deve indicar um delegado do Rio de Janeiro, reduto da família Bolsonaro. 

O chefe da unidade não interfere diretamente nas investigações, porque os delegados tem autonomia para tocar os inquéritos. No entanto, segundo policiais, o novo superintendente pode mais atrapalhar do que ajudar, uma vez que os delegados precisam ter respaldo do chefe para conduzir os inquéritos - especialmente nas investigações mais sensíveis, que atingem autoridades -, além de infraestrutura pra tocar as operações.

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Segundo o Estadão apurou, os incômodos que levaram ao afastamento do superintendente do DF estão ligados à comunicação sobre ações da Polícia Federal. Havia um ressentimento por parte do diretor-geral de que Correia não lhe passava as informações de forma antecipada. As explicações eram dadas apenas no 'momento certo'.

Essa era uma queixa antiga do presidente Jair Bolsonaro. Na reunião ministerial de 22 de abril de 2020, quando ameaçou de demissão o então ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, Bolsonaro afirmou: "não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações". 

Na mesma reunião, cuja gravação foi revelada no inquérito sobre suposta tentativa de interferência política do presidente na Polícia Federal, Bolsonaro também afirmou: "Não vou esperar f*der a minha família toda de sacanagem, ou amigos meus, porque não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura nossa. Vai trocar.

No inquérito das fake news, que tem como relator o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e delegada responsável Denisse Dias - da Superintendência Regional do DF -, algumas operações chegaram ao conhecimento de Maiurino pouco antes da deflagração. Foi exatamente o que aconteceu nesta quinta-feira, 7.

Maiurino só soube de última hora que a Polícia Federal faria busca e apreensão em endereço ligado a uma ex-estagiária do ministro Ricardo Lewandowski, do STF, que seria uma informante do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos. Foi a gota d'água, segundo fontes da PF ouvidas pela reportagem.

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A troca ocorre no momento em que a investigação que tem Jair Renan está bem avançada. A apuração envolvendo o filho '04' de Bolsonaro foi aberta em março e mira supostos crimes de crimes de tráfico de influência e lavagem de dinheiro praticados por um grupo empresarial do setor de mineração e Jair Renan. A proximidade entre o filho do presidente e outras companhias em outras ocasiões despertaram a atenção não só da PF e do Ministério Público Federal, mas também da CPI da Covid. Documentos obtidos pelo colegiado mostram que Jair Renan recorreu a ajuda de um lobista para abrir sua empresa privada em Brasília.

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Uma outra investigação tocada pela superintendência é relacionada ao inquérito administrativo aberto no âmbito do TSE para apurar ataques ao sistema eleitoral e crimes abuso de poder econômico e político, uso indevido dos meios de comunicação social, corrupção, fraude, condutas vedadas a agentes públicos. O caso foi aberto depois da live em que o presidente Jair Bolsonaro lançou uma série de informações falsas sobre as urnas eletrônicas.

Foi no âmbito dessa apuração que a PF no Distrito Federal sugeriu ao TSE a ideia de barrar a monetização de canais com conteúdo político, o que atingiu aliados do presidente. "A prática visa, mais do que uma ferramenta de uso político-ideológico, um meio para obtenção de lucro, a partir de sistemas de monetização oferecidos pelas plataformas de redes sociais. Transforma rapidamente ideologia em mercadoria, levando os disseminadores a estimular a polarização e o acirramento do debate para manter o fluxo de dinheiro pelo número de visualizações", diz a PF em um relatório enviado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A PF no Distrito Federal é ainda a responsável pela Operação Pés de Barro, que investiga supostas fraudes na aquisição de medicamentos de alto custo pelo Ministério da Saúde, entre maio 2016 e abril de 2018, período em que a pasta teve como chefe o atual líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (Progressistas-PR), no governo Michel Temer. Dois ex-diretores do Departamento de Logística (DLOG) do Ministério da Saúde empregados posteriormente no governo Jair Bolsonaro foram alvos da ofensiva, aberta no último dia 21. Um deles é o "secretário do tratoraço"

Outra investigação conduzida pela superintendência no DF que causou desconforto ao Palácio do Planalto foi a que mirou o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. A operação que fez buscas contra o aliado do presidente Jair Bolsonaro foi deflagrada dias após Correia assumir a chefia da superintendência. No âmbito de tal apuração - cuja fase ostensiva foi batizada como Akuanduba - a PF apontou 'fortes indícios' do envolvimento de Salles com um possível esquema de corrupção para exportação ilegal de madeira, além de citar 'operações suspeitas' envolvendo o escritório de advocacia do ex-ministro.

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