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Delator revela comitê clandestino de campanha de Beto Richa

Nelson Leal Júnior, ex-diretor do DER/Paraná e colaborador da Operação Lava Jato, apontou imóvel no bairro Água Verde, em Curitiba, onde supostamente era estocado dinheiro em espécie de contribuições eleitorais não oficiais de concessionárias de pedágios das rodovias para o ex-governador

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Foto do author Julia Affonso
Foto do author Fausto Macedo
Por Julia Affonso , Ricardo Brandt e Fausto Macedo
Atualização:

Beto Richa. Foto: Rodolfo Buhrer/REUTERS

A Operação Lava Jato 55 descobriu um endereço no bairro Água Verde, em Curitiba, onde teria operado um comitê clandestino de campanha do ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB).

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O imóvel, situado à Rua Baltazar Carrasco dos Reis, 2863, hoje abriga um lar para idosos, por isso não foi alvo de buscas da Polícia Federal nesta quarta, 26, na deflagração da Operação Integração II, a fase 55 da Lava Jato.

A PF prendeu o irmão de Beto Richa, seu ex-secretário de Infraestrutura e Logística no governo, José Richa Filho, o Pepe Richa. Outros 18 mandados de prisão foram expedidos pelo juiz Paulo Sérgio Ribeiro, da 23.ª Vara Federal de Curitiba.

O ponto central da nova etapa da Lava Jato é a delação premiada do ex-diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) no estado, Nelson Leal Júnior. A PF e o Ministério Público Federal reuniram provas de corroboração das revelações do delator.

Ele contou que 'em meados de março ou abril' de 2014, o irmão de Beto Richa o levou à casa da Água Verde. "Ele (Pepe Richa) contou que o único objetivo do imóvel seria abrigar um comitê financeiro e contábil 'clandestino', pois seria um local específico para armazenar dinheiro em espécie decorrente de contribuições eleitorais não oficiais", afirma o delator.

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ENTENDA A NOVA OFENSIVA DA LAVA JATO

O procurador da República Diogo Castor de Mattos disse que 'segundo relato do ex-diretor geral do DER, havia o comitê oficial para arrecadações de caixa 1 e havia um comitê de arrecadações de caixa 2, que só servia para arrecadar dinheiro em espécie, dinheiro de origem ilícita'.

Nelson Leal relatou aos investigadores que aceitou o convite de Pepe Richa e se dirigiu até o endereço da Água Verde provavelmente no mesmo veículo que o irmão do ex-governador, um Renault Fluence. "Ele possuía as chaves do imóvel."

Segundo o delator, ambos entraram na residência. "Que o colaborador conheceu todos os cômodos do imóvel, os quais ainda estavam vazios; Que José Richa Filho contou ao declarante que haviam recém alugado o imóvel e que iriam promover adaptações para que ele se tornasse o comitê financeiro e contábil da campanha de 2014; Que o colaborador estranhou a informação, pois já existia um comitê oficial da campanha que estava localizado em um barracão no bairro Centro Cívico, que hoje abriga o estacionamento Top-Park)."

Em outro trecho de seu relato, o ex-diretor-geral do DER afirma que Pepe Richa contou a ele que 'o único objetivo do imóvel seria abrigar um comitê financeiro e contábil clandestino, pois seria um local específico para armazenar dinheiro em espécie decorrente de contribuições eleitorais não oficiais'.

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Segundo ele, 'somente as pessoas mais próximas do núcleo da campanha de 2014 sabiam da existência e localização do comitê financeiro e contábil'.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

"Que José Richa Filho considerava o colaborador uma dessas pessoas de confiança, por tal motivo lhe mostrou o imóvel; Que o colaborador e José Richa Filho permaneceram por aproximadamente trinta a quarenta minutos no imóvel; Que o colaborador tomou ciência, através de Paulo Bley e Adilso, pessoas que trabalhavam na contabilidade da campanha, e de Luiz Claudio da Luz, assessor de José Richa Filho que, de fato, o referido imóvel abrigou o comitê financeiro e contábil da campanha de 2014; Que ao contrário do comitê oficial localizado no bairro Centro Cívico, o imóvel do comitê financeiro e contábil não ostentava nenhuma placa ou sinal identificador durante a campanha de 2014."

As revelações de Nelson Leal Júnior indicam à Lava Jato 55 os nomes de diversas pessoas físicas e jurídicas 'envolvidas com as irregularidades que favoreciam as concessionárias de pedágio'.

Ele afirmou que Pepe Richa era o 'responsável por determinar favorecimentos às concessionárias de pedágio, destinatário principal de parte dos valores ilicitamente arrecadados'.

A reportagem está tentando localizar todos os citados. O espaço está aberto para manifestação.

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COM A PALAVRA, JOSÉ RICHA FILHO

Nota da defesa de José Richa Filho

A defesa do ex-secretário de Estado de Infraestrutura e Logística, José Richa Filho, informa que o investigado nunca foi chamado pela Polícia Federal para esclarecer quaisquer fatos atinentes à operação realizada na data de hoje. O processo tramita sob sigilo na 23a. Vara Federal e, apesar de requerido pela defesa, até o momento, não se obteve acesso aos autos. O ex-secretário seguirá colaborando com a Justiça e confia que sua inocência restará provada na conclusão do processo.

Curitiba, dia 26 de setembro de 2018.

COM A PALAVRA, BETO RICHA

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Nota da defesa do ex-governador Beto Richa

O ex-governador Beto Richa nunca foi condescendente com desvios de qualquer natureza e é o maior interessado na investigação de quaisquer irregularidades. Beto Richa segue confiando na Justiça e tem a certeza que o devido processo legal provará sua inocência.

Curitiba, dia 26 de setembro de 2018.

COM A PALAVRA, A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CONCESSÕES RODOVIÁRIAS

Em relação à operação Integração 2, da Polícia Federal realizada hoje, a ABCR informa que está contribuindo com as autoridades no fornecimento de toda informação necessária.

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Até o momento, a associação não teve acesso aos autos do processo.

COM A PALAVRA, O GOVERNO DO PARANÁ

NOTA PARA A IMPRENSA - GOVERNO DO PARANÁ

Em razão da Operação Integração 2, promovida pela força-tarefa Lava Jato, a assessoria de comunicação do Governo do Paraná informa que:

1 - A governadora Cida Borghetti determinou a imediata exoneração de todas as pessoas que ocupam cargos em órgãos do Estado e foram alvo de prisão ou de mandados de busca e apreensão;

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2 - A governadora Cida Borghetti determinou que todos os órgãos do Estado prestem total colaboração com as investigações em curso, e que a Divisão de Combate à Corrupção, criada em abril, acompanhe e auxilie no trabalho realizado pelos órgãos federais;

3 - A governadora Cida Borghetti determinou à Controladoria Geral do Estado a imediata instauração de um processo administrativo contra todos servidores públicos - efetivos e comissionados - citados na investigação;

4 - Por determinação da governadora Cida Borghetti, em junho último, todas as empresas que administram rodovias do Estado já foram oficialmente notificadas do encerramento dos atuais contratos ao fim do prazo de concessão. O Governo do Paraná está promovendo audiências públicas para a construção de um novo modelo de concessão, em conjunto com a sociedade.

COM A PALAVRA, O DER-PR

NOTA DE ESCLARECIMENTO SEIL/DER-PR

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Por determinação da governadora Cida Borghetti, a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (SEIL) e o Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR) informam que estão colaborando com a 55ª fase da Operação Lava Jato.

Desde abril de 2018, ambos os órgãos estão sob nova direção, que não toleram práticas de corrupção. O ex-funcionário do DER-PR Aldair Wanderley Petry, aposentado em 2014, foi exonerado do cargo em comissão na SEIL no último dia 1º de maio.

Em junho deste ano, por determinação da governadora Cida Borghetti, todas as concessionárias foram notificadas que os seus contratos não serão renovados. E determinou estudos sobre um novo modelo de concessão de rodovias no Paraná.

A SEIL e o DER-PR permanecem à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos.

COM A PALAVRA, A AGEPAR

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NOTA DE ESCLARECIMENTO

AGEPAR - Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Infraestrutura do Paraná

As denúncias as quais a Agepar está tomando conhecimento se referem a condutas individuais imputadas a agentes e não podem ser consideradas como elemento que comprometa o trabalho da Agepar enquanto instituição reguladora. A Agepar informa que está tomando conhecimento de todo o processo e se pronunciará em momento oportuno.

COM A PALAVRA, A TRIUNFO

Nota à Imprensa

A Triunfo Participações e Investimentos reitera que sempre contribuiu de forma transparente com as investigações ligadas à Companhia e suas controladas. A Companhia continua à disposição para prestar os esclarecimentos necessários à elucidação dos fatos relacionados à Operação Integração II, deflagrada pela Polícia Federal nesta quarta-feira.

A Companhia esclarece algumas questões levantadas na coletiva de imprensa concedida por autoridades na Sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba/PR:

(i) A Triunfo é uma empresa de capital aberto e tem suas ações negociadas na B3. Suas demonstrações financeiras são auditadas trimestralmente por auditoria independente e são disponibilizadas ao mercado no site da Companhia e nos sites da B3 e da CVM.

(ii) Os resultados financeiros de suas controladas, inclusive Econorte, também são públicos e auditados por empresa de auditoria independente;

(iii) A Econorte cumpriu 100% dos investimentos previstos no contrato de concessão. Durante a vigência da concessão, foram investidos em obras e na administração da rodovia mais de R$1,21 bilhão. Foram ainda, destinados R$384 milhões para pagamento de impostos municipais, estaduais e federais. O lucro da empresa correspondeu a 14% da receita apurada no período. Já a taxa de retorno prevista no plano de negócio inicial da concessionária foi de 16,95%, e não entre 18% e 22% como foi informado.

(iv) As tarifas foram impactadas, entre outros fatores, pela redução em 50% de forma unilateral pelo governo em 1998, pelos atrasos recorrentes no reajuste anual previsto no contrato de concessão entre 2003 e 2010, e principalmente pelo subsidio dado às tarifas de caminhões que perduram até hoje (são menores que as tarifas dos carros).

(v) Os reequilíbrios decorrentes da redução unilateral e dos atrasos nos reajustes anuais foram acordados em processos judiciais;

(vi) Os aditivos ao contrato de concessão da Econorte foram aprovados pelo corpo técnico do DER, por órgãos colegiados da Agência Reguladoras e validados por agentes externos, no caso do 4º aditivo pela FIA.

(vii) De acordo com o contrato de concessão da Econorte, os custos, as despesas e a rentabilidade da concessionária são riscos assumidos pela empresa. Portanto, ao contrário do que foi afirmado, os valores contratados com fornecedores da concessão não são base para discussões de reequilíbrio de tarifas por meio de aditivos contratuais;

(viii) A política vigente de contratação de partes relacionadas foi elaborada de acordo com a Lei das S.A e a sua execução, bem como a divulgação, cumprem as condições e preços de mercado seguindo os requisitos do IBGC, B3 - Novo Mercado e CVM.

(ix) Em relação ao questionamento sobre a legalidade da instalação da praça de pedágio em Jacarezinho, esclarecemos que tal praça está prevista no contrato de concessão, tendo apenas sido realocada de Cambará para Jacarezinho devido à inclusão dos trechos PR-090 e BR 153, que aumentaram a extensão administrada pela Econorte em 65,9 Km. A nova localização da praça de pedágio foi amplamente questionada pelo Juízo da Vara de Jacarezinho e, em 2008, a Econorte obteve junto ao Supremo Tribunal Federal decisão liminar favorável para manter a praça na posição atual.

(x) O aumento do fluxo de veículos de veículos a partir da alteração da localização da praça para Jacarezinho possibilitou o aumento do investimento na rodovia e ainda uma redução de 10% na tarifa cobrada na praça de Jataizinho.

A Triunfo, em decorrência da operação Integração I, realizada em fevereiro de 2018, exonerou o então Diretor Presidente da Econorte, Sr. Helio Ogama e criou um Comitê Independente para apurar os fatos relacionados às investigações do Ministério Público e tão logo as conclusões sejam alcançadas serão submetidas ao Conselho de Administração da Companhia para eventuais providências. A investigação pelo Comitê Independente ainda está em andamento.

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