Vídeo de ex-candidata do PSL infla números de supostos desvios da UFRJ

Mensagem republicada no Facebook alega que R$ 500 milhões foram 'roubados' da instituição, mas não há indícios que sustentem a acusação; única denúncia sobre o caso fala em R$ 50 milhões

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Por Paulo Roberto Netto
Atualização:

Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foto: UFRJ / Divulgação

Um vídeo feito pela jornalista Regina Villela, candidata derrotada do PSL nas últimas eleições, infla números de supostos desvios da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A mensagem tem sido republicada em meio ao debate sobre cortes de verbas nas instituições federais, mas não há indícios que sustentem a acusação. A única denúncia sobre o caso fala em desvios de cerca de R$ 50 milhões, valor inferior ao citado.

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Na mensagem, Villela afirma que "em dez anos, na UFRJ, R$ 500 milhões evaporaram". "Roubaram, no mínimo, no barato, R$ 500 milhões", afirma a jornalista, sem citar os dados da denúncia. O vídeo foi feito há um mês no contexto das eleições para a reitoria da UFRJ, mas foi republicada com cortes por outras pessoas no Facebook e já alcançou mais de 100 mil compartilhamentos.

As informações, no entanto, não encontram evidências que sustentem a acusação. O único caso relacionado a desvios na UFRJ é uma denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal do Rio contra os ex-reitores Aloísio Teixeira, já falecido, e Carlos Antonio Levi. Ambos foram acusados de desviar R$ 52,9 milhões.

O processo contra os ex-reitores se baseia em relatório de 2009 da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre dois convênios e o contrato nº 52/2007 firmados pela universidade com o Banco do Brasil. À época, Teixeira era reitor da UFRJ e Levi, pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento.

De acordo a denúncia da procuradoria, o banco estatal repassou R$ 52,9 milhões oriundos do contrato e dos convênios à universidade, que depositou o montante em conta da Fundação Universitária José Bonifácio (FUJB). A instituição também teria quitado uma "taxa administrativa" de 5% na transação, totalizando R$ 2,1 milhões.

A acusação afirma que a operação impediu que o dinheiro fosse registrado no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI), o caixa da universidade, configurando os crimes de improbidade administrativa e peculato.

Em dezembro de 2012, no entanto, a Controladoria-Geral da União inocentou Teixeira no caso. Levi, por sua vez, foi suspenso por 30 dias, pena convertida em multa de 50% de seu salário na época das denúncias.

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Na denúncia de peculato, sentença de fevereiro deste ano proferida pela juíza federal substituta Caroline Vieira Figueiredo, da 7ª Vara Federal Criminal, considerou que não era possível classificar a transferência do dinheiro para a  conta da FUJB como peculato, visto que "há de ser comprovado o efetivo desvio em benefício próprio ou de terceiros".

Por outro lado, a magistrada viu o crime no pagamento da "taxa administrativa" da Fundação, e por isso condenou o ex-reitor a quatro anos e oito meses de prisão, em regime semiaberto. Cabe recurso, e Levi responde em liberdade.

Nos autos, a defesa do ex-reitor nega a existência do crime e afirma que os recursos foram destinados à universidade.

Após a publicação da sentença, a UFRJ divulgou nota destacando a decisão da CGU sobre o caso e afirmando que "a universidade está confiante de que um exame circunstanciado em sede recursal permitirá esclarecer e justificar os atos administrativos, possibilitando melhores condições para a revisão da sentença".

Além deste caso, não há nenhum outro processo sobre desvios de verba na ordem de R$ 500 milhões, como informa o vídeo de Regina Villela.

Em nota, a UFRJ informou que "iniciou os procedimentos para abertura de processo contra a autora do vídeo em virtude de suas declarações caluniosas".

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"As declarações estimulam uma inconstitucional intervenção na instituição, além de sugerir que houve conduta criminosa por gestores", afirma a instituição. "Nos últimos anos, a UFRJ teve todas as suas contas aprovadas pelos órgãos de controle previstos na Constituição. Inexistem processos envolvendo os fantasiosos valores citados."

Em resposta ao Estadão Verifica, a jornalista Regina Villela manteve sua afirmação de que os valores foram desviados "durante uma década - a última". "Minha fonte é ex-vice-reitor e me assegurou os valores", afirmou.

Educação. Em meio ao debate sobre o corte de verbas do Ministério da Educação, boatos e desinformações sobre universidades federais se espalham pelas redes sociais. Em um deles, o Estadão Verifica checou ser falsa a notícia de que o contingenciamento teria ocorrido devido a irregularidades nas universidades.

Este conteúdo foi selecionado a partir da parceria entre o Estadão Verifica e o Facebook para desmonte de boatos na rede social.

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