Traficantes não ameaçaram eleitores para votarem em Lula na Rocinha; 164 pessoas votaram em outros candidatos

Áudio viral diz que Rocinha tem mais de 100 seções eleitorais e que moradores foram obrigados a votarem em Lula, o que é falso

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Por Clarissa Pacheco
Atualização:

É falso que traficantes armados vigiaram seções eleitorais na Rocinha, no Rio de Janeiro, obrigando os eleitores da comunidade a votarem no candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno das eleições deste ano. A informação falsa circula em um áudio e também em formato de vídeo. Leitores do Estadão Verifica pediram a checagem do material através no número de WhatsApp, (11) 97683-7490. A Polícia Militar disse que não atendeu nenhuma ocorrência do tipo no local e a Procuradoria Regional Eleitoral do Rio disse que não houve incidentes na Rocinha. O Tribunal Regional Eleitoral do Estado (TRE-RJ) também desmentiu o boato. No local, 164 pessoas votaram em outros candidatos.

 Foto: Estadão

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No áudio, uma pessoa com a voz masculina diz que, no morro da Rocinha, há traficantes armados dentro das zonas eleitorais, em frente às urnas, obrigando os moradores a votarem "no 13". O relato se baseia, supostamente, na história de um porteiro, que havia deixado o posto para ir votar e, na volta, contou ao colega que não conseguiu votar em Jair Bolsonaro (PL): "Pô, mas quem dera eu pudesse votar no Bolsonaro, parceiro. Lá no morro, aqui na Rocinha, tem mais de 100 zona eleitoral (sic), parceiro. Cada uma tem um traficante olhando pro morador e mandando votar no 13, quem não votar no 13 morre", diz a voz no áudio.

O autor do conteúdo acrescenta que há milhões de moradores nas favelas do Rio de Janeiro e que isso está se repetindo não apenas na Rocinha, que fica na Zona Sul do Rio, como no Morro do Turano, na Zona Norte. O Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) negou que seja verdade o conteúdo da denúncia. "A 211ª Zona Eleitoral, responsável pelos locais de votação na Rocinha, informa que não houve qualquer situação fora da normalidade nas seções eleitorais que funcionam dentro da comunidade", diz nota oficial.

Também não é verdade que existem mais de 100 zonas eleitorais na Rocinha - nem mesmo o número de seções chega a essa quantidade. A Rocinha faz parte da 211ª Zona Eleitoral e dentro da comunidade há apenas um local de votação, a Escola Municipal Luiz Paulo Horta, com cinco seções (336, 337, 338, 339 e 340). Elas somam 915 eleitores aptos a votar.

Segundo o TRE-RJ, os demais locais de votação próximos à Rocinha ficam em São Conrado: lá são dez locais de votação, com 96 seções eleitorais e 41.878 eleitores habilitados.

Votos na Rocinha

Para as eleições deste ano, duas das cinco seções que funcionam na Rocinha foram agregadas: a seção 338 foi juntada à 337, enquanto a 340 foi somada à 339. Há dados de boletins de urna, portanto, para três seções eleitorais na comunidade: 336, 337 e 339. Eles podem ser consultados no site de Resultados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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Na seção 336, havia 187 eleitores aptos a votar e 141 compareceram. Foram 103 votos para Lula (PT), 22 para Jair Bolsonaro (PL), três para Ciro Gomes (PDT) e dois para Simone Tebet (MDB), além de três votos em branco e oito nulos.

Na seção 337 - que também tinha eleitores da antiga 338 -, o candidato Lula recebeu 219 votos, Bolsonaro recebeu 50, Simone Tebet recebeu nove, Ciro Gomes ficou com oito e Léo Péricles (UP) teve um voto. Sete votos em branco e seis nulos completam os 300 eleitores que compareceram na seção - eram 413 aptos.

Já na seção 339, que agregou a seção 340, dos 315 eleitores aptos, 232 compareceram para votar. Destes, 150 votaram em Lula, 57 em Bolsonaro e nove em Ciro Gomes. Padre Kelmon (PTB), Simone Tebet e Felipe D'Ávila (Novo) receberam um voto cada. Foram quatro votos em branco e nove nulos

E quem não votou em Lula?

De acordo com o áudio viral, havia traficantes armados em frente às urnas eletrônicas na Rocinha obrigando os eleitores a votarem no candidato petista. Do contrário, diz o áudio, o eleitor morreria. Isso significa que, dos 673 eleitores que votaram nas seções eleitorais da Rocinha, 164 teriam ignorado a ameaça dos traficantes e se arriscado a morrer, votando em outros candidatos.

Dos eleitores que não votaram em Lula, 129 votaram em Jair Bolsonaro, 20 votaram em Ciro Gomes, 12 votaram em Simone Tebet, um votou em Léo Péricles, um em Padre Kelmon e um em Felipe D'Ávila.

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A Polícia Militar do Rio de Janeiro informou em nota que não foi acionada para nenhuma ocorrência envolvendo traficantes ameaçando eleitores na Rocinha. A Procuradoria Regional Eleitoral do Rio de Janeiro disse que "não houve registro de nenhum incidente na Rocinha".

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