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Queima de urnas eletrônicas na Venezuela alimenta teorias conspiratórias no Brasil

Sites usam declaração de Bolsonaro fora de contexto para sugerir conspiração

Por Alessandra Monnerat e Tiago Aguiar
Atualização:

Textos dos sites Gazeta Conservadora e Jornal da Cidade Online sugerem uma relação entre o incêndio de urnas eletrônicas na Venezuela e a acusação -- sem provas -- feita pelo presidente Jair Bolsonaro de que houve fraude nas eleições presidenciais de 2018. O incêndio ocorreu no sábado, 7, antes da declaração do presidente, feita na segunda-feira, 9.

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Não há nenhuma relação entre os dois fatos. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informou, por meio de nota, que nunca emprestou urnas para a Venezuela. Após a declaração de Bolsonaro, o TSE já havia se manifestado reafirmando a confiabilidade e segurança do sistema eletrônico de votação e a auditabilidade de eventuais denúncias e suspeitas. Não há caso de fraude comprovado desde o início do uso das urnas eletrônicas.

Quase todas as máquinas de votação da Venezuela foram queimadas em um incêndio no sábado, 7. O fogo atingiu um galpão de 6 mil metros quadrados do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e destruiu 49,9 mil máquinas de votação e milhares de outros equipamentos utilizados nas eleições.

No domingo, 8, um grupo chamado Frente Patriota Venezolano divulgou um vídeo em que reivindica a autoria do incêndio. No dia seguinte, a presidente do CNE, Tibisay Lucena, disse que a investigação sobre o caso ainda não estava concluída.

A presidente do CNE, Tibisay Lucena, durante coletiva a respeito do incêndio que destruiu urnas eletrônicas na Venezuela. Foto: EFE/ Rayner Peña

"Nesse ato (incêndio), que esperamos saber se é um ato criminoso, apenas dois dos processos foram afetados: o processo de inventário e o processo de produção de máquinas (de votação)", garantiu.

Lucena é chefe da CNE há muitos anos e é considerada alinhada com o governo chavista. Ela não respondeu a perguntas da imprensa sobre o caso.

A Agência Lupa também checou esse boato. /COM INFORMAÇÕES DAS AGÊNCIAS EFE E AFP.

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Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho. 

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