Vídeo engana ao afirmar que declarações antigas de Lula e Gleisi são 'bastidores após debate'

Áudios da presidente do PT e do ex-presidente da República foram gravados muito antes do encontro entre candidatos na TV Band, no final de agosto

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Por Victor Pinheiro
Atualização:

Após desmentir nesta sexta-feira, 2, um conteúdo que tira de contexto entrevista antiga da presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), para afirmar que o partido espera derrota depois do último debate presidencial, o Estadão Verifica identificou um novo vídeo viral que repete a estratégia enganosa com ao menos três áudios da parlamentar e do ex-presidente Lula (PT). O conteúdo, com mais de 22 mil visualizações no Facebook, também inventa diálogo entre um assessor e um motorista do partido.

O primeiro trecho do vídeo descontextualiza frases de Lula em que ele parece reclamar de desatenção de participantes em reuniões do PT. A legenda enganosa afirma que o ex-presidente estaria se queixando com seus assessores durante o debate, em referência ao programa exibido pela TV Band no domingo, 28. Um vídeo do site Metrópoles no YouTube mostra, no entanto, que as declarações do petista ocorreram em um evento com petroleiros no dia 30 de março de 2022.

 Foto: Estadão

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O material promove cortes de edição para impedir que usuários identifiquem que Lula se referia ao uso inapropriado de celulares.

"Primeiro eu queria chamar atenção de vocês para uma coisa. Eu estava aqui ouvindo os companheiros falarem e eu fiquei impressionado com a quantidade de gente no celular. Parece que a reunião aqui não estava acontecendo porque o que estava acontecendo era a reunião no celular de vocês. Isso, no diretório do PT, eu já levantei pra contar. A Gleisi estava falando e tinha 27 pessoas no celular", disse o candidato à presidência da República no áudio original.

Todos os áudios reproduzidos no vídeo são acompanhados por uma legenda, na parte superior, escrita "Bastidores pós-debate", o que insinua de forma enganosa que todas as declarações expostas ocorreram após o programa televisivo.

Gleisi fala sobre prisão de Lula, e não do debate

A postagem também tira de contexto afirmações de Gleisi Hoffmann, nas quais ela protestava contra a iminente prisão de Lula na Operação Lava-Jato, em 2018. A parlamentar afirma que a militância e os movimentos sociais não aceitariam a detenção do líder petista "mansamente" e argumenta que o julgamento do ex-presidente era uma coisa sem precedentes no Brasil.

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O conteúdo exibe a legenda "foi humilhado em rede nacional" para insinuar que o discurso de Gleisi se referia ao tratamento dado a Lula no debate, mas uma matéria do UOL permite conferir as declarações originais da deputada.

 Foto: Estadão

"O que estão fazendo com o presidente Lula é uma coisa sem precedentes neste País. E fere frontalmente a Constituição [...] Para não deixar que o setor progressista volte a governar este País, querem impedir Lula de participar das eleições, mas não querem só isso. Querem prender, porque na cabeça deles tem que humilhar", afirmou Gleisi.

O vídeo ainda falsifica o sentido das afirmações da petista ao sugerir, na transcrição exibida na tela, que Gleisi Hoffmann disse "câncer do nosso partido, a militância social, dos movimentos sociais". A parlamentar, na realidade, disse: "Não estou falando aqui, antes que questionem, que vai ter revolução. Não é nada disso. Mas a militância do nosso partido e a militância social dos movimentos que sempre lutaram ao nosso lado não vão aceitar pacificamente".

Afirmação antiga e diálogo inventado

Um terceiro áudio, já verificado pelo blog na sexta-feira, deturpa uma entrevista de Gleisi ao SBT, concedida em 2020. A legenda diz que o PT já estaria prevendo a derrota nas eleições, mas a presidente do partido fazia uma avaliação, a dois anos do pleito, sobre a polarização na corrida presidencial e a competitividade de possíveis candidatos da direita.

 Foto: Estadão

O vídeo ainda exibe um suposto diálogo entre um assessor e um motorista do ex-presidente Lula após o debate. O motorista afirma que Lula teria saído do debate chorando, entrado em um veículo junto a Gleisi Hoffmann e o deputado André Janones (Avante-MG) e ido direto para a própria casa. O conteúdo omite o nome do assessor e do motorista e não há registros do áudio em veículos de imprensa ou em fontes oficiais.

Ao sair do debate, o ex-presidente Lula falou brevemente sobre a importância do programa a jornalistas da TV Band e da Cultura, mas não concedeu entrevista em local que estava o restante da imprensa.

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A assessoria da deputada Gleisi Hoffmann afirmou ao Estadão Verifica que, na noite do programa, a parlamentar deixou a televisão acompanhada apenas do deputado André Janones (Avante-MG). "O presidente Lula não estava com eles", diz a nota. Já o PT afirmou ao blog que esta é mais uma mentira espalhada nas redes sociais.

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