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Pesquisa eleitoral que atribui 65% das intenções de voto para Bolsonaro é falsa

Perfis espalham levantamento que não existe, de um suposto instituto ‘Ibapesq’, para inflar popularidade do presidente

Foto do author Samuel Lima
Por Samuel Lima
Atualização:

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) estão compartilhando uma pesquisa eleitoral falsa de um suposto instituto "Ibapesq" para inflar a popularidade do presidente. O levantamento -- que supostamente colocaria Bolsonaro na liderança com 65% das intenções de voto e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em segundo, com 16% -- não consta na base de dados da Justiça Eleitoral. Esse registro é uma condição obrigatória nos anos em que os brasileiros vão às urnas.

 Foto: Estadão

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Além disso, os percentuais mostrados no post diferem do que mostram os principais institutos de pesquisa, como o Datafolha. Levantamento divulgado em 24 de março coloca Lula como líder na intenção de votos para presidente, com 43% da preferência dos entrevistados, seguido de Bolsonaro, com 26% (veja as informações completas nesta reportagem do Estadão). A pesquisa foi feita com 2.556 eleitores e a margem de erro é de dois pontos percentuais.

O Estadão Verifica encontrou o conteúdo circulando em redes como Twitter e TikTok e procurou o suposto levantamento do "Ibapesq" no PesqEle, página oficial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) onde as pesquisas devem ser registradas. Havia 54 cadastros na data da publicação desta checagem, mas nenhum de uma empresa com esse nome. 

Em anos eleitorais, torna-se obrigatório o registro de qualquer sondagem antes da divulgação dos resultados, pelas normas do TSE. Segundo a Resolução nº. 23.600/2019, esse registro deve conter dados básicos como nome do contratante, origem dos recursos, metodologia utilizada, período de realização da pesquisa, plano amostral, nível de confiança, margem de erro, abrangência, questionário completo e nota fiscal de serviço.

Buscas no Google também não retornam informações sobre nenhum instituto "Ibapesq", nem mesmo em páginas que compilam informações de CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas). Um dos resultados do Google nesta segunda-feira, 28 de março, é de um blog de humor fez uma piada com esse nome, dizendo se tratar de uma empresa fundada por um personagem do filme Esquadrão Classe A.

Divulgação de pesquisa fraudulenta é crime

O post checado leva a assinatura de um perfil atribuído ao cantor gospel Jopa Neves, mas ele negou a autoria quando questionado pela agência de checagem Aos Fatos. O conteúdo foi apagado depois da ligação, e a conta, excluída da rede social.

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A Lei nº 9.504/1997 estabelece que a divulgação de pesquisa fraudulenta constitui crime, punível com detenção de 6 meses a 1 ano e multa no valor de R$ 53.205,00 a R$ 106.410,00. Também é vedada a realização de enquetes em período de campanha eleitoral.

O Estadão Verifica questionou o TSE se existe alguma apuração em andamento sobre o conteúdo falso. Em nota, a Corte informou que os registros das pesquisas eleitorais são realizados pelas próprias empresas e que esses dados são públicos. "A fiscalização incumbe aos partidos/federações/coligações, aos candidatos e ao Ministério Público Eleitoral. Apenas mediante a provocação destes a Justiça Eleitoral presta sua jurisdição."

Esse boato também foi desmentido pela Lupa.


CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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