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Morte de menino de oito anos após parada cardíaca na Inglaterra não tem relação com a vacina

Autoridades de saúde declaram que não há registro de que criança tenha sido imunizada contra a covid-19; suposta relação também não foi informada em nenhum momento pela imprensa britânica

Foto do author Samuel Lima
Por Samuel Lima
Atualização:

A morte de um menino de oito anos depois de sofrer uma parada cardíaca em um centro de recreação da cidade de Walsall, na Inglaterra, não tem nenhuma relação com a vacina infantil contra a covid-19. Um post nas redes sociais de um blog governista gerou confusão recentemente, semeando desconfiança sobre a campanha de imunização das crianças de 5 a 11 anos no Brasil.

A postagem, feita pelo site Terra Brasil Notícias, acumulou mais de 4 mil curtidas no Instagram, destacando o título "Menino de 8 anos tem parada cardíaca enquanto brincava e morre". O relato é logo associado às vacinas nos comentários. "Mais uma picada cardíaca", escreve um dos seguidores da página. "Novo normal", declara outro, seguido de emojis (figurinhas) de injeção.

 Foto: Estadão

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O Estadão Verifica consultou fontes oficiais do Reino Unido e descobriu que o menino -- cujo nome não foi divulgado na imprensa, nem pelas autoridades -- nem sequer estava elegível para vacinação na data da ocorrência, em 1º de fevereiro. Ele acabou falecendo no Hospital Infantil de Birmingham depois de ser resgatado por uma ambulância em estado crítico.

"Lamentamos muito saber da morte desta criança e oferecemos nossas mais profundas condolências para a família", declarou a diretora de segurança da Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos para a Saúde (MHRA), Alison Cave. "Não temos conhecimento de nenhuma evidência no momento para sugerir que a criança estava na categoria clínica recomendada para vacinação contra a covid-19 ou que ele havia sido vacinado."

O imunizante pediátrico da Pfizer/BioNTech foi aprovado pela MHRA em 22 de dezembro de 2021, mas a campanha de vacinação na faixa etária de 5 a 11 anos teve início apenas a partir de 30 de janeiro deste ano. Nesta data, os Institutos Nacionais de Saúde (NHS) da Inglaterra autorizaram a ampliação da campanha para crianças que apresentam algum fator de risco para a doença, como diabetes, doenças cardíacas e respiratórias crônicas e imunodeprimidos. Esse grupo envolve cerca de 330 mil pessoas, segundo o jornal The Guardian.

Caso o menino tivesse sido vacinado nesse período, a parada cardíaca teria sido notificada pelo hospital de Birmingham que o atendeu como um possível evento adverso grave pós-vacinação, por meio da plataforma Coronavirus Yellow Card. Esse fato não ocorreu, de acordo com a MHRA. O Estadão buscou mais informações com o NHS, que administra a instituição, por e-mail, mas não obteve resposta até a publicação desta checagem.

Nenhuma mídia britânica que noticiou o caso mencionou a vacina contra a covid-19. A BBC, por exemplo, um dos principais veículos de imprensa do Reino Unido, relatou que um menino de oito anos teve uma parada cardíaca enquanto brincava em um centro de recreação de Walsall perto das quatro e meia da tarde, no horário local, e depois faleceu no Hospital Infantil de Birmingham. A notícia reproduz um comentário do departamento de polícia de que o óbito "não está sendo tratado como suspeito", em referência a causas externas como a segurança do empreendimento. Os tablóides Daily Mail e The Independent publicaram notícias parecidas, novamente sem mencionar vacinas.

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Outro lado

O Estadão Verifica questionou o Terra Brasil Notícias, por e-mail, em 10 de fevereiro, qual a intenção do blog com o post e se estava ciente da confusão gerada entre os seguidores. O site declarou que "nossa intenção não foi fazer a ligação da morte da criança com a vacinação, aliás em momento algum abordamos tal tema" e que o caso também foi noticiado pela revista Istoé. "Nós defendemos a vacinação como o meio mais eficaz para o combate à pandemia do COVID-19, a matéria simplesmente reproduziu uma morte trágica de uma criança, um fato que sempre choca."

"Quanto aos comentários feitos em nosso perfil no Instagram, nós não fazemos qualquer tipo de vedação pois a plataforma já tem meios para fazer a fiscalização de abusos, por isso não mantemos ingerência nem censura a qualquer seguidor, portanto, reafirmarmos nosso dever de informar com seriedade e verdade a nossos leitores", respondeu o site.

De acordo com reportagem do jornal Folha de S. Paulo, o Terra Brasil Notícias foi criado por um casal de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Ele adota um slogan parecido com a campanha do político em 2018, "Deus acima de tudo e de todos", e costuma espalhar desinformação -- já foi alvo de pelo menos 12 checagens do Estadão Verifica e do projeto Comprova.

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