Hospital Geral de Fortaleza ainda tem pacientes com covid-19 em UTI

Vídeo tirado de contexto mostra enfermeiros celebrando a reabertura do CTI para pacientes não infectados pelo novo coronavírus

PUBLICIDADE

Por Pedro Prata
Atualização:

Um vídeo de enfermeiros comemorando ao som de We Are The Champions, da banda Queen, viralizou no Facebook e acabou tirado do seu contexto original, passando a impressão de que o Hospital Geral de Fortaleza não teria mais pacientes com covid-19 em leitos de UTI. As imagens foram gravadas para celebrar a reabertura do Centro de Tratamento Intensivo (CTI) para pacientes sem a doença causada pelo novo coronavírus. O Estadão Verifica checou o vídeo após ele passar de 2 milhões de visualizações e de 9,3 mil compartilhamentos no Facebook.

PUBLICIDADE

A reportagem entrou em contato com o hospital para apurar sobre a veracidade das imagens. A assessoria de comunicação informou por telefone que o vídeo realmente foi gravado na unidade de saúde na quinta-feira, 9. Naquele dia, o hospital deixou de tratar pacientes com covid-19 em seu CTI e voltou a receber doentes com outras enfermidades. Isso não quer dizer que o hospital esteja atualmente sem pacientes graves infectados pelo novo coronavírus ou que tenha encerrado o tratamento a estas pessoas.

Para entender esta história, primeiro é preciso explicar a diferença entre a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e o Centro de Terapia Intensiva (CTI). A UTI é um leito que dispõe de todos os elementos necessários para a recuperação de pacientes em estado grave. Já o CTI é um conjunto de UTIs agrupadas no mesmo local.

Hospital Geral de Fortaleza ainda possui pacientes com covid-19 internados em leitos de UTI. Foto: Reprodução

No começo da pandemia, o hospital passou a dispor de áreas livres devido à suspensão de alguns serviços. A direção da unidade de saúde então optou por criar leitos de UTI destinados aos infectados pelo novo coronavírus nas áreas disponíveis do hospital. Isso foi feito de modo a não deslocar os pacientes sem covid-19 já internados no CTI, uma vez que eles não poderiam ficar no mesmo espaço que os pacientes com covid-19.

Posteriormente, a pandemia se agravou, e o Ceará chegou ao segundo pior cenário em número de contaminados e terceiro na quantidade de mortos do País. Com isso, o hospital tomou a decisão de deixar o CTI funcionando exclusivamente para pacientes com covid-19. No período mais crítico no Estado, a média diária de atendimento no hospital era de 80 pacientes em UTI e 400 em enfermaria, todos contaminados pelo novo coronavírus, segundo a assessoria.

O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), e o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), impuseram um sistema rígido de isolamento social na capital. Atualmente, o Estado vive uma fase de desaceleração nos novos casos da doença. Embora a pandemia ainda esteja presente, a equipe no Hospital Geral de Fortaleza viu uma diminuição no número de pacientes internados com a covid-19. Por isso, não seria mais necessário manter o CTI funcionando exclusivamente para essas pessoas. Dessa forma, elas voltaram a ser internadas em áreas montadas exclusivamente para atendimento de pacientes com o novo coronavírus, mas fora do CTI.

Foi esta conquista que os enfermeiros celebraram com o vídeo. O CTI foi esterilizado e já voltou a receber pacientes que não os da covid-19 -- nesta segunda-feira, 34 dos 38 leitos estavam ocupados. Isso não quer dizer, porém, que o hospital esteja sem pacientes infectados pelo novo coronavírus em UTI. No mesmo dia, a assessoria informou que havia 14 internados em estado grave em leitos de UTI montados em áreas fora do CTI. A equipe está de prontidão caso haja novo aumento no número de casos de infecção e o CTI volte a ser necessário para cuidar dos pacientes.

Publicidade

O HGF chegou a tratar 80 pacientes infectados pelo novo coronavírus em leitos de UTI num único dia, e 400 em leitos de enfermaria. Foto: Google Maps/Reprodução

Mortes continuam em alta

Vídeos tirados de contexto podem dar a falsa impressão de segurança e levar as pessoas a relaxar as medidas de proteção recomendadas pelas autoridades sanitárias, como o distanciamento social, o uso de máscaras e a higienização das mãos. Neste domingo, 12, a média diária de mortes nos sete dias anteriores foi de 1.036. Foi a quarta semana seguida em que a média do número de óbitos anunciados pelas secretarias estaduais de Saúde ficou acima de mil.

No final de junho, um vídeo de descontração dos funcionários da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Messejana, também em Fortaleza, foi tirado de contexto para dizer que a unidade de saúde não estaria mais tratando a covid-19 por falta de pacientes. O Estadão Verifica também já checou um vídeo que falsamente alegava a ausência de pacientes infectados pelo novo coronavírus no Hospital das Clínicas, em São Paulo.

Enquanto os primeiros epicentros da doença como São Paulo e Rio de Janeiro registram redução no avanço da doença, regiões e Estados até então com índices mais baixos veem a pandemia se agravar. O Centro-Oeste, por exemplo, quadruplicou o número de mortes no mês de junho. Já o Paraná precisou impor quarentena restritiva no final do mesmo mês para evitar colapso. O governo de Santa Catarina, por sua vez, também anunciou medidas mais duras nesta segunda-feira para incentivar o isolamento social de sua população.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Até esta terça-feira o Ministério da Saúde havia registrado 1,8 milhão de casos confirmados e 72.833 óbitos no Brasil. É o segundo país no mundo com mais mortes e infectados, atrás apenas dos Estados Unidos.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.