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Frase de Daniel Alves sobre Bolsonaro é antiga e não tem relação com a Copa América 2021

Conteúdos circulam fora de contexto nas redes e espalham que a declaração seria uma resposta ao técnico Tite, o que não é verdade

Foto do author Samuel Lima
Por Samuel Lima
Atualização:

Uma declaração do jogador de futebol Daniel Alves circula fora de contexto nas redes sociais. A frase em que o lateral-direito do São Paulo pede respeito ao presidente Jair Bolsonaro é verdadeira, mas foi dita quase dois anos atrás. Ela não tem qualquer relação com o técnico Tite ou com o anúncio recente do governo federal de que o Brasil sediaria a Copa América em junho, em meio à pandemia de covid-19.

 Foto: Estadão

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O Estadão Verifica pesquisou os principais termos do conteúdo viral no Google e chegou a duas reportagens antigas, do jornal El País e do site Lance!, contendo a declaração de Daniel Alves. O comentário ocorreu após a conquista da Copa América pelo Brasil, em 7 de julho de 2019, ao vencer a final contra o Peru, no Estádio Maracanã, no Rio de Janeiro.

O presidente Jair Bolsonaro -- que já havia desfilado no intervalo de um jogo anterior no Mineirão, em Belo Horizonte, entre vaias e aplausos da torcida -- assistiu ao jogo das tribunas e desceu ao gramado para participar da premiação. Ele posou para fotos com alguns atletas, membros da comissão técnica e dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e novamente ouviu reações mistas das arquibancadas.

Após o jogo, o lateral-direito defendeu o político. "O presidente é a maior autoridade de seu País. Como cidadão brasileiro, tenho que respeitar o presidente da República", afirmou Daniel Alves. "Se gostam ou não gostam, não é o lugar de opinar. Porque ele foi eleito pelo povo. As pessoas votaram. Ele não comprou o direito de ser presidente. Eu desejo que ele melhore nosso País, aumente a esperança dos nossos cidadãos. E que as pessoas saibam que o respeito é o princípio de tudo."

Um trecho da declaração também foi postado no perfil do canal Fox Sports, no Twitter.

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As postagens voltaram a ser compartilhadas no Facebook nesta semana, depois que o Brasil aceitou sediar a Copa América 2021, entre os dias 13 de junho e 10 de julho, nas cidades de Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ), Cuiabá (MT) e Goiânia (GO). Bolsonaro confirmou a realização do evento na terça-feira, 1º de junho, após as desistências de Colômbia (por conta de protestos sociais) e da Argentina (em razão do agravamento da pandemia). A competição já havia sido adiada no ano passado, por recomendação das autoridades públicas de saúde.

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O acerto do governo com a CBF e a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) recebeu críticas -- o Brasil é o segundo país com o maior número de mortes por covid-19 do mundo e o 11º em óbitos a cada 100 mil habitantes, de acordo com mapa da Universidade Johns Hopkins. Além disso, apresenta um cenário de contaminação acelerado hoje. Houve protestos contra a realização da Copa América no Distrito Federal. 

Atletas e comissão técnica da Seleção Brasileira também estariam insatisfeitos com a desorganização do torneio, e houve especulação sobre a possibilidade de boicote à competição sul-americana. A posição oficial está prometida para terça-feira, 8 de junho, após uma partida contra o Paraguai pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. O Brasil abre a Copa América cinco dias depois, em jogo contra a Venezuela.

Em meio ao impasse, o técnico Tite se tornou um dos principais alvos de apoiadores de Bolsonaro nas redes sociais. Em entrevistas, ele e o volante e capitão Casemiro deixaram evidente a contrariedade do grupo, mas evitaram antecipar o posicionamento. Existem informações de que o presidente afastado da CBF, Rogério Caboclo, teria prometido a demissão do técnico a Bolsonaro.

Daniel Alves, por outro lado, não faz parte do grupo atual de jogadores convocados para a Seleção. Ele foi cortado, no final de maio, quando sofreu uma lesão no joelho. Não foram encontradas declarações recentes de Daniel Alves sobre a realização da Copa América nos perfis oficiais do atleta no Twitter.


CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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