É falso que gestão Biden registre mesmo número de óbitos por covid que governo Trump

Postagem ignora período da administração republicana no mês mais mortal da pandemia nos EUA; além de estar há menos tempo na Casa Branca, democrata assumiu cargo com vacinação já em curso

PUBLICIDADE

Por Pedro Prata
Atualização:

Um post no Instagram faz uma comparação incorreta entre o número de mortes por covid-19 nos Estados Unidos sob a gestão de Donald Trump e Joe Biden. A postagem diz que "em 6 meses (de governo Biden), morreu a mesma quantidade (de pessoas) que morreu no ano passado inteiro (no governo Trump)", mas os dados oficiais não sustentam essa alegação. Na realidade, foram contabilizadas 187.215 mortes por covid-19 durante a gestão do democrata, e 410.157 sob administração do republicano.

Além disso, a comparação iguala períodos de tempo muito diferentes -- 11 meses de governo Trump e cinco de Biden -- com características distintas. A vacinação contra covid nos EUA começou em dezembro de 2020 e, quando o democrata assumiu a presidência, 14,2 milhões de americanos já haviam recebido a primeira dose de vacina, sendo que 2,1 milhões estavam completamente imunizados.

          Postagem desconsidera período da gestão republicana durante mês mais mortal da pandemia. Foto: Reprodução

PUBLICIDADE

A postagem no Instagram, que alcançou ao menos 6,6 mil interações, diz que "ano passado morreram em média 350 mil pessoas nos EUA. Só esse ano que Biden tomou posse, morreram 600 mil pessoas no total". O autor do post ainda questiona se "Biden é genocida ou a culpa é do Bolsonaro?"

De fato, os Estados Unidos perderam 345.398 vidas para a covid-19 em 2020. No entanto, considerando-se as mortes até 19 de janeiro de 2021, último dia de governo Trump, são 410.157 óbitos. Já o governo Biden contabilizou, entre 20 de janeiro e 24 de junho, data da postagem checada, 187.215 óbitos (45,6% do observado com seu antecessor). Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A publicação engana ao desconsiderar que Joe Biden só tomou posse em 20 de janeiro. Ao não dizer isso, o número de mortes atribuídas ao seu governo é inflado, uma vez que janeiro foi o mês mais mortal da pandemia nos Estados Unidos.

Estes dados são confirmados pela Universidade Johns Hopkins. Ao analisar a curva de casos e óbitos confirmados, é possível ver que o final do mandato de Trump é marcado por um aumento expressivo nos registros. Em contrapartida, Biden assume no topo da curva e depois os registros começam a cair.

Período de novembro de 2020 a fevereiro de 2021 foi o mais mortal da pandemia nos Estados Unidos. Foto: Johns Hopkins/Reprodução

Entre as principais causas apontadas para a queda no número de mortes nos EUA está a imunização. As primeiras doses começaram a ser aplicadas ainda em dezembro de 2020, mas a campanha de vacinação em massa ganhou mais tração a partir de janeiro. Um levantamento da agência internacional Associated Press com dados de óbitos em maio identificou que apenas 0,8% deles ocorreram entre pessoas totalmente vacinadas.

Publicidade

Estados Unidos já distribuíram ao menos uma dose das vacinas para grande parcela de sua população. Foto: Johns Hopkins/Reprodução


Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.