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É falso que funcionários de empresa de medição de luz sejam assaltantes

Conteúdos alegam que os dois homens estariam “batendo nas portas para falar do coronavírus"; CPFL Paulista esclarece que história é falsa e não há justificativa para esse tipo de procedimento

Foto do author Samuel Lima
Por Samuel Lima
Atualização:

Uma foto mostrando dois homens vestindo uniformes da empresa "HR", a serviço da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL Paulista), obteve grande alcance no Facebook ao afirmar que seriam criminosos aproveitando a pandemia de covid-19 para invadir residências. O boato afirma que eles estariam "batendo nas portas para falar do coronavírus", mas as pessoas não deveriam permitir a entrada porque se tratariam de "assaltantes". Até esta segunda-feira, 15, as postagens tinham alcançado mais de 39 mil compartilhamentos e 940 mil visualizações.

Postagens falsas no Facebook usam foto de funcionários de empresa de medição de energia elétrica para alegar 'assaltos' durante pandemia. Foto: Reprodução / Arte Estadão

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A história, no entanto, é falsa. Procurada pela reportagem, a CPFL Paulista esclareceu "que os colaboradores em questão são funcionários de uma empresa terceirizada que presta serviços à companhia para leitura dos medidores, e estavam devidamente identificados com crachás, uniformes, veículo com identificação da empresa e com ordem de serviço para a atividade". Não há justificativa, portanto, para que estivessem fazendo algum tipo de campanha ou ação sobre o novo coronavírus, como afirma o boato, nem existem indícios de que praticaram qualquer tipo de delito.

A distribuidora acrescenta que realiza inspeções nos medidores de energia elétrica "de forma rotineira", mas os clientes podem entrar em contato pelo número 0800 010 1010 em caso de dúvida sobre a necessidade de qualquer atendimento. A CPFL sugere que o cliente solicite o número da nota de serviço aos funcionários e confirme a informação com o atendente ao telefone. "Caso não seja possível realizar a confirmação no momento, a orientação da empresa é de que o cliente não permita a execução do serviço e não assine ou entregue qualquer documento", destacou em nota.

Em uma das postagens falsas no Facebook, a reportagem identificou o comentário de um dos homens que aparece na foto, confirmando que a história é falsa. Ele diz que acionou advogados para tomar "as medidas cabíveis" sobre o boato. "Sou um dos 'bandidos' que aparece nessa imagem. (...) Fica o alerta a quem compartilha, também incorre em crime", escreveu o homem, que mora em São José do Rio Preto (SP).

Em entrevista ao Estadão Verifica, ele relatou que a foto foi tirada em 2018, no município de Tanabi (SP), durante uma leitura de consumo de energia em estabelecimento rural da região. Enquanto o colega procurava o endereço, ele fez o registro e enviou em um grupo no aplicativo WhatsApp, dizendo que estava terminando o expediente e depois retornaria para a sua cidade.

"Como essa foto foi parar no Facebook, eu não sei. Mas quem vê logo percebe que foi uma selfie, não foi uma outra pessoa tirando a foto para dizer que são assaltantes", conta. O homem afirma que a imagem já circulou em outros dois boatos diferentes, com menos repercussão, e que a situação trouxe uma série de transtornos. "Já fui reconhecido na rua, tive que raspar a cabeça, fazer o bigode", lamenta. "Temo por mim e, mais ainda, pelo outro rapaz que está na foto comigo. Ele continua no ramo."

Por meio de nota, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirmou que não existem registros de ocorrência no estado relatando caso semelhante ao descrito nas redes sociais. De qualquer maneira, orienta a população a "somente autorizar visitas de prestadores de serviço após confirmação de todos os protocolos de identificação, incluindo ordem para execução de atividades".

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A reportagem também entrou em contato com o Grupo TCM, de Assis (SP), que responde pela empresa "H.R. Serviços de Leitura e Entrega de Contas de Energia", atualmente sob a razão social de "Lec Brasil Gestão Comercial". Porém, não houve retorno até a publicação desta matéria.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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