É falso que 'dono das urnas brasileiras' tenha sido preso nos Estados Unidos

Equipamentos de votação são desenvolvidos pela Justiça Eleitoral; empresa Smartmatic nunca forneceu urnas para o Brasil e presidente da companhia não foi preso

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Por Luiz Araújo
Atualização:

É falso que o "dono das urnas brasileiras" tenha sido preso sob suspeita de fraude eleitoral pelo FBI, o Departamento de Investigação Federal dos Estados Unidos. Um vídeo que circula no WhatsApp alega que o CEO da Smartmatic teria sido preso -- mas não há registro que a prisão tenha ocorrido e a empresa em questão não fabrica as urnas eletrônicas usadas no sistema eleitoral brasileiro.

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Leitores pediram a checagem pelo número (11) 97683-7490.

A Smartmatic é uma multinacional que de fato já prestou serviços para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entre 2012 e 2016. No entanto, a empresa nunca forneceu urnas para o Brasil, atuando somente com o aluguel de equipamentos de transmissão via satélite. Em 2020, diante de boatos que acusavam a companhia de fraude, o TSE explicou que o serviço fornecido pela Smartmatic não oferecia acesso aos dados de votação dos eleitores. "Não seria possível realizar qualquer fraude, pois os dados gerados pela urna são cifrados e assinados digitalmente", afirmou o Tribunal.

 

Diante do novo boato envolvendo a empresa, o TSE afirmou que a falsa informação de que a Smartmatic fabrica urnas eletrônicas brasileiras já foi desmentida inúmeras vezes. "Mesmo que a empresa produzisse as peças físicas do equipamento, isso também não seria um indício de irregularidade, uma vez que as partes dos sistemas confeccionadas pelo fabricante são desenvolvidas conforme especificações do Tribunal e não são integradas ao software oficial sem ampla avaliação da equipe técnica", comunicou.

Não há qualquer registro de que o presidente da Smartmatic, Antonio Mugica, tenha sido preso. Em postagens que repercutem o boato, a alegação é atribuída ao canal americano Fox News. No site oficial da rede de TV, no entanto, não há nenhuma reportagem sobre a suposta prisão.

O canal, na verdade, repercutiu denúncias sobre a Konnech, pequena empresa americana de software eleitoral que atuou nas eleições estadunidenses. O executivo-chefe da Konnech, Eugene Yu, foi preso na semana passada por conta de uma investigação sobre o possível roubo de informações pessoais de trabalhadores eleitorais. Não há nenhum registro de trabalhos realizados pela Konnech para o TSE.

Smartmatic

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Conforme já mostrado em outras verificações feitas pelo Estadão, a Smartmatic atuou em 15 eleições venezuelanas, entre 2004 e 2017. Os serviços foram suspensos após o CEO da companhia, Antonio Mugica, denunciar que a taxa de comparecimento dos eleitores anunciada pela Comissão Eleitoral nas eleições de 30 de julho daquele ano não correspondia aos números que haviam sido registrados pela empresa -- a taxa de participação teria sido inflacionada em pelo menos um milhão de eleitores. A empresa diz que já prestou serviço para 5 bilhões de eleitores na Bélgica, Noruega, Estônia, Estados Unidos, Itália, Armênia, Filipinas, Argentina e México.

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