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Empresa Smartmatic não tem acesso a programa das urnas; software é desenvolvido e gerido pela Justiça Eleitoral

Mensagem com acusação falsa de fraude nas eleições 2022 circula no WhatsApp e nas redes sociais

Por Alessandra Monnerat
Atualização:

Não é verdade que a empresa americana Smartmatic tenha acesso ao software usado nas urnas eletrônicas e não há qualquer evidência que a companhia tenha fraudado as eleições deste ano. O software -- programa eletrônico -- usado nas urnas brasileiras é desenvolvido e gerenciado pela própria Justiça Eleitoral. A Smartmatic, por sua vez, prestou serviços ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2012, 2014 e 2016. Nestas ocasiões, como mostrou esta verificação do Comprova, apenas alugou equipamentos de transmissão via satélite. "Não seria possível realizar qualquer fraude, pois os dados gerados pela urna são cifrados e assinados digitalmente", informou o TSE na época.

Mensagem que circula no WhatsApp, enviada por leitores ao número (11) 97683-7490, afirma que a Smarmatic "tem o software das urnas" e que acionaria o "algoritmo da fraude exatamente como ocorreu em 2014, 2018 e nos EUA". Segundo o texto falso, "cada vez que Bolsonaro (PL) chega perto de 50%, a máquina troca votos e passa pro Lula (PT)". "Quando chegar a 50% da apuração, o software já tem condições matemáticas de prever a distribuição final dos votos, e então aplica a virada: Lula passa a frente e o sistema se inverte", afirma a mensagem.

 Foto: Estadão

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Porém, ao contrário do que dá a entender o texto, a Smartmatic não atuou nas eleições brasileiras de 2018. Em 2014, prestou serviços não relacionados ao software das urnas eletrônicas. Como informou o TSE em 2020, "todo o projeto da urna eletrônica brasileira e do sistema eletrônico de votação foi concebido e é gerido inteiramente pela Justiça Eleitoral do País".

"A Smartmatic celebrou contratos com o TSE em outras ocasiões somente para a prestação de serviços de conexão de dados e voz, e não para o desenvolvimento ou operação da urna eletrônica", afirmou o Tribunal. "Além disso, a empresa participou da licitação para a fabricação de urnas eletrônicas para 2020, mas perdeu para a empresa Positivo".

Também naquele ano, a Smartmatic informou ao Comprova que atuou nas eleições brasileiras de 2012, 2014 e 2016, fornecendo conexão de dados e voz em Estados isolados do Brasil. Em 2012, a companhia também atuou no suporte da eleição, com serviços como a manutenção das baterias das urnas eleitorais. A empresa diz que não tem nenhum contrato com o TSE desde 2016 e que nunca forneceu softwares ou hardwares para as urnas eletrônicas brasileiras.

Estadão Verifica pesquisou no sistema de licitações do TSE por registros de contratos com a Smartmatic, mas não encontrou nenhum acordo celebrado em 2022.

'Virada' de Lula ocorreu com mais de 50% dos votos apurados

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Um trecho da mensagem afirma que a fraude a favor do ex-presidente Lula surtiria efeito depois que fossem apurados 50% dos votos; a partir de então, o petista passaria à frente do candidato à reeleição. Mas não foi isso o que ocorreu na noite de domingo. Bolsonaro começou a apuração com vantagem e permaneceu em primeiro a maior parte do tempo. Apenas ao chegar a 73% de urnas apuradas, Lula tomou a dianteira. O ex-presidente obteve, ao final, 48% dos votos válidos, contra 43% de Bolsonaro.

Mas a "virada" não é suspeita. Ontem, os votos em vários locais da região Nordeste -- onde Lula obteve mais votos -- foram totalizados mais tarde. Em algumas seções eleitorais, longas filas adiaram o início do processo de apuração.

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