Chá com alho, gengibre e limão não cura coronavírus

Primeiro-ministro da Guiné-Bissau disse ter usado remédio caseiro e medicina convencional para se recuperar da covid-19

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Por Redação
Atualização:

Um boato que circula no Facebook afirma que uma medicação caseira feita com alho, gengibre e limão foi responsável por curar o primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Nuno Nabian, do novo coronavírus. Diversas postagens sobre o assunto contrariam as informações divulgadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e autoridades de saúde no Brasil.

As postagens acompanham um texto informando sobre a suposta cura do primeiro-ministro e uma foto do rosto ao lado dos três ingredientes.

Alho não previne contra coronavírus. Foto: Pixabay

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O primeiro-ministro foi diagnosticado no fim de abril com a covid-19. Ele se isolou em casa e seguiu as recomendações médicas. Uma semana depois, o político declarou a jornalistas que está "livre do vírus" após um teste feito na terça-feira, 5, apontar negativo para a doença, segundo informações da RTP,  empresa de comunicação pública portuguesa.

"Estou em condições de voltar ao meu trabalho e assumir as minhas muitas responsabilidades enquanto primeiro-ministro", disse Nuno Nabian.

Embora tenha afirmado ter tomado o chá caseiro até cinco vezes por dia, ele também disse ter utilizado a medicina convencional. O primeiro-ministro declarou ainda à população que a doença é real e "é preciso respeitar as orientações do Ministério da Saúde".

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), não existe nenhuma vacina ou medicamento antiviral para prevenir ou tratar a covid-19. "Atualmente, estão sendo investigadas possíveis vacinas e alguns tratamentos medicamentos específicos, com testes através de ensaios clínicos", declara a entidade em um comunicado.

As maneiras mais eficazes de proteção contra o vírus são limpar frequentemente as mãos, cobrir a boca com a parte interior do cotovelo ou lenço quando for tossir e manter uma distância de pelo menos 1 metro das pessoas que estão tossindo ou espirrando.

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Na página criada pelo Ministério da Saúde do Brasil para desmentir notícias falsas sobre saúde, as autoridades de saúde explicam que nenhum tipo de chá pode ser utilizado para substituir um tratamento adequado contra a gripe, muito menos contra o novo coronavírus. Não existem estudos científicos que atestam as receitas que circulam pelas redes sociais.

Situação do país preocupa continente africano

No último boletim divulgado pelo Centro de Operações de Emergência de Saúde (COES) de Guiné-Bissau, neste domingo, 10, 726 guineenses foram confirmados com a covid-19 e 3 pessoas morreram. Outros 26 habitantes se recuperaram da doença.

O médico guineense e coordenador do COES, Dionísio Cumba, pediu às autoridades políticas para isolarem a capital do país, Bissau, por ser o principal foco da infeção. Segundo Cumba,  os casos de infecção pela covid-19 vão continuar a aumentar "porque a maioria de guineenses ainda não estão levando a doença à sério".

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Assim como outros países no mundo, o governo guineense bloqueou as fronteiras, ordenou o fechamento de serviços não essenciais, incluindo restaurantes, bares e locais de culto religioso, além de proibir a circulação de transportes urbanos e pessoas entre às 7h e 14h da tarde.

Entre os países africanos que têm o português como língua oficial, a Guiné-Bissau lidera em número de infeções, mostra um levantamento da Agência Lusa. Em segundo lugar, está, a Guiné Equatorial, que já registrou 439 casos e quatro mortos; Cabo Verde tem 246 casos e duas mortes; São Tomé e Príncipe com 212 casos e cinco mortos; Moçambique notificou 91 casos e nenhuma morte e Angola registrou 43 infetados e dois mortos.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

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Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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