Não é verdade que o diagnóstico de coronavírus em mortos seja instantâneo. Postagens compartilhadas no Facebook afirmam que um teste realizado em pessoas vivas pode demorar de 10 a 20 dias para apresentar resultados, ao passo que a identificação da doença pós-óbito seria automática. Os posts sugerem que há sobrenotificação de casos de mortes pela covid-19 -- na realidade, especialistas apontam para uma subnotificação de registros.
Atualmente estão disponíveis dois tipos de teste de diagnóstico da covid-19. Um deles, o mais comum, é chamado de RT-PCR. É o exame de biologia molecular e identifica o vírus no período em que ainda está agindo no organismo. Ele é utilizado nos pacientes internados em estado grave com sintomas da covid-19 e serve, também, para realizar o exame post-mortem.
Esse exame leva de 12 a 24 horas para apresentar o resultado, disse a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica. Portanto, não é verdade que o diagnóstico seja feito de forma instantânea com pessoas mortas.
A recomendação do Ministério da Saúde é que as amostras coletadas podem ficar armazenadas por 72 horas em geladeira de 4 a 8 graus Celsius ou por tempo indeterminado em freezer a -70º C.
O Guia de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde orienta que as mortes suspeitas de coronavírus devem ser notificadas no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), independente de internação.
Guia de Vigilância Epidemiológica
Caso a colheita de material biológico não tenha sido realizada em vida, a mesma deve ser feita pós-óbito no serviço de saúde. Com ela será possível que a equipe de vigilância local faça a investigação sobre o caso e confirme se a causa da morte foi por covid-19. Essas instruções estão no guia de Manejo de Corpos no Contexto do Novo Coronavírus - Covid-19, do Ministério da Saúde.
Apesar do rápido diagnóstico, os testes são limitados pela capacidade dos laboratórios de realizá-los. Por isso, o diagnóstico pode demorar alguns dias a mais para ficarem prontos. Novamente, não é possível afirmar que o resultado saia de forma instantânea.
Há ainda um segundo tipo de testes imunológicos, conhecidos como 'testes rápidos', que identificam a presença de anticorpos nas amostras coletadas. Como o nome diz, eles demoram cerca de 15 a 30 minutos para darem um resultado, segundo o Ministério da Saúde. Contudo, eles só podem ser aplicados após o sétimo dia de início dos sintomas. Por isso, os testes rápidos são recomendados apenas para profissionais da saúde e aqueles que estão na linha de frente do atendimento à população, como policiais e bombeiros.
Mortes
Publicações com notícias falsas questionam o diagnóstico de pessoas com covid-19 para levantar dúvidas sobre a real dimensão da pandemia. Em março, bolsonaristas distorceram um decreto do governador de São Paulo, João Doria, para dar a impressão de que ele estaria inflando os registros de mortes pelo novo coronavírus para desestabilizar o governo federal.
Os boatos diziam que Doria teria determinado que qualquer óbito fosse registrado como decorrente de covid-19. O governador se explicou no Facebook: "100% dos óbitos contabilizados por coronavírus passam por testes. O decreto publicado permite que qualquer médico no Estado de SP ateste óbitos no local."
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.