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PSOL e deputados do PT protocolam ação em que pedem a cassação do mandato de Cunha

Representação, com apoio de 46 deputados, dos quais 32 petistas, pede a cassação do mandato do presidente da Câmara devido a investigações da Operação Lava Jato

Por Daniel de Carvalho e Daiene Cardoso
Atualização:

BRASÍLIA - O PSOL e a Rede Sustentabilidade protocolaram, nesta terça-feira, 13, no Conselho de Ética da Câmara uma representação contra o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por quebra de decoro parlamentar. Dos 46 parlamentares que assinaram o apoiamento ao início da ação parlamentar, 32 são do PT.

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É a primeira representação em 2015 no Conselho de Ética contra um investigado na Operação Lava Jato. A representação defende que Cunha mentiu à CPI da Petrobrás ao negar que tivesse contas ocultas no exterior e pede a cassação do mandato parlamentar. "É patético que na República brasileira tenhamos na presidência um parlamentar com um conjunto de ações robustíssimas de tal monta e que parte da Casa não reaja", disse o líder do PSOL na Câmara, Chico Alencar (RJ).

A representação será encaminhada à Secretaria-Geral da Mesa Diretora, que terá três dias para devolvê-lo ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Em seguida, o colegiado sorteará três membros do conselho e um deles será escolhido pelo presidente José Carlos Araújo (PSD-BA) como relator do processo.

Deputados Alessandro Molon (Rede-RJ) e Chico Alencar (PSOL-RJ) entregam pedido de cassação de Cunha a presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PSD-BA) Foto: André Dusek/Estadão

O parlamentar já avisou que não vai escolher o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) como relator porque ele disputou a presidência da Casa com Cunha. "Não quero que pairem dúvidas sobre a escolha do relator. Quero preservar o Júlio Delgado", justificou o presidente do Conselho de Ética.

A representação foi protocolada em uma reunião concorrida, com a presença de deputados que apoiaram o início do processo e membros do Conselho. Araújo avisou que dará andamento à ação contra Cunha. "Neste Conselho não haverá procrastinação", disse.

Ironia. Eduardo Cunha reagiu com ironia à pressão que vem sofrendo dos opositores para que deixe o cargo. "Acho que vão ter de me aturar um pouquinho mais", respondeu, quando abordado sobre os pedidos para que saia da presidência da Casa.

Cunha afirmou estar "firme" e "tranquilo" e negou que ser alvo de pressão. "Quando houve a instauração do inquérito, o PSOL pediu meu afastamento. Quando houve depoimento de delator, o PSOL pediu meu afastamento. Quando houve pedido de denúncia, o PSOL pediu meu afastamento. Por que não pediria agora? Já entrou na Corregedoria duas vezes. É da política. São os meus adversários políticos. É normal. Estou aqui firme", afirmou Cunha. "Estou absolutamente tranquilo", disse o presidente da Câmara.

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Durante a tarde, ele abriu a sessão de votação do plenário da Câmara para votar os destaques da Medida Provisória 678 - que estende o Regime Diferenciado de Contratações (RDC) para a área de segurança pública - ignorando as manifestações de parlamentares do PSOL."Eduardo Cunha não tem mais qualquer condição de presidir a presidência da Casa", disse em plenário o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ). Chico Alencar pediu no plenário que mais parlamentares apoiem o processo por quebra de decoro. "Deputados, manifestem-se", apelou Alencar.Cunha não fez nenhum comentário sobre as manifestações dos colegas na sessão e seguiu a votação. 

Na semana passada, a Procuradoria Geral da República (PGR) confirmou ao PSOL que Eduardo Cunha é dono de contas na Suíça que foram bloqueadas pelas autoridades do país europeu. Ele teria utilizado empresas de fachada para abrir quatro contas no banco Julius Baer, que chegaram a ter US$ 5 milhões. Investigados na Lava Jato que firmaram delação premiada apontaram o presidente da Câmara como beneficiário de propina envolvendo contratos da Petrobrás de aluguel de navios-sonda e de compra de um campo de exploração de petróleo em Benin, na África.

O deputado nega as acusações. Em depoimento à CPI da Petrobrás, ele afirmou não ter contas bancárias além daquelas declaradas em seu Imposto de Renda. Cunha foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal. As novas informações sobre as contas na Suíça podem dar origem a novas denúncias contra ele no STF. 

Oposição. No Senado, o presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), foi cobrado em plenário por senadores do PT por silenciar-se diante das denúncias que envolvem Cunha. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e outros parlamentares petistas questionaram o tucano sobre informação de que a oposição teria feito uma aliança com o presidente da Câmara para não cobrá-lo em relação às acusações de que ele mantém contas no exterior não declaradas.

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Segundo Aécio, caberá ao presidente da Câmara se defender das "gravíssimas acusações" que recaem sobre ele. Mas fez questão de rebater os petistas ao destacar que eles buscam desviar o foco do que é essencial, as acusações que podem levar Dilma ao impeachment. "Em relação à nossa aliança com Cunha, já dissemos isso de forma clara. As oposições já se manifestaram inclusive pelo seu afastamento. Agora é fundamental que o foco principal dessas denúncias não se perca. E o foco é o governo do PT", disse.

Questionado se a nota divulgada no sábado, 10, em que líderes da oposição na Câmara pediram o afastamento de Cunha foi previamente combinada com o presidente da Câmara, Aécio respondeu não ter conhecimento disso. Afirmou que a nota feita pelos líderes da Câmara está valendo. "É um sentimento majoritário nas oposições em relação à gravidade das denúncias que recaem sobre o presidente da Câmara dos Deputados", disse. "O que não vamos é cair na armadilha de retirar o foco central do que o Brasil vive hoje: a corrupção institucionalizada pelo PT que teve inúmeros beneficiários no PT e nos seus aliados", criticou.

Fora Cunha. Em São Paulo, pouco mais de uma centena de pessoas ligadas à Central Única dos Trabalhadores (CUT) entoavam, nesta terça, gritos de "Fora, Cunha" e de "Não vai ter golpe". Os militantes participam de congresso da CUT, realizado na capital paulista. A presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula e o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica falarão na abertura do evento, daqui a pouco. 

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A hashtah #ForaCunha alcançou o primeiro lugar nos Trending Topics nacionais do Twitter na tarde desta terça. O assunto também é o quinto mais comentado em nível mundial na rede. O "twittaço" foi convocado pelo PSOL. Na semana passada, após a Procuradoria-Geral da República confirmar que ele e seus familiares possuem contas na Suíça que teriam sido utilizadas para pagar despesas pessoais dele e de seus parentes, o perfil do peemedebista no Facebook foi alvo de uma avalanche de perguntas sobre o dinheiro no exterior. / COLABORARAM RICARDO BRITO, RICARDO GALHARDO E MATEUS COUTINHO

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