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Alckmin sofre críticas da ‘bancada da bala’ de SP

Descontentamento, inclusive de aliados do governador, tem como foco principal o valor do salário pago aos policiais no Estado

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Por Adriana Ferraz
Atualização:

Sem conceder aumento a policiais há quase quatro anos, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), enfrenta o descontentamento das duas corporações – a Civil e a Militar – e críticas de representantes da "bancada da bala" na Assembleia Legislativa, formada por deputados da base aliada. Para tentar contornar a crise interna, Alckmin enviou à Casa no início deste ano um projeto de de lei que propõe reajuste de 4%, o que, na prática, complicou ainda mais a relação com a bancada, que reúne três dos cinco parlamentares mais votados em 2014. 

Tucanos como o ex-presidente da Assembleia Fernando Capez e o Coronel Telhada negociam deixar o PSDB. O primeiro conversa com o PSB, partido do vice-governador Márcio França, que assumirá o governo em abril, e o segundo vai se filiar ao PP no dia 17.

Outdoor na Rodovia Ayrton Senna bancado pelo Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) com críticas ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

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“A condução da segurança pública pelos governos do PSDB é desastrosa. O governador não sabe valorizar os policiais, aliás, todo o funcionalismo. É por isso que estou saindo do partido, não vou mais insistir”, diz Telhada. O convite para o coronel trocar o PSDB pelo PP foi feito pelo deputado Delegado Olim, que exige ao menos  7% de aumento.

+++Intervenção faz Alckmin reforçar tema da segurança

O deputado classificou como “ridículo” o valor do salário pago ao policial de São Paulo. “A sorte do governador é que a polícia paulista é muito boa, trabalha direito, não faz greve. Mas daí a dizer que está tudo uma maravilha é forçar a barra”, disse. O salário inicial de um PM de São Paulo é inferior a R$ 3 mil, um dos mais baixos do País. 

Representante da Polícia Civil no Legislativo, Olim afirma que as delegacias estão sucateadas, que faltam delegados e escrivães para atender a população e investigar os crimes registrados. “Isso sem falar no déficit de policiais (de 29%, segundo o sindicato da categoria). Agora, na comparação com os outros Estados, com o Rio, parece tudo ótimo mesmo. Mas só parece.”

Coronel Camilo (PSD), que chefiou a Polícia Militar entre 2009 e 2012, também compõe o grupo dos insatisfeitos, mas diz que nem tudo é ruim na gestão atual. “Há prós e contras. Na minha avaliação, o governador fez uma boa gestão. Investiu em tecnologia e armamento, não contingenciou recursos, ampliou as bases militares no Estado, baixou os índices de criminalidade. Mas deixou a desejar no item mais importante: o policial. Além de não reajustar os salários, ainda diminuiu o efetivo ao não realizar concursos nem nomeações”, afirmou.

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+++'Me considero mais amadurecido que em 2006', diz Alckmin

Outdoors. Às vésperas do início da campanha, o sindicato dos delegados do Estado ainda inicia um movimento interno contra o governador. Segundo a presidente da entidade, Raquel Kobashi Gallinati, os policiais civis não cogitam greve, mas vão pressionar Alckmin  – outdoors já foram espalhados por cinco rodovias que chegam à capital questionando as políticas do  tucano.

E a lista de preocupações ainda inclui o uso eleitoral, pelos adversários, do fato de a maior organização criminal do País, o PCC, ter surgido e se disseminado pelo Brasil e até pelo exterior durante os governos tucanos. E foi em 2006, ano em que Alckmin disputou o Planalto pela primeira vez, que a facção coordenou uma ação orquestrada de ataques a bases policiais e agentes de segurança do Estado. A "guerra" provocou mais de 500 mortes, de ambos os lados.

Para o coronel José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de Segurança, Alckmin falhou ao não valorizar o policial ao longo de seus governos à frente do Estado. “Isso todo mundo concorda. Mas também há de se concordar que os números de São Paulo no combate à violência são impressionantemente positivos, de nível internacional. Esse certamente é um trunfo.”

Taxas. Em nota, a Secretaria da Segurança Pública ressaltou que além de reduzir as taxas de homicídio ao índice mais baixo da série histórica, as polícias de São Paulo também prenderam 207.967 pessoas e apreenderam 15.597 armas em 2017.

"As ações desenvolvidas no ano passado ainda fizeram com que os latrocínios diminuíssem 5,11%, os roubos 5.99% e os roubos a banco 29,20%, chegando à menor quantidade em 17 anos. O trabalho é constante e diuturno.

Com relação ao reajuste, a pasta ressalta que continuará dialogando com as entidades de classes e acompanhado a arrecadação do Estado em conjunto com as áreas técnicas do governo. "Paralelamente aos vencimentos, pagos rigorosamente em dia, o governo criou também o Programa de Metas e de Bonificação Policial que, de acordo com metas e parâmetros definidos em parceria com o Instituto Sou da Paz, tem como principal objetivo premiar o esforço dos policiais na redução da criminalidade. Desde 2014, quando teve início o programa de bonificação, foram efetuados 520.673 pagamentos, totalizando R$ 417,6 milhões."

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Outro dado positivo que a secretaria destaca é que em São Paulo todo policial tem colete e pistola própria. O equipamento é pessoal e pode ser levado para casa após o turno – no Rio, por exemplo, os policiais são obrigados a devolvê-lo.